O Estado de S. Paulo
Aposta do Brasil: Putin não invadirá a Ucrânia, porque ganha com pressão e perderia com guerra
Na avaliação – ou aposta – do governo
brasileiro, incluídos embaixadores e generais, o presidente Vladimir Putin tem
claros objetivos externos e internos para esticar a corda, mas não chegará ao
ponto de invadir a Ucrânia. Ele ganha com a pressão, mas perderia muito com a
guerra.
Caem chuvas e trovoadas, aumenta o risco de a Rússia invadir a Ucrânia em dias, ou horas, e EUA, Japão, Reino Unido, Holanda e Coreia do Sul pedem que seus cidadãos saiam imediatamente de território ucraniano. Mas a viagem do presidente Jair Bolsonaro está firme e forte amanhã, e não há nenhum pedido para que brasileiros saiam do alvo.
Planalto e Itamaraty têm uma leitura mais
branda do que fazem a mídia internacional e os demais governos dos comunicados
em que Joe Biden admite que a Rússia “poderá”, não que “irá” invadir a Ucrânia.
O Brasil aposta num recuo, sobretudo porque Biden e Putin continuavam
conversando ontem. A ver.
Nos “papers” e reuniões de governo, Putin
não é só um troglodita impulsivo. Vem da inteligência russa, é estratégico e
obcecado com “Russia first” e “Russia great again” – ao estilo Trump – e tem
razão em reagir à OTAN nas suas fronteiras, após os traumas históricos:
invasões viking, mongol, polonesa e investidas de Napoleão e Hitler.
Gorbachev e Yeltsin deixaram o país em
frangalhos e Putin, com mãos de ferro, pôs a economia nos eixos, investiu em
segurança alimentar, tropas e armamento e acha que chegou a hora de recuperar o
lugar entre os grandes, além de acalentar a alma imperial da sociedade russa,
que vem desde sempre, passou pela União Soviética e deixou um rastro de
saudosismo.
Ao ameaçar com a invasão, a Rússia recupera
ares de potência política: rival à altura dos EUA, conquista apoio da China,
mobiliza a Europa e atrai líderes de França e Alemanha a Moscou. Se partir para
a guerra, Putin jogará todos os ganhos fora. Guerra é guerra. Nesse contexto,
ele dará ouvidos aos interesses do Brasil, ou usará Bolsonaro para reforçar os
Brics como contraponto aos EUA e demonstrar que seu raio de ação inclui o
“quintal de Washington”?
O Brasil fez nota simpática sobre os 30 anos de relações diplomáticas com a Ucrânia, mas os vexames já começaram. Depois da mesa de quatro metros para o francês Macron, quantos metros terá a de Putin e Bolsonaro, que nem vacinado é? Ele fará os cinco testes de Covid exigidos pela Rússia? Qual a comitiva, reduzida a pedido de Moscou? Aliás, Mário Frias, que gastou R$ 80 mil com um assessor para ir aos EUA, faria um tour por Rússia, Hungria e Polônia com cinco subordinados. Para que? Tem lutadores de jiu-jítsu cultural por lá?
2 comentários:
Mário Frias com cinco subordinados na Rússia,meu pai!
Parece que Mário Frias não vai mais,valeu meu ponto de exclamação.
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