O Estado de S. Paulo
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos
Estados Unidos) não é a única autoridade global que enfrenta crises de
prioridades.
Nesta quarta-feira, 27, aumentou os juros
em mais 0,75 ponto porcentual, para o intervalo de 2,25% a 2,50% ao ano – o maior patamar desde dezembro de 2018, dando a entender que seu
principal objetivo é atacar a inflação. Mas não chega a convencer.
Durante meses os dirigentes do Fed passaram o recado de que a inflação era temporária e que recuaria por si só. Foi quando deram força ao ataque à recessão, risco que vinha sendo alimentado pela covid-19 e pela desarticulação dos fluxos de produção e distribuição.
A vacilação e, principalmente, a omissão do
Fed permitiram que a inflação dos Estados Unidos chegasse, em junho, aos 9,1%
ao ano – padrão de economias fracas.
Mas, apesar do novo aperto, o Fed não passa
firmeza. Embora afirme que será inclemente contra a inflação, emite sinais de
que teme que o tranco dos juros leve à recessão. Seu presidente, Jerome Powell,
não pensa e não age como pensou e agiu Paul Volcker, no início dos anos 80,
quando não titubeou em eleger a inflação como único inimigo a combater e atirou
os juros para 21% ao ano. Produziu recessão braba, mas asfixiou a inflação e
salvou a economia do desastre.
A confusão na escolha de prioridades não é
prerrogativa do Fed. No mundo inteiro esta geração de lideranças fracas hesita
nas suas escolhas. Na sua política econômica, o presidente Biden foi outro que
entendeu que o perigo maior era a recessão. Despejou US$ 1,9 trilhão na
economia. A inflação que se seguiu não foi apenas consequência do aumento dos
custos do petróleo, dos alimentos e da logística. Teve a ver com essa injeção
pródiga de dinheiro. Agora que a disparada do custo de vida vai esmerilhando
sua popularidade, Biden passou a empurrar os Estados Unidos para maior oferta
de petróleo e de alimentos. Na geopolítica, a confusão de prioridades é
paralisante. Biden não sabe se o inimigo número um a combater é a China ou se é
a Rússia.
A Europa também vai se atolando no conflito
de objetivos. Não consegue decidir se dá prioridade ao cumprimento das metas
ambientais, num momento em que seis países ardem em chamas. Ou se dá prioridade
à segurança energética e alimentar, num momento em que a Rússia cortou a maior
parte do fornecimento de gás natural e de petróleo.
Também por lá a inflação deu salto de vara.
Acumulou em junho 8,6% em 12 meses. O Banco Central Europeu (BCE) também
demorou a acionar a política de juros. A erosão do poder aquisitivo está
levando as classes médias a apoiar movimentos e políticos antidemocráticos e
xenófobos de extrema direita na França, na Itália, na Espanha, na Hungria... e
isso parece apenas o começo.
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