Correio Braziliense
Nenhuma grande alteração na
polarização Lula versus Bolsonaro deve ocorrer até o horário eleitoral; até lá,
a prioridade dos candidatos é a consolidação dos seus palanques regionais
A confirmação da candidatura de Simone
Tebet, ontem, pela convenção nacional do MDB e da coligação que a apoia,
integrada pela federação PSDB-Cidadania, completou a fila de largada das
eleições deste ano. O cenário mantém como tendência principal a polarização
entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 44% das intenções de
voto, e o presidente Jair Bolsonaro (PL), com 35%, segundo a pesquisa XP/Ipespe
divulgada na segunda-feira. O que pode alterar esse quadro, ou consolidá-lo,
será a propaganda eleitoral de rádio e tevê, que começa em 16 de agosto.
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT), com 9%, a senadora Simone Tebet (MDB), com 4%, e André Janones (Avante), com 2%, são os candidatos mais bem posicionados para construir uma terceira via, alternativa muito difícil. Nenhum dos três, até agora, definiu o vice. Simone contava com o apoio do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), mas o tucano histórico, mais uma vez, movimenta-se em função da política do Ceará. A senadora Eliziane Gama (Cidadania-AM) pleiteia a vaga. Pablo Marçal (Pros) e Luiz Felipe d’Avila (Novo) têm 1%. Vera Lúcia (PSTU), Sofia Manzano (PCB), Luciano Bivar (União Brasil), Eymael (DC) e Leonardo Péricles (UP) completam a fila de largada, com menos de 1% cada.
Votos nulos ou que não votariam em nenhum
dos candidatos somam 4%. Não sabem/não responderam representam apenas 2% dos
entrevistados, o que indica um cenário de grande participação eleitoral. Ontem,
o Datafolha divulgou uma pesquisa entre jovens eleitores, que confirmou o que
já se previa: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem a preferência
no eleitorado adolescente e jovem nas 12 maiores capitais do país, com 51%.
Jair Bolsonaro (PL) tem 20%. Depois, vem Ciro, com 12%. São jovens de São
Paulo, Rio, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Recife, Porto Alegre,
Curitiba, Goiânia, Brasília, Manaus e Belém. A margem de erro é de três pontos
para mais ou para menos. A pesquisa eleitoral completa do DataFolha sobre as
eleições presidenciais deve ser divulgada hoje.
Nenhuma grande alteração no quadro deve
ocorrer até o horário eleitoral, pois a prioridade dos candidatos agora é a
articulação dos palanques regionais, resolvendo conflitos e recolhendo
náufragos das alianças. Como o registro das candidaturas deve ocorrer até 5 de
agosto, muita água vai rolar ainda nos estados, e os candidatos terão de
conciliar as articulações de campanha com a própria movimentação eleitoral.
Lula passa a ter a segurança sob responsabilidade da Polícia Federal. Como
ex-presidente, já tinha esse direito, mas, agora, o esquema será reforçado em
razão dos riscos de atentado.
Regras do jogo
Bolsonaro passa à desvantagem de ter que se
comportar de acordo com as regras eleitorais, ou seja, será tratado como os
demais candidatos, estando sujeito a punições toda vez que sair das regras do
jogo. Como está em guerra com o Supremo Tribunal Federal (STF), pode ser que
queira esticar a corda, para passar por vítima e ilustrar a narrativa de que
não existe imparcialidade da Corte. Entretanto, essa postura aumenta seu risco
eleitoral, porque a opinião pública confia na Justiça Eleitoral, e isso gera
grandes desgastes políticos.
Por exemplo, o manifesto em defesa do
Estado de direito organizado por juristas e estudantes da tradicional Faculdade
de Direito do Largo do São Francisco (USP), berço da elite política e jurídica
paulista, com apoio de empresários, intelectuais e artistas, subscrito por três
mil personalidades, em 24 horas obteve a adesão de mais de 100 mil
representantes da sociedade civil. Entre os signatários estão os ex-ministros
do STF Carlos Ayres Britto, Carlos Velloso, Celso de Mello, Cezar Peluso, Ellen
Gracie, Eros Grau, Marco Aurélio Mello, Sepúlveda Pertence, Sydney Sanches,
além de artistas, intelectuais, executivos, empresários e até banqueiros. É o
tipo de fato político que pode impactar negativamente a candidatura de
Bolsonaro em que ela é mais forte: os eleitores com renda acima de 10 salários
mínimos.
No rastro do encontro com diplomatas no qual levantou suspeitas sobre a urna eletrônica e atacou a Justiça Eleitoral, Bolsonaro vive, também, a rebordosa da reação negativa da comunidade internacional. A mais importante foi o pronunciamento do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, na terça-feira, durante a 15ª Conferência de Ministros da Defesa das Américas, em Brasília: “Os nossos países não estão ligados apenas pela geografia. Também somos atraídos pelos interesses e valores em comum, pelo nosso profundo respeito pelos direitos humanos e pela dignidade humana, pelo nosso compromisso com o Estado de direito e por nossa devoção à democracia”, disse.
Um comentário:
É o mundo civilizado contra Bolsonaro,uma pena que ele ainda é apoiado por tanta gente.
Postar um comentário