Correio Braziliense
Faltando poucas semanas para as eleições, não se veem propostas dos candidatos para salvar o agronegócio de três ameaças que sofrerá no futuro. A primeira é a ameaça ecológica. O agronegócio não sobreviverá às mudanças climáticas que ele ajuda a provocar. A destruição das florestas fatalmente afetará a produção da agricultura local, por isso a necessidade de regras para conservar as matas é indispensável para o agronegócio. Além disso, os impactos do desflorestamento afetam o clima em escala planetária, provocando consequências desestabilizadoras de todo o sistema agrícola: o agronegócio brasileiro não ficará imune. Muitos produtores, com lógica imediatista, ignorando filhos, netos e o Brasil, não veem a conservação florestal como parte da produção agrícola. No máximo, limitam as preocupações às matas dentro de sua propriedade.
Há candidatos que não se preocupam com o
equilíbrio ecológico, outros que usam a agenda ecológica em oposição à produção
agrícola. Alguns candidatos movidos por preconceitos ideológicos consideram o
agronegócio como adversário porque não fazem as contas para saberem o que
aconteceria na economia se não tivéssemos o agro. Outros não veem qualquer
problema ecológico no Brasil, dizem que se europeus já queimaram suas florestas
no passado, temos direito de queimar as nossas, agora, no século 21. Precisamos
salvar o agronegócio, trazendo-o para o longo prazo, mesmo que isso exija
sacrifícios no imediato. O novo governo deve ser defensor das florestas do
mundo, inclusive da Amazônia, para salvar o agronegócio, negociando com
empresários para convencê-los a defender os interesses nacionais no longo
prazo. Propondo uma governança mundial para todas as florestas, inclusive as
nossas.
A segunda ameaça ao agronegócio vem do
boicote que se arma no mundo contra a importação de produtos brasileiros. Ao
mesmo tempo que tomará medidas protetoras do meio ambiente, o próximo governo
tem de ser capaz de usar a diplomacia para evitar o desastre que desabará sobre
a economia brasileira quando, em defesa da saúde da Terra, compradores se
negarem a comprar nossos produtos. A coincidência do terrível verão que os
europeus enfrentam com sucessivos recordes de destruição da Amazônia levará,
certamente, à pressão para suspensão de compra de nossos produtos. Há 180 anos,
por razões morais e econômicas, os ingleses proibiram o tráfico de escravos.
Inicialmente, nossos escravocratas usaram o conceito de soberania para
justificar a continuação do tráfico. O bom senso prevaleceu e o Brasil fez a
própria lei proibindo o tráfico, os fazendeiros escravocratas diminuíram
lucros, mas mantiveram a demanda por açúcar. Para os europeus de hoje, a
queimada da Amazônia é vista como barbárie brasileira, do tipo da escravidão no
século 19. O agronegócio do século 21 precisa lembrar dos escravocratas do
final do século 20.
O terceiro salvamento do agronegócio tem a
ver com o óbvio esgotamento dele no médio e longo prazo, devido a mudanças
tecnológicas, geopolíticas e ambientais. Muitos não querem ver, mas aconteceu
no passado. As riquezas do açúcar e do algodão se esgotaram no Nordeste, quando
a produção foi levada para o Caribe e para o sul dos Estados Unidos; a imensa
riqueza da borracha se esgotou no norte, quando seringueiras foram levadas para
a Malásia, e quando a borracha sintética foi inventada. São Paulo evitou a
debacle do café, graças à preparação para o momento seguinte, da
industrialização. Empresários lúcidos e governantes comprometidos permitiram ao
Estado dar o salto para implantar o parque industrial, usando o capital acumulado
antes da crise de 1929.
O Centro-Oeste precisa se preparar para o
futuro, quando a China produzir soja e carne na África, na metade da distância
para seus centros consumidores, ou até mesmo na Sibéria Russa, levando produtos
de trem para Pequim. Ou quando eles forem produzidos sinteticamente. O próximo
governo precisa salvar o agronegócio, preparando-o para os novos tempos da
economia do conhecimento. Assim como foi feito em São Paulo ao passar da
cafeicultura para a indústria mecânica. O Centro-Oeste deve começar sua marcha
do agronegócio para a indústria do conhecimento. Para tanto, o próximo governo
precisa oferecer condições para, aliados aos empresários, formular um rumo que
faça do Centro-Oeste o nosso Vale do Silício: investir em educação de base,
universidades e centros de pesquisa, em uma estratégia para salvar o
agronegócio, mesmo depois dele, transformando-o no chipnegócio da economia do
futuro.
*Professor emérito da UnB e membro da
Comissão Internacional da Unesco para o Futuro da Educação
Um comentário:
Salvar o agro dos próprios agrotrogloditas! Missão quase impossível, pois estes apoiadores de Bolsonaro já mostram o que querem: mais destruição ambiental, menos fiscalização, maior ocupação/invasão de terras indígenas e parques, menos conscientização! Quando os compradores rejeitarem seus produtos, vão se sentir perseguidos. Um sujeito que acredita em Bolsonaro já demonstra a miudeza da sua capacidade cerebral.
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