Valor Econômico
Governo esquerdista diz que projeto rejeitado era pior que Carta atual; direitistas veem fim de busca por novo texto
Tanto a direita quanto a esquerda chilena se
declararam ontem vitoriosas com a derrota do projeto constitucional no
referendo de domingo. Os conservadores, porque julgam ter sepultado as
aspirações dos movimentos sociais que vinham exigindo, desde 2019, uma
Constituição que substituísse a atual, promulgada pelo ditador Augusto
Pinochet. Já os esquerdistas celebraram a rejeição de um segundo processo
constituinte, cujo controle acabou sendo tomado pela direita e extrema direita.
O presidente chileno, o marxista Gabriel
Boric, disse logo após a rejeição do projeto - por 55% dos votos contra e 45% a
favor - que seu governo não tentará abrir um terceiro processo para mudar a
constituição, alegando que há outras prioridades. Ele admitiu que não foi capaz
de “canalizar as esperanças de ter uma nova constituição escrita para todos”.
Pelo contrário, disse ele, depois de dois referendos, “o país ficou polarizado,
ficou dividido”.
Por seu lado, o ultradireitista José Antonio Kast, do Partido Republicano, disse ontem que seu partido saiu “fortalecido” do referendo. “Para nós, começa uma nova etapa no Chile, que é o desafio de reconstruir os espaços eleitorais para 2025”, afirmou a partidários.
O primeiro projeto constitucional foi
rejeitado em setembro de 2022 por ser considerado “muito progressista” - após
ser elaborado por uma Assembleia eleita exclusivamente para a tarefa pouco
depois da "explosão social", como ficou conhecida a série de
violentos protestos de 2019. Já o texto rejeitado agora tinha sido redigido por
uma comissão de maioria conservadora.
“A eleição da comissão constitucional de
maio, vencida amplamente pela direita e extrema direita, inverteu a expectativa
inicial de setores de esquerda, de que a mudança da Constituição seria um
avanço”, disse o diretor do observatório eleitoral Voto Libre, Ezequiel Díaz.
“Na fase de redação do projeto rejeitado no domingo já havia sinais claros de
que ele limitaria mais direitos do que a Constituição vigente, que desde os
anos 80 sofreu mais de 70 emendas”, afirmou.
Na avaliação de alguns especialistas, o
projeto abria brechas jurídicas para, por exemplo, proibir o aborto mesmo em
casos de estupro - a interrupção da gravidez sob essa circunstância só passou a
ser passou a ser permitida no Chile em 2017.
O texto também reforçava os direitos à
propriedade privada, criava condições mais rigorosas sobre imigração e estava
pouco alinhado com a defesa do meio ambiente e com a garantia de direitos
trabalhistas.
O presidente do Partido Comunista, Lautaro
Carmona, reiterou que o partido no poder não iniciará um terceiro processo
constituinte. “Isso exige uma reforma constitucional e nossos votos não
existirão”, disse ele ao jornal chileno “La Tercera”. Ao mesmo tempo, Carmona
disse que o resultado do plebiscito não deve ser entendido como uma legitimação
da Constituição de 1980. “Que ninguém tente confundir as coisas, a votação foi
contra o projeto, não a favor da Constituição de Pinochet”, afirmou o líder
político.
“Todo este processo tem sido um desperdício
de dinheiro do governo... é uma piada”, disse à Associated Press a funcionária
pública Johanna Anríquez - que votou contra o projeto de Constituição,
chamando-a de “muito extremista”.
“Vamos manter o que temos e, por favor, continuemos com o trabalho de garantir a segurança pública e outras coisas importantes”, disse Anríquez.
Um comentário:
Quando a esquerda e a direita se unem é porque o trem tá feio mesmo,rs.
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