Valor Econômico
Candidatura do filho de Bolsonaro enfrenta
resistência na direita e no centro e deve levar à pulverização de nomes para
2026
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sinalizou na segunda-feira (8) apoio à pré-candidatura presidencial de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em 2026, mas disse ser cedo para avaliar se a estratégia é a mais correta. O governador avaliou que o senador se soma a outros nomes da oposição como opções, como os governadores Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União-GO) e Ratinho Junior (PSD-PR).
“O [ex] presidente Bolsonaro é uma pessoa que eu respeito muito. Sempre disse que eu ia ser leal ao Bolsonaro, que eu sou grato ao Bolsonaro. Tenho essa lealdade, é inegociável”, disse Tarcísio. “O Flávio disse da escolha que o Bolsonaro fez pelo nome dele, e é isso. O Flávio vai contar com a gente. O Flávio tem uma grande responsabilidade a partir de agora. Ele se junta a outros grandes nomes da oposição, que já colocaram seus nomes à disposição”, afirmou o governador, depois de participar de um evento da gestão em Diadema (SP).
Questionado se a estratégia em torno do
senador era boa, ele afirmou que o campo político ainda tem tempo. “Isso a
gente vai avaliar ao longo do tempo. Acho que está cedo, a gente tem tempo de
maturação.”
Com o lançamento de Flávio, Tarcísio deve
reiterar sua pré-candidatura à reeleição no Estado. Segundo aliados, o
governador só disputaria a Presidência com aval e apoio do clã Bolsonaro.
Apesar do alinhamento demonstrado por
Tarcísio com Jair Bolsonaro, dirigentes de partidos da direita e do centro
intensificaram as articulações para lançar candidatos presidenciais, na disputa
contra Flávio pelos votos do mesmo campo político.
O PSD retomou a negociação em torno da
pré-candidatura à Presidência do governador do Paraná, Ratinho Junior. O
comando nacional do partido afirmou que sua diretriz é ter candidato próprio em
2026, com uma única ressalva: se Tarcísio for candidato, a legenda desistirá da
candidatura para apoiá-lo.
Nas pesquisas de intenção de voto, Ratinho
Junior está entre os nomes mais competitivos. O governador tem uma das menores
taxas de conhecimento e de rejeição, o que é visto por consultores do partido
como pontos positivos, com potencial para ampliar as intenções de voto. Outro
ponto destacado por dirigentes do PSD é o fato de Ratinho Junior não ter
vínculo direto com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), preso por tentativa de
golpe de Estado e condenado a 27 anos e 3 meses de prisão. Diferentemente de
Tarcísio, Ratinho não foi ministro de Bolsonaro nem foi eleito vinculado ao
apoio do ex-presidente.
Lideranças do PSD avaliam ainda que, em um
cenário sem Tarcísio, Ratinho Junior seria o único nome que poderia atrair mais
partidos do Centrão, como o PP e o Republicanos, que resistem a apoiar alguém
da família Bolsonaro.
Na segunda-feira, o presidente nacional do
PP, senador Ciro Nogueira (PI), questionou a viabilidade eleitoral de Flávio e
citou o governador do Paraná como “nome nacional”. “Depois do governador
Tarcísio, é o melhor nome nas pesquisas por conta da rejeição, do baixo
conhecimento”, disse Ciro.
Segundo estrategistas do PSD, Ratinho Junior
só deve se apresentar como pré-candidato entre fevereiro ou março, perto do
prazo final para desincompatibilização do cargo para disputar a Presidência,
que termina no início de abril, seis meses antes das eleições. A ideia é evitar
desgastes antes do início da pré-campanha. No comando do PSD, o lançamento do
governador é visto como positivo mesmo se ele perder: Ratinho Junior pode
ganhar projeção nacional, além de ajudar o partido a ampliar suas bancadas no
Congresso.
Questionado na segunda-feira sobre uma
eventual candidatura à Presidência, Ratinho Junior não descartou. “É uma
questão partidária que estamos construindo com o PSD. Meu partido tem essa
pretensão de buscar um nome”, disse o governador. Ao falar sobre a
pré-candidatura de Flávio, afirmou que o senador “representa um segmento
importante do eleitor e o PL é um partido grande”, com “total direito de ter
essa candidatura formada”. No entanto, ponderou que Flávio é um entre outros
pré-candidatos. “É importante ter vários quadros debatendo o Brasil, até para a
gente apresentar uma melhor solução.”
Depois do lançamento de Flávio, o União
Brasil deu destaque na propaganda partidária ao governador de Goiás e
pré-candidato presidencial do partido, Ronaldo Caiado. Nas inserções que devem
ser começar a ser veiculadas na quarta-feira, Caiado defende a “mão forte
contra o crime”, explorando a bandeira da segurança.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema
(Novo), também reiterou sua pré-candidatura presidencial depois de Flávio se
anunciar como pré-candidato à Presidência, escolhido por Bolsonaro.
Na avaliação de lideranças da direita e do
centro, a pulverização das pré-candidaturas divide o campo político e pode
favorecer a pré-candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. A falta de endosso de parte dessas lideranças a Flávio é vista como um
dos sinais de que a movimentação do clã Bolsonaro encontra dificuldade para
unir a oposição.
Um deputado federal do Centrão que participa
das tratativas sobre candidaturas em São Paulo afirmou à reportagem, sob
condição de reserva, que a movimentação de Flávio não foi combinada com os
aliados e que o anúncio surpreendeu todos os líderes que dialogam com os
Bolsonaros. Segundo essa fonte, o episódio demonstrou que a família age “sem
estratégia” e com “volatilidade”.
Apesar das incertezas sobre o futuro da candidatura e do ceticismo com que é tratada no universo político, há uma avaliação entre bolsonaristas de que o projeto em torno de Flávio favorece uma espécie de “depuração” no segmento, separando aqueles que seriam aliados verdadeiros de Bolsonaro daqueles que buscam uma relação pragmática, com fins eleitorais.

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