terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Tarcísio sinaliza apoio a Flávio, e PSD reitera Ratinho Junior, por Cristiane Agostine, Ma Leri e Joelmir Tavares

Valor Econômico

Candidatura do filho de Bolsonaro enfrenta resistência na direita e no centro e deve levar à pulverização de nomes para 2026

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sinalizou na segunda-feira (8) apoio à pré-candidatura presidencial de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em 2026, mas disse ser cedo para avaliar se a estratégia é a mais correta. O governador avaliou que o senador se soma a outros nomes da oposição como opções, como os governadores Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União-GO) e Ratinho Junior (PSD-PR).

“O [ex] presidente Bolsonaro é uma pessoa que eu respeito muito. Sempre disse que eu ia ser leal ao Bolsonaro, que eu sou grato ao Bolsonaro. Tenho essa lealdade, é inegociável”, disse Tarcísio. “O Flávio disse da escolha que o Bolsonaro fez pelo nome dele, e é isso. O Flávio vai contar com a gente. O Flávio tem uma grande responsabilidade a partir de agora. Ele se junta a outros grandes nomes da oposição, que já colocaram seus nomes à disposição”, afirmou o governador, depois de participar de um evento da gestão em Diadema (SP).

Questionado se a estratégia em torno do senador era boa, ele afirmou que o campo político ainda tem tempo. “Isso a gente vai avaliar ao longo do tempo. Acho que está cedo, a gente tem tempo de maturação.”

Com o lançamento de Flávio, Tarcísio deve reiterar sua pré-candidatura à reeleição no Estado. Segundo aliados, o governador só disputaria a Presidência com aval e apoio do clã Bolsonaro.

Apesar do alinhamento demonstrado por Tarcísio com Jair Bolsonaro, dirigentes de partidos da direita e do centro intensificaram as articulações para lançar candidatos presidenciais, na disputa contra Flávio pelos votos do mesmo campo político.

O PSD retomou a negociação em torno da pré-candidatura à Presidência do governador do Paraná, Ratinho Junior. O comando nacional do partido afirmou que sua diretriz é ter candidato próprio em 2026, com uma única ressalva: se Tarcísio for candidato, a legenda desistirá da candidatura para apoiá-lo.

Nas pesquisas de intenção de voto, Ratinho Junior está entre os nomes mais competitivos. O governador tem uma das menores taxas de conhecimento e de rejeição, o que é visto por consultores do partido como pontos positivos, com potencial para ampliar as intenções de voto. Outro ponto destacado por dirigentes do PSD é o fato de Ratinho Junior não ter vínculo direto com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), preso por tentativa de golpe de Estado e condenado a 27 anos e 3 meses de prisão. Diferentemente de Tarcísio, Ratinho não foi ministro de Bolsonaro nem foi eleito vinculado ao apoio do ex-presidente.

Lideranças do PSD avaliam ainda que, em um cenário sem Tarcísio, Ratinho Junior seria o único nome que poderia atrair mais partidos do Centrão, como o PP e o Republicanos, que resistem a apoiar alguém da família Bolsonaro.

Na segunda-feira, o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), questionou a viabilidade eleitoral de Flávio e citou o governador do Paraná como “nome nacional”. “Depois do governador Tarcísio, é o melhor nome nas pesquisas por conta da rejeição, do baixo conhecimento”, disse Ciro.

Segundo estrategistas do PSD, Ratinho Junior só deve se apresentar como pré-candidato entre fevereiro ou março, perto do prazo final para desincompatibilização do cargo para disputar a Presidência, que termina no início de abril, seis meses antes das eleições. A ideia é evitar desgastes antes do início da pré-campanha. No comando do PSD, o lançamento do governador é visto como positivo mesmo se ele perder: Ratinho Junior pode ganhar projeção nacional, além de ajudar o partido a ampliar suas bancadas no Congresso.

Questionado na segunda-feira sobre uma eventual candidatura à Presidência, Ratinho Junior não descartou. “É uma questão partidária que estamos construindo com o PSD. Meu partido tem essa pretensão de buscar um nome”, disse o governador. Ao falar sobre a pré-candidatura de Flávio, afirmou que o senador “representa um segmento importante do eleitor e o PL é um partido grande”, com “total direito de ter essa candidatura formada”. No entanto, ponderou que Flávio é um entre outros pré-candidatos. “É importante ter vários quadros debatendo o Brasil, até para a gente apresentar uma melhor solução.”

Depois do lançamento de Flávio, o União Brasil deu destaque na propaganda partidária ao governador de Goiás e pré-candidato presidencial do partido, Ronaldo Caiado. Nas inserções que devem ser começar a ser veiculadas na quarta-feira, Caiado defende a “mão forte contra o crime”, explorando a bandeira da segurança.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também reiterou sua pré-candidatura presidencial depois de Flávio se anunciar como pré-candidato à Presidência, escolhido por Bolsonaro.

Na avaliação de lideranças da direita e do centro, a pulverização das pré-candidaturas divide o campo político e pode favorecer a pré-candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A falta de endosso de parte dessas lideranças a Flávio é vista como um dos sinais de que a movimentação do clã Bolsonaro encontra dificuldade para unir a oposição.

Um deputado federal do Centrão que participa das tratativas sobre candidaturas em São Paulo afirmou à reportagem, sob condição de reserva, que a movimentação de Flávio não foi combinada com os aliados e que o anúncio surpreendeu todos os líderes que dialogam com os Bolsonaros. Segundo essa fonte, o episódio demonstrou que a família age “sem estratégia” e com “volatilidade”.

Apesar das incertezas sobre o futuro da candidatura e do ceticismo com que é tratada no universo político, há uma avaliação entre bolsonaristas de que o projeto em torno de Flávio favorece uma espécie de “depuração” no segmento, separando aqueles que seriam aliados verdadeiros de Bolsonaro daqueles que buscam uma relação pragmática, com fins eleitorais.

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