DEU EM O GLOBO
Houve aumento de 4,5% desde 2000. Rio é o estado com maior taxa
Rafael Galdo, Duilo Victor e Efrém Ribeiro
RIO e TERESINA. Apesar de o trabalho infantil ser proibido no aterro controlado de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, é comum ver filhos de catadores nas favelas do entorno separando lixo para trocar por algo que seus pais não podem oferecer, como um doce. No Parque Planetário, favela próxima ao aterro, Raíssa dos Reis, de 5 anos, ajudava ontem o pai a carregar latas de alumínio até um dos atravessadores de lixo para reciclagem. Uma realidade de 5.636 crianças com até 14 anos no universo de mais de 70 mil catadoras de lixo no país em 2008, segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008, divulgada ontem pelo IBGE.
Entre os desejos, ir à escola e ganhar uma bicicleta
De 2000 a 2008 nada avançou no combate ao trabalho de crianças e adolescentes nos vazadouros de lixo. Pelo contrário, houve até pequena piora. Em 2000, eram 5.393 crianças, 4,5% a menos que oito anos depois. No Parque Planetário, a menina Raíssa admitiu que o saco que carregava estava pesado, apesar de negar na frente do pai. E não escondia dois desejos: ir à escola e ganhar uma bicicleta.
- Onde eu vou, ela vai atrás. Ainda não está na escola, mas vou botar quando chegar a idade - prometia o pai, Samuel dos Reis, que tem outros três filhos mais velhos e negou que a filha já tenha ficado doente por causa do contato com o lixo.
Presidente de uma cooperativa de catadores de Gramacho e um dos líderes da classe na região, Nilson José dos Santos explica que o trabalho infantil é menos frequente do que no passado. Mas a atividade dos catadores é tão dominante em Jardim Gramacho que as crianças revolvem o lixo que sobra do lado do aterro por conta própria, como alguns dos filhos de Mara Lúcia de Almeida, de 36 anos, com 11 filhos e catadora em Gramacho desde os 13 anos.
- Nos últimos anos, porém, a mentalidade do catador mudou muito. As crianças agora estão na escola. O que não mudou foi o descaso do poder público - resume Nilson, que calcula 3.500 catadores em Gramacho.
Em 2008, o Rio era o estado com maior número de crianças catadoras no país: 1.150 entre seus 9.480 catadores, segundo reportaram municípios e entidades que trabalham com o lixo ao IBGE. Mas o ambientalista Sérgio Ricardo fala em mais de 40 mil catadores no estado, muitos deles crianças, que trabalham até nos vazadouros que proibiram sua presença, ou em lixões clandestinos.
No Piauí, por exemplo, havia 20 catadores com até 14 anos em 2008, segundo o IBGE. Mas a realidade parece diferente. Em Teresina, ainda com uniforme escolar, a menina Dângela Oliveira da Rocha, de 9 anos, andava esta semana sobre pneus e monitores de computadores quebrados no lixão do Morro da Esperança. A mãe, a catadora Rosângela Maria Oliveira Rocha, de 37 anos, justifica que, por uma questão de sobrevivência, leva Dângela para o lixão:
- Sustento oito filhos sozinha. Queria que eles só estudassem, mas não dá.
Para melhorar a vida de pessoas como Rosângela, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada pelo presidente Lula no início do mês, prevê incentivos a catadores. Mas, se levada em conta a PNSB 2008, os desafios a essa política são enormes. A começar pelos lixões (a nova política institui o fim deles em quatro anos), que de acordo com o IBGE ainda eram o destino do lixo de 50,8% das cidades em 2008, contra 22,3% para os aterros controlados (também considerados inadequados) e 27,7% para os aterros sanitários. Em relação a 2000, porém, houve avanços. Naquele ano, 72,3% das cidades utilizavam lixões. Mas a substituição desses vazadouros se concentrou basicamente em Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Os estados do Sul e Sudeste também se destacam na reciclagem do lixo, presente em 46% e 32,4% dos municípios dessas regiões, respectivamente, mas presente em apenas 994 municípios (17,8%) do país.
Houve aumento de 4,5% desde 2000. Rio é o estado com maior taxa
Rafael Galdo, Duilo Victor e Efrém Ribeiro
RIO e TERESINA. Apesar de o trabalho infantil ser proibido no aterro controlado de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, é comum ver filhos de catadores nas favelas do entorno separando lixo para trocar por algo que seus pais não podem oferecer, como um doce. No Parque Planetário, favela próxima ao aterro, Raíssa dos Reis, de 5 anos, ajudava ontem o pai a carregar latas de alumínio até um dos atravessadores de lixo para reciclagem. Uma realidade de 5.636 crianças com até 14 anos no universo de mais de 70 mil catadoras de lixo no país em 2008, segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008, divulgada ontem pelo IBGE.
Entre os desejos, ir à escola e ganhar uma bicicleta
De 2000 a 2008 nada avançou no combate ao trabalho de crianças e adolescentes nos vazadouros de lixo. Pelo contrário, houve até pequena piora. Em 2000, eram 5.393 crianças, 4,5% a menos que oito anos depois. No Parque Planetário, a menina Raíssa admitiu que o saco que carregava estava pesado, apesar de negar na frente do pai. E não escondia dois desejos: ir à escola e ganhar uma bicicleta.
- Onde eu vou, ela vai atrás. Ainda não está na escola, mas vou botar quando chegar a idade - prometia o pai, Samuel dos Reis, que tem outros três filhos mais velhos e negou que a filha já tenha ficado doente por causa do contato com o lixo.
Presidente de uma cooperativa de catadores de Gramacho e um dos líderes da classe na região, Nilson José dos Santos explica que o trabalho infantil é menos frequente do que no passado. Mas a atividade dos catadores é tão dominante em Jardim Gramacho que as crianças revolvem o lixo que sobra do lado do aterro por conta própria, como alguns dos filhos de Mara Lúcia de Almeida, de 36 anos, com 11 filhos e catadora em Gramacho desde os 13 anos.
- Nos últimos anos, porém, a mentalidade do catador mudou muito. As crianças agora estão na escola. O que não mudou foi o descaso do poder público - resume Nilson, que calcula 3.500 catadores em Gramacho.
Em 2008, o Rio era o estado com maior número de crianças catadoras no país: 1.150 entre seus 9.480 catadores, segundo reportaram municípios e entidades que trabalham com o lixo ao IBGE. Mas o ambientalista Sérgio Ricardo fala em mais de 40 mil catadores no estado, muitos deles crianças, que trabalham até nos vazadouros que proibiram sua presença, ou em lixões clandestinos.
No Piauí, por exemplo, havia 20 catadores com até 14 anos em 2008, segundo o IBGE. Mas a realidade parece diferente. Em Teresina, ainda com uniforme escolar, a menina Dângela Oliveira da Rocha, de 9 anos, andava esta semana sobre pneus e monitores de computadores quebrados no lixão do Morro da Esperança. A mãe, a catadora Rosângela Maria Oliveira Rocha, de 37 anos, justifica que, por uma questão de sobrevivência, leva Dângela para o lixão:
- Sustento oito filhos sozinha. Queria que eles só estudassem, mas não dá.
Para melhorar a vida de pessoas como Rosângela, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada pelo presidente Lula no início do mês, prevê incentivos a catadores. Mas, se levada em conta a PNSB 2008, os desafios a essa política são enormes. A começar pelos lixões (a nova política institui o fim deles em quatro anos), que de acordo com o IBGE ainda eram o destino do lixo de 50,8% das cidades em 2008, contra 22,3% para os aterros controlados (também considerados inadequados) e 27,7% para os aterros sanitários. Em relação a 2000, porém, houve avanços. Naquele ano, 72,3% das cidades utilizavam lixões. Mas a substituição desses vazadouros se concentrou basicamente em Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Os estados do Sul e Sudeste também se destacam na reciclagem do lixo, presente em 46% e 32,4% dos municípios dessas regiões, respectivamente, mas presente em apenas 994 municípios (17,8%) do país.
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