DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Alta política não existe mais; quase se pode dizer que isso de democracia representativa não funciona no Brasil
O mundo político brasileiro, colocado em natural foco nos dias que correm por causa da época eleitoral, mostra-se, como de hábito, em cores deprimentes.Fora os políticos profissionais, é impossível encontrar alguém que afirme que esse mundo valha um tostão furado.
Não apenas é repleto de aventureiros e aproveitadores, como não diz a que vem e os eleitores não ligam a mínima.
Qual seria, exatamente, o motivo para se depositar um voto por algum candidato ao Legislativo? Todas as pesquisas de boca de urna feitas no Brasil mostram que o eleitor médio nem sequer se lembra em quem votou dois minutos após ter votado.
Mais do que apontar para uma característica do eleitor brasileiro, isso exibe o divórcio existente entre partidos políticos e a sociedade.
O que os partidos dominantes representam são os grupos que os controlam.
Durante muitos anos o PT foi excetuado desse rol, mas mesmo este parece mostrar-se cada vez menos representativo de alguma ideia que faça algum sentido. A única ideia que faz sentido no PT atual é a associação com a figura do presidente da República.
Uma vez eleitos, os representantes desses partidos passarão a integrar Casas legislativas e renunciarão a qualquer veleidade de atuação política de verdade porque terão sido comprados (via distribuição de cargos, promovendo o loteamento da administração) pelos respectivos chefes de Executivo.
A cooptação pelo Executivo, garantida pela Constituição "cidadã", faz com que os parlamentos brasileiros descumpram todos os papéis que o modelo abstrato da democracia representativa lhes reserva: não fiscalizam o Executivo e não legislam.
Uma vez que apenas representam os interesses privados do grupo de seus caciques (em alguns casos, constituindo quadrilhas na acepção completa do termo), grande número de seus integrantes dedica-se a pilhagens e achaques diversos, tudo sob o olhar complacente do governante, seja ele federal, estadual ou municipal.
Como as eleições legislativas brasileiras são essencialmente distritais (candidatos recebem votos em circunscrições muito reduzidas), sem dúvida certo número de representantes é eleito por motivos de baixa política.
Alta política não existe mais.
Mesmo que seja irrealista imaginar que todo político eleito devesse emular Afonso Arinos, o extremo a que chegamos é excessivo.
Trata-se de um quadro institucional que entrou em evidente falência.
Quase se pode dizer que isso de democracia representativa não funciona no Brasil.
Um Judiciário inoperante e um Ministério Público que tudo faz para esconder dados que pudessem iluminar sua eficiência (ou falta dela) completam um quadro de disfuncionalidade que abrange todo o Estado.
Claudio Weber Abramo é diretor-executivo da Transparência Brasil
Alta política não existe mais; quase se pode dizer que isso de democracia representativa não funciona no Brasil
O mundo político brasileiro, colocado em natural foco nos dias que correm por causa da época eleitoral, mostra-se, como de hábito, em cores deprimentes.Fora os políticos profissionais, é impossível encontrar alguém que afirme que esse mundo valha um tostão furado.
Não apenas é repleto de aventureiros e aproveitadores, como não diz a que vem e os eleitores não ligam a mínima.
Qual seria, exatamente, o motivo para se depositar um voto por algum candidato ao Legislativo? Todas as pesquisas de boca de urna feitas no Brasil mostram que o eleitor médio nem sequer se lembra em quem votou dois minutos após ter votado.
Mais do que apontar para uma característica do eleitor brasileiro, isso exibe o divórcio existente entre partidos políticos e a sociedade.
O que os partidos dominantes representam são os grupos que os controlam.
Durante muitos anos o PT foi excetuado desse rol, mas mesmo este parece mostrar-se cada vez menos representativo de alguma ideia que faça algum sentido. A única ideia que faz sentido no PT atual é a associação com a figura do presidente da República.
Uma vez eleitos, os representantes desses partidos passarão a integrar Casas legislativas e renunciarão a qualquer veleidade de atuação política de verdade porque terão sido comprados (via distribuição de cargos, promovendo o loteamento da administração) pelos respectivos chefes de Executivo.
A cooptação pelo Executivo, garantida pela Constituição "cidadã", faz com que os parlamentos brasileiros descumpram todos os papéis que o modelo abstrato da democracia representativa lhes reserva: não fiscalizam o Executivo e não legislam.
Uma vez que apenas representam os interesses privados do grupo de seus caciques (em alguns casos, constituindo quadrilhas na acepção completa do termo), grande número de seus integrantes dedica-se a pilhagens e achaques diversos, tudo sob o olhar complacente do governante, seja ele federal, estadual ou municipal.
Como as eleições legislativas brasileiras são essencialmente distritais (candidatos recebem votos em circunscrições muito reduzidas), sem dúvida certo número de representantes é eleito por motivos de baixa política.
Alta política não existe mais.
Mesmo que seja irrealista imaginar que todo político eleito devesse emular Afonso Arinos, o extremo a que chegamos é excessivo.
Trata-se de um quadro institucional que entrou em evidente falência.
Quase se pode dizer que isso de democracia representativa não funciona no Brasil.
Um Judiciário inoperante e um Ministério Público que tudo faz para esconder dados que pudessem iluminar sua eficiência (ou falta dela) completam um quadro de disfuncionalidade que abrange todo o Estado.
Claudio Weber Abramo é diretor-executivo da Transparência Brasil
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