Um dia depois de ordenar do Brasil a ofensiva contra a Líbia de Kadafi, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, citou a democracia brasileira como exemplo para ditaduras do mundo árabe. Ao discursar no Theatro Municipal, Obama disse que o Brasil mostrou que é possível superar regimes autoritários e conciliar democracia e crescimento econômico. O presidente americano manteve o tom de parceria adotado anteontem, no encontro com a presidente Dilma Rousseff, e disse que as relações Brasil-EUA são entre nações iguais, e não mais como “parceiros sênior e júnior”. Para especialistas, a visita trouxe ganhos políticos para o Brasil, especialmente com a sinalização positiva dos EUA à pretensão brasileira de obter vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. O discurso de Dilma, cobrando o fim das barreiras comerciais, também, é uma marca positiva do encontro. Avanços concretos na agenda econômica e comercial foram limitados, porém, pela relação conflituosa de Obama com o Congresso americano.
Obama: caminho é a democracia
Presidente diz que relação Brasil-EUA não deve ser de subordinação
Cássio Bruno e Chico Otavio
Opresidente americano Barack Obama citou ontem a democracia brasileira como referência para os rebeldes em luta contra os regimes ditatoriais do norte da África. Em discurso no Theatro Municipal, no qual garantiu que as relações entre Estados Unidos e Brasil agora são entre nações iguais, e não mais como "parceiros sênior e júnior", Obama disse que a luta contra o regime militar de 1964, iniciada nas ruas, demonstrou como o anseio popular pela liberdade pode transformar uma nação e até o mundo.
Um dia depois da ofensiva da Otan contra as forças de Kadafi, o presidente americano assegurou que, desde o início da revolta na Líbia, os Estados Unidos "deixaram claro que as mudanças pretendidas devem ser conduzidas pelo seu próprio povo". Embora admita que "ninguém sabe onde as mudanças vão acabar", ele disse que o mundo não deveria temê-las:
- Vimos o povo líbio tomar uma posição corajosa contra um regime determinado a hostilizar os próprios cidadãos. Em toda a região, os jovens se levantam. Uma nova geração exigindo o direito de determinar o próprio futuro.
Citações a Jorge Ben Jor e Paulo Coelho
Iniciado com referências a Jorge Ben Jor e encerrado com uma frase de Paulo Coelho, o discurso de Obama ao povo brasileiro durou 20 minutos. Elogios à democracia brasileira, comparações entre as duas nações, reconhecimento do protagonismo do país no cenário mundial e até uma canja em português - "Alô, Cidade Maravilhosa, boa tarde a todo o povo brasileiro" - fizeram o pronunciamento ser interrompido, muitas vezes, por aplausos.
Com o auxílio de um teleprompter (monitor de vídeo), Obama parecia descontraído diante das 1.800 pessoas que lotaram a plateia. Agradeceu pela presença, "apesar do jogo do Vasco e Botafogo", e disse que uma das primeiras impressões sobre o Brasil veio do filme "Orfeu Negro", do francês Marcel Camus, que assistiu levado pela mãe:
- Minha mãe infelizmente já se foi. Ela nunca imaginaria que a primeira viagem do filho para o Brasil seria como presidente dos EUA - declarou, provocando uma primeira salva de aplausos.
Para os elogios de praxe, Obama recorreu a Ben Jor. Disse que, ao desembarcar no Brasil, descobriu que era mais lindo do que o filme, "um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza".
Obama explicou que, ao falar diretamente à população, quis partilhar ideias e mostrar as diferenças que brasileiros e americanos podiam fazer juntos no mundo. Entretanto, o discurso se ocupou muito mais de destacar semelhanças entre as duas nações, entre um elogio e outro, do que apresentar propostas objetivas de parcerias futuras.
Após lembrar que americanos e brasileiros combateram lado a lado, na Segunda Guerra Mundial, ele associou as lutas contra a ditadura militar de 64 aos movimentos civis dos EUA, quando "homens e mulheres marcharam, sangraram, morreram para que cada cidadão pudesse ter a mesma liberdade, a mesma oportunidade, não importando o seu rosto e de onde é". Mais interrupção e aplausos.
Ao apontar o Brasil como um país de democracia plena e oportunidades iguais, Obama não escapou de uma pequena gafe:
- O Brasil hoje é uma democracia plena, um lugar onde as pessoas têm a liberdade de falar o que pensam e de escolher os seu líderes. Onde uma criança pobre, de Pernambuco, pode sair do chão de uma fábrica de cobre e chegar ao cargo mais alto do país.
Se Obama se referia a Lula, alguém de seu staff esqueceu de alertá-lo de que as metalúrgicas do ABC não eram "fábricas de cobre".
Em seguida, o presidente parecia se inspirar no lema da primeira campanha de Lula a presidente, em 2002 ("a esperança vai vencer o medo"), para manifestar as impressões sobre a visita à Cidade de Deus:
- Pela primeira vez, a esperança voltou aos lugares onde o medo prevaleceu por muito tempo.
Daí em diante, o discurso enveredou para as questões globais e o papel do Brasil diante delas. Obama instou os brasileiros a ajudar o continente africano a enfrentar a pobreza e a ampliar os esforços na utilização de energia limpa e renovável e no esforço global contra o narcotráfico, a fome e a corrupção.
Ao usar a luta contra a ditadura para justificar a posição americana no norte da África, Obama arrebatou pela última vez a plateia, ao lembrar que a Cinelândia fora palco da resistência democrática. E que, dessa ação, sairia uma jovem que, mais tarde, mudaria o destino do país:
- Ela sabe o que é viver sem os mais elementares direitos humanos que muitos estão lutando até hoje. Mas ela também sabe o que é perseverança e sabe o que é vencer. Porque hoje essa mulher é a presidente da nação.
Das lutas sociais, Obama saltou para Paulo Coelho. Ele encerrou a fala com uma frase do mago:
- Com a força do nosso amor e nossa vontade, podemos mudar o nosso destino e de muitos outros.
FONTE: O GLOBO
Obama: caminho é a democracia
Presidente diz que relação Brasil-EUA não deve ser de subordinação
Cássio Bruno e Chico Otavio
Opresidente americano Barack Obama citou ontem a democracia brasileira como referência para os rebeldes em luta contra os regimes ditatoriais do norte da África. Em discurso no Theatro Municipal, no qual garantiu que as relações entre Estados Unidos e Brasil agora são entre nações iguais, e não mais como "parceiros sênior e júnior", Obama disse que a luta contra o regime militar de 1964, iniciada nas ruas, demonstrou como o anseio popular pela liberdade pode transformar uma nação e até o mundo.
Um dia depois da ofensiva da Otan contra as forças de Kadafi, o presidente americano assegurou que, desde o início da revolta na Líbia, os Estados Unidos "deixaram claro que as mudanças pretendidas devem ser conduzidas pelo seu próprio povo". Embora admita que "ninguém sabe onde as mudanças vão acabar", ele disse que o mundo não deveria temê-las:
- Vimos o povo líbio tomar uma posição corajosa contra um regime determinado a hostilizar os próprios cidadãos. Em toda a região, os jovens se levantam. Uma nova geração exigindo o direito de determinar o próprio futuro.
Citações a Jorge Ben Jor e Paulo Coelho
Iniciado com referências a Jorge Ben Jor e encerrado com uma frase de Paulo Coelho, o discurso de Obama ao povo brasileiro durou 20 minutos. Elogios à democracia brasileira, comparações entre as duas nações, reconhecimento do protagonismo do país no cenário mundial e até uma canja em português - "Alô, Cidade Maravilhosa, boa tarde a todo o povo brasileiro" - fizeram o pronunciamento ser interrompido, muitas vezes, por aplausos.
Com o auxílio de um teleprompter (monitor de vídeo), Obama parecia descontraído diante das 1.800 pessoas que lotaram a plateia. Agradeceu pela presença, "apesar do jogo do Vasco e Botafogo", e disse que uma das primeiras impressões sobre o Brasil veio do filme "Orfeu Negro", do francês Marcel Camus, que assistiu levado pela mãe:
- Minha mãe infelizmente já se foi. Ela nunca imaginaria que a primeira viagem do filho para o Brasil seria como presidente dos EUA - declarou, provocando uma primeira salva de aplausos.
Para os elogios de praxe, Obama recorreu a Ben Jor. Disse que, ao desembarcar no Brasil, descobriu que era mais lindo do que o filme, "um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza".
Obama explicou que, ao falar diretamente à população, quis partilhar ideias e mostrar as diferenças que brasileiros e americanos podiam fazer juntos no mundo. Entretanto, o discurso se ocupou muito mais de destacar semelhanças entre as duas nações, entre um elogio e outro, do que apresentar propostas objetivas de parcerias futuras.
Após lembrar que americanos e brasileiros combateram lado a lado, na Segunda Guerra Mundial, ele associou as lutas contra a ditadura militar de 64 aos movimentos civis dos EUA, quando "homens e mulheres marcharam, sangraram, morreram para que cada cidadão pudesse ter a mesma liberdade, a mesma oportunidade, não importando o seu rosto e de onde é". Mais interrupção e aplausos.
Ao apontar o Brasil como um país de democracia plena e oportunidades iguais, Obama não escapou de uma pequena gafe:
- O Brasil hoje é uma democracia plena, um lugar onde as pessoas têm a liberdade de falar o que pensam e de escolher os seu líderes. Onde uma criança pobre, de Pernambuco, pode sair do chão de uma fábrica de cobre e chegar ao cargo mais alto do país.
Se Obama se referia a Lula, alguém de seu staff esqueceu de alertá-lo de que as metalúrgicas do ABC não eram "fábricas de cobre".
Em seguida, o presidente parecia se inspirar no lema da primeira campanha de Lula a presidente, em 2002 ("a esperança vai vencer o medo"), para manifestar as impressões sobre a visita à Cidade de Deus:
- Pela primeira vez, a esperança voltou aos lugares onde o medo prevaleceu por muito tempo.
Daí em diante, o discurso enveredou para as questões globais e o papel do Brasil diante delas. Obama instou os brasileiros a ajudar o continente africano a enfrentar a pobreza e a ampliar os esforços na utilização de energia limpa e renovável e no esforço global contra o narcotráfico, a fome e a corrupção.
Ao usar a luta contra a ditadura para justificar a posição americana no norte da África, Obama arrebatou pela última vez a plateia, ao lembrar que a Cinelândia fora palco da resistência democrática. E que, dessa ação, sairia uma jovem que, mais tarde, mudaria o destino do país:
- Ela sabe o que é viver sem os mais elementares direitos humanos que muitos estão lutando até hoje. Mas ela também sabe o que é perseverança e sabe o que é vencer. Porque hoje essa mulher é a presidente da nação.
Das lutas sociais, Obama saltou para Paulo Coelho. Ele encerrou a fala com uma frase do mago:
- Com a força do nosso amor e nossa vontade, podemos mudar o nosso destino e de muitos outros.
FONTE: O GLOBO
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