1) A aposta do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e a expectativa do Palácio do Planalto de que o recesso político do feriadão e eventos importantes como a prisão do traficante Nem e a ocupação da Rocinha amorteceriam o escândalo de mais um ministro envolvido em atos de desvio de recursos federais, assim propiciando a ele uma sobrevida para articular a manutenção no cargo e à presidente Dilma Rousseff tempo para preparar sua substituição apenas na reforma ministerial prevista para o início de 2012, essa aposta e essa expectativa foram inteiramente contrariadas e elas, sim, esvaziadas pelo impacto de novas revelações da mídia de sexta-feira até ontem, que ampliaram o leque de irregularidades praticadas. Ademais de evidenciarem a falsidade de declaração formal do ministro feita na semana passada na Câmara dos Deputados. Declaração usada como peça-chave do propósito de desqualificar as denúncias que estaria sofrendo do “denuncismo da imprensa”.
2) Seguem-se título e abertura de reportagem de capa da Folha de S. Paulo, de ontem. “Ministro ajudou aliado a criar Sindicatos-fantasmas”. “O ministro Carlos Lupi concedeu registro a sete sindicatos patronais no Amapá para representar setores da indústria que, segundo o próprio governo local, não existem no Estado. Os certificados saíram a pedido do deputado Bala Rocha (PDT-AP), dirigente do partido de Lupi, que afirma ter se valido da proximidade partidária com o ministro. Nenhum dos presidentes desses sindicatos é industrial. São motoristas de uma cooperativa de veículos controlada por um aliado de Rocha. Os sindicatos têm registros em endereços nos quais não há nenhuma estrutura montada”. “O reconhecimento do ministério daria aos sete sindicatos força para disputar o controle da Federação das Indústrias do Amapá, que tem orçamento superior a R$ 10 milhões e controla verbas do Sistema S (Sesi e Senai)”.
3) Também ontem, o Estado de S. Paulo – desdobrando reportagem da Veja – publicou entrevista do empresário-argueiro Adair Meira, que desmentiu a referida declaração do ministro. Títulos e trechos das duas matérias. Do Estadão – “Dono de ONG é mais um a desmentir Lupi ao confirmar voo com ministro”; “A confirmação desmente declaração dada pelo ministro à Câmara dos Deputados de que não conhecia o dono da (ONG) Pró-Cerrado, nem voara com ele: ‘Nunca andei em jatinho de Adair, nem o conheço. Não tenho nenhuma relação com ele’. ‘O ministro está confuso em dar essa declaração’, afirmou Adair ao Estado, de modo categórico”; Subtítulo da reportagem: “Empresário ongueiro Adair Meira afirma que ministro do Trabalho voou ao seu lado em um avião particular durante visita ao Maranhão em 2009; declaração agrava ainda mais situação do presidente-licenciado do PDT, ameaçado de ser demitido”. Chamada e trechos da reportagem da Veja, com a primeira entrevista de Adair Meira: “O ministro Carlos Lupi mentiu ao Congresso. Ele disse que mal conhece Adair Meira, o dono da Fundação Pró- Cerrado, Adair Meira, e que nunca viajou em aeronave cedida pelo empresário”; “...Meses depois de ele (Adair) prestar esse favor ao ministro, suas ONGs foram escolhidas para executar os convênios de qualificação de mão-de-obra do ministério no Maranhão”.
4) A humildade do pedido de desculpas de Carlos Lupi à presidente Dilma no dia seguinte às afirmações de que “só uma bala, e bem pesada”, poderia afastá-lo do cargo, e de que seguirá nele mesmo após a reforma ministerial, feitas em ato de apoio da maioria dos deputados do PDT promovido por ele na quinta-feira passada, parece ter sido eficaz para a contenção do aborrecimento dela com a bravata do ministro, o que evitou uma demissão imediata. Até porque isso favorecia o objetivo da presidente de não ter de render-se, mais uma vez, ao peso de denúncias sobre escândalos no governo. E também, provavelmente, para evitar a renovação de atritos na base governista na fase de decisões finais do Congresso a respeito da renovação da DRU – Desvinculação das Receitas da União, a única grande prioridade legislativa do Executivo este ano. Mas a nova e mais grave complicação do ministro do Trabalho, com a evidência da falsidade da declaração
na Câmara sobre o relacionamento com o dono da ONG Pró-Cerrado e a aeronave utilizada em viagem pelo Maranhão (que foi mesmo o King Air arranjado pelo empresário, como a TV mostrou ontem), pode ter forçado a presidente Dilma a demiti-lo bem mais rapidamente do que planejava. E fortaleceu o empenho da
oposição (e de parte das bancadas do próprio PDT) de mobilizar o Congresso para apuração do novo escândalo. Com o argumento destacado ontem pelo líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias, de que “a mentira oficial é crime de responsabilidade”.
Jarbas de Holanda é jornalista
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