quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Os mais pobres só ficam com 1,3% da renda

Enquanto os mais ricos abocanham 42,8%. Emprego com carteira tem forte avanço e chega a 65,2% dos trabalhadores

Fabiana Ribeiro e Henrique Gomes Batista

Apesar do forte aumento do emprego formal - que passou de 54,8% da população em 2000 para 65,2% no ano passado-, na fotografia revelada pelo Censo 2010 a concentração ainda aparece como a grande mazela da sociedade brasileira. Na divisão do bolo, os 10% dos domicílios do país com os rendimentos mais elevados são donos de 42,8% do total dos ganhos. Na outra ponta, apenas 1,3% dos ganhos pertencem a 10% dos que possuem os menores rendimentos. Na média, o rendimento do topo da pirâmide social brasileira é de R$9.501, mais de 3.000% acima da média do rendimento dos mais pobres, que estava em R$295.

- O nível de concentração dos rendimentos no Brasil é elevado, especialmente quando se observam as diferenças entre as regiões - comentou Vandeli Guerra, consultora do IBGE.

O abismo entre ricos e pobres fica mais evidente no Norte e no Nordeste - o que levou o índice de Gini (quanto mais perto de um, mais desigual) da distribuição do rendimento mensal nos domicílios a ficar em 0,536, segundo o Censo.

A família de Paula Fernanda Pereira engrossa as estatísticas. Mãe de oitos filhos (dois morreram), Paula vive com seu marido desempregado e quatro crianças numa favela de Recife. Também sem trabalho, o sustento sai dos R$134 do Bolsa Família:

- Como está desempregado, meu marido vai pegar caranguejo. É uma vida muito dura. Parentes nos ajudam e, ainda assim, a família toda não faz todas as refeições todos os dias.

Distância entre os rendimentos é o que também se observa entre as áreas urbana e rural do país, acrescentou Vandeli. De acordo com o Censo, o rendimento médio mensal na área urbana é R$1.294 - 2,5 vezes o que ganha, em média, no campo (R$596). E em todas as regiões, o Índice de Gini da distribuição do rendimento mensal das pessoas com rendimento ficou em 0,526. Nas grande regiões, o mais baixo ficou no Sul (0,481), e o mais alto, no Centro-Oeste (0,544).

Metade da população tem ganhos de R$375 por mês - valor abaixo do salário mínimo de 2010 (R$510). Entre os municípios mais populosos (acima de 500 mil), a mediana de rendimento se aproximou do valor do salário mínimo e a média é de R$991 - cerca de duas vezes superior à média observada nas cidades com até 100 mil moradores.

O Plano Brasil Sem Miséria é direcionado aos brasileiros que vivem em lares cuja renda familiar é de até R$70 por pessoa. Para o Censo, há 16,2 milhões de brasileiros nesta situação.

- Os dados mostram que o Brasil sem Miséria aponta na direção correta, já que segue uma lógica de estratégias interligadas territorialmente. Agora, isso não quer dizer que o Brasil sem Miséria seja isento de críticas, mas o foco que ele confere aos mais pobres entre os pobres é a chave para que o Brasil chegue aos "excluídos do Censo" - avalia Flavio Comin, consultor do Pnud.

Emprego com carteira cresce em todo o país

Os resultados da amostra do Censo - questionário mais completo, aplicado a 6,2 milhões de domicílios - indicam um forte crescimento do emprego no país. O percentual de trabalhadores empregados passou de 66,6%, no ano 2000, para 68,2% em 2010. Na outra via, o percentual de pessoas sem remuneração caiu de 4% para 1,8%. O IBGE aponta que o crescimento de trabalhadores com carteira assinada - 65,2% do total do país em 2010, contra 8,3% de funcionários públicos e 26,5% de trabalhadores sem carteira -, foi superior a 10 pontos percentuais em praticamente todas as regiões do país. No Sul, por exemplo, 73,4% dos trabalhadores têm carteira de trabalho, enquanto 19,2% são informais.

FONTE: O GLOBO

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