sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O índice da desigualdade :: Roberto Freire

Os últimos dias têm sido de comemorações para o governo, com o auxílio gracioso de vários órgãos da mídia, em função da melhora relativa de nossa posição, em um amplo rol de países, com relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), medido pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Passados, no entanto, os fogos de artifício da propaganda oficial, podemos ver com mais clareza o real significado desse “feito” nacional. Antes de mais nada, como argumenta de forma correta Flávio Comim, professor da UFRGS, em artigo no Globo, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) recalculou o valor do IDH do ano passado, com uma lista maior de países. O acréscimo de 18 nações neste ano colocou o Brasil na posição de 85 para 84 em 2011, graças a seu relativo crescimento da renda e expectativa de vida.

Mas o argumento definitivo, como salienta o referido professor, é que o IDH brasileiro tem crescido a taxas decrescentes, passando de um crescimento médio anual de 0,87% ao ano no período 1980-2011, para 0,86% ao ano de 1990-2011 até os atuais 0,69% ao ano de 2000-2011. Ou seja, o país avança a passos cada vez mais lentos nas áreas de saúde e educação.

Elementos centrais para a consolidação de um processo de desenvolvimento sustentado e de qualidade. Nossa educação reflete nossas desigualdades, com escolas particulares, de excelente qualidade, para os mais abastados, e uma escola pública, de sofrível qualidade para a massa do povo. Hoje a educação, no país, é um fator de manutenção da desigualdade social e elemento de perda de competitividade relativa no cenário mundial.

Isso fica mais evidente com o outro tipo de índice o IDH Ajustado à Desigualdade (IDHAD), também divulgado pelo Pnud, que analisa perdas no desenvolvimento humano por causa das disparidades socioeconômicas. Nesta avaliação, o Brasil cai 27,7% em relação ao IDH, ficando em 0,519. Por essa perspectiva, em relação aos Brics, só ganhamos da Índia e no continente americano empatamos com República Dominicana e Suriname.

O que se percebe com clareza é que o Brasil enfrenta agora seu maior desafio, o de resolver a qualidade de suas políticas públicas para que elas sejam indutoras de desenvolvimento e equalização social. Não superaremos tal desafio enquanto ficarmos presos ao mero cálculo político do varejo, patrocinado pelo governo Lula-Dilma, e não estabelecermos uma política de longo prazo que inclua os vários segmentos do mercado, as diversas regiões que formam o país e um desenho de desenvolvimento econômico, que tenha a inclusão social, a inovação tecnológica e a sustentabilidade ambiental, os elementos centrais que nortearão esse processo.

Infelizmente, o que temos é um verdadeiro cipoal de medidas provisórias, portarias, programas e projetos do governo Dilma, respondendo sempre às questões conjunturais, mas sem um roteiro definido e acertado com as forças políticas e sociais de um projeto de desenvolvimento de longo prazo.

Enquanto isso, nossa desigualdade econômica e social persiste, alimentada por políticas públicas ineficientes, por gestores incompetentes e pela corrupção generalizada.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO.

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