Restrição a importações também atingirá mais de 5 mil empresários argentinos. Fiesp pedirá audiência com Cristina Kirchner
Paulo Justus
SÃO PAULO. A pouco mais de uma semana da aplicação de licenças não-automáticas para novas importações na Argentina, empresários brasileiros começaram a se mobilizar para pressionar o governo vizinho a rever a decisão. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou ontem estimativa de que a medida deve afetar aproximadamente 80% das exportações brasileiras. Além disso, atingiria mais de 5,5 mil importadores argentinos e colocaria em dúvida acordos anteriormente realizados, inclusive no âmbito do Mercosul.
A Fiesp anunciou que vai pedir uma audiência com a presidente argentina Cristina Kirchner, na tentativa de que o país reveja as medidas. Outros setores empresariais, no entanto, defendem uma maior pressão por parte do governo brasileiro, com a abertura de processo junto à Organização Mundial do Comércio e no Tribunal Arbitral do Mercosul, aliada a medidas de retaliação comercial contra o país.
- O protecionismo vai contra o Mercosul e as regras da OMC - diz Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Comércio Exterior da Fiesp.
A imposição da declaração juramentada de importação na Argentina deve impactar diretamente as exportações de produtos industriais brasileiros, que compõem a maior parte das vendas brasileiras para o país vizinho. Entre os setores mais afetados estão o de máquinas agrícolas, têxteis e calçados.
- A Argentina é um dos principais destinos da exportação industrial brasileira - afirma Fonseca.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse que, mesmo setores que têm acordo bilateral de comércio com o país, caso da indústria automotiva, temem que a nova medida estabeleça cotas de importações. A medida, ainda não regulamentada, põe em risco o bloco econômico do Mercosul. Isso porque, segundo Castro, a retaliação internacional contra a medida argentina pode ser endereçada a todo o Mercosul.
Setor calçadista tem 1,4 milhão de pares retidos
Segundo Castro, a medida do governo argentino visa a reduzir o déficit comercial que o país tem com o Brasil. Só no ano passado, foi de US$5,8 bilhões.
- A Argentina não tem credibilidade para acessar crédito internacional e, por isso, depende da manutenção dos superávits comerciais para conseguir recursos em dólar - disse ele.
Segundo Fonseca, da Fiesp, caso a exigência de autorizações para a importação seja ampla e inclua partes e peças, até mesmo setores da indústria argentina podem parar.
- Alguns empresários argentinos nos pedem para que pressionemos a Casa Rosada contra a adoção dessas medidas, porque eles mesmos não podem fazer, sob pena de serem retaliados pelo governo. Na Argentina, o ditado de que a crise gera oportunidades foi invertido. Lá as oportunidades geram crises.
O diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, diz que o setor vem sofrendo com a adoção informal de licenças não-automáticas desde 2011, quando as exportações ao país vizinho caíram de 14,1 milhões de pares para 12,4 milhões de pares. A queda reflete a exigência de uma contrapartida em exportações para cada importador argentino:
- Além dessa queda, temos cerca de 1,4 milhão de pares exportados para o país, mas ainda não liberados pela Receita argentina - afirma Klein.
FONTE: O GLOBO
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