Cristian Klein
SÃO PAULO - A cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, tem 159.030 eleitores. Pode parecer um alvo pouco interessante para os objetivos nacionais de um partido, mas virou uma questão de honra que envolve PT, PSB e DEM na eleição municipal deste ano e está atrapalhando uma candidatura a 2.804 quilômetros de distância dali: a do ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT), na capital paulista.
Apesar das tentativas da cúpula nacional, o PT potiguar insiste em lançar nome próprio à Prefeitura de Mossoró, o que dificulta os planos de uma troca de apoio que leve o PSB a se engajar numa coligação com Haddad, em São Paulo.
Em reunião ontem na capital Natal, com o secretário nacional de organização do PT, Paulo Frateschi, o reitor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), Josivan Barbosa, manteve a disposição de levar adiante sua candidatura.
Barbosa é apoiado pela corrente majoritária do PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB), e, há menos de um mês, venceu a disputa interna que defendia nome próprio, por apenas cinco votos (162 a 157).
Desde então, no entanto, o reitor vem sendo pressionado pela direção nacional a desistir em favor do apoio à chapa da deputada estadual Larissa Rosado (PSB).
Assim como outras cidades pelo país - Campinas (SP), Duque de Caxias (RJ), João Pessoa (PB) entre outras -, Mossoró foi posta na mesa de negociação como uma das exigências do PSB para, em contrapartida, apoiar Haddad.
A candidatura em São Paulo, patrocinada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, é uma prioridade do PT nacional. Tanto que, segundo um interlocutor, a decisão de apoiar o PSB em Mossoró já teria sido tomada, na quinta-feira, independentemente da vontade local. Na reunião de ontem com os representantes dos diretórios municipal e estadual, Frateschi teria lembrado a intervenção no Maranhão, na eleição para governador em 2010, para argumentar que o apoio será dado de um jeito ou de outro.
O desfecho pode ser traumático. Mesmo um integrante do PT potiguar cuja corrente, Movimento PT, votou contra a tese de candidatura própria, afirma hoje defender que a legenda honre com a decisão do encontro de delegados e que não haja intervenção da direção nacional para que se apoie Larissa Rosado.
Embora com colégio eleitoral modesto, Mossoró é repleta de simbologia e rivalidade que despertam a cobiça tanto do PSB quanto do PT local.
Maior produtora de petróleo em terra do país, é a única cidade entre as 118 maiores do país, com mais de 150 mil eleitores, que ainda é governada pelo DEM, depois que a legenda definhou com a criação do PSD pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.
O município representa como poucos a imagem de um dos últimos bastiões da segunda maior sigla de oposição. Há décadas Mossoró é dominada pelo DEM e é a terra natal do presidente nacional do partido, o senador José Agripino Maia. Também é a cidade cuja prefeitura já foi controlada por três mandatos pela governadora Rosalba Ciarlini Rosado (DEM), única do partido a comandar hoje um Estado.
Mais do que do DEM, Mossoró é um feudo dos Rosado. A prefeitura é administrada por Fafá Rosado, prima do marido da governadora, o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado, líder do grupo. A vice-prefeita também é da família: Ruth Ciarlini, irmã da governadora.
Desde 1948, os Rosado são hegemônicos. Sendo quase impossível vencer sem ter o sobrenome, a oposição também é da família. Larissa Rosado é filha de Sandra Rosado, líder do PSB na Câmara dos Deputados e adversária da ala do clã filiada ao DEM. Larissa aparece nas pesquisas com cerca de 40% das intenções de voto, à frente da provável candidata do DEM, a vereadora Claudia Regina, com 10%, e de Josivan Barbosa, com menos de 5%.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
Nenhum comentário:
Postar um comentário