Nos últimos vinte anos de governos social-democratas, o Brasil melhorou
graças à continuidade de quatro pilares: a democracia, a responsabilidade fiscal,
a generosidade das bolsas e uma política econômica de crescimento. Estes
pilares estão se esgotando.
A democracia se esgota porque não foi capaz de fazer a reforma política; não
implantou um sistema ético para o financiamento de campanhas; e não barrou a
corrupção.
A responsabilidade fiscal se esgota porque a reforma do Estado não foi
feita, não houve controle dos gastos, nem mudança na gestão pública.
A generosidade social começou ainda no governo militar com a aposentadoria
rural. Mas foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em seu segundo
mandato, que adotou a concepção das bolsas, transferindo renda para quatro
milhões de beneficiários. Lula ampliou este número para 12 milhões e elevou o
valor do salário-mínimo em taxas superiores às da inflação. A presidente Dilma
Rousseff ampliou ainda mais os beneficiários. Mas os programas de pura
transferência de renda não estão sendo capazes de induzir a emancipação da
população pobre.
O crescimento econômico manteve-se com o mesmo padrão básico: ampliação de
produção, exportação de commodities agrícolas ou minerais e produção de bens
industriais para o mercado interno, sofrendo, no entanto, uma
desindustrialização em função da âncora cambial, da falta de competitividade,
do Custo Brasil e da falta de capacidade para inovação. Este modelo não foi
capaz de dar o salto para uma economia de alta tecnologia, com respeito ao meio
ambiente, estruturalmente distributiva e pelo qual o propósito não seja apenas
aumentar o PIB, mas aumentar o bem-estar da população.
Há um esgotamento nos quatro pilares da social-democracia brasileira, sendo
necessária uma inflexão que permita completar com uma reforma política, criando
mecanismos que tornem a corrupção impossível, eliminando a influência do poder
econômico nas eleições. A responsabilidade fiscal precisa ser completada por
reformas na gestão, na política fiscal e no controle dos gastos. A generosidade
das transferências de renda precisa ser substituída pela emancipação da
população para que nenhuma família brasileira precise de ajuda. E a economia
precisa incorporar o equilíbrio ecológico, a distribuição de renda, a produção
de bens distributivos e o salto para uma sociedade criadora de bens de alta
tecnologia, caminhando para aumentar o bem-estar social, não apenas o PIB.
O fim das eleições municipais deveria ser o ponto de partida para o debate.
Mas, aparentemente, este radicalismo não entrará nos debates. Vamos continuar
discutindo como avançar na mesma direção de um modelo em esgotamento, com a
mesma política de satisfazer os interesses imediatos de corporações, sem olhar
o longo prazo, sem fazer a necessária inflexão histórica.
Senador (PDT-DF)
Fonte: O Globo
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