"Ante um PT golpeado pelo
julgamento do chamado mensalão, o PSDB sai do casulo e toma ofensiva, com gosto
de sangue na boca"
O voto popular, nas eleições ocorridas há pouco mais de 50 dias, manteve o
status quo, a hegemonia política do bloco liderado pelo PT. Mas por outras
vias, um tanto prussianas, movimentos na superestrutura institucional fizeram o
pêndulo se mexer. Ante um PT golpeado pelo julgamento do chamado mensalão, o
PSDB sai do casulo e toma ofensiva, com gosto de sangue na boca.
Afora o destino pessoal de quadros históricos, como José Dirceu e José Genoino, os petistas sentem o efeito do estrondo do julgamento perante a opinião pública em geral e à base política em particular. Essa base inclui ampla maioria dos mais pobres e uma fração da classe média, em especial da emergente, mas o martelar das sessões do STF chegou a todos os ouvidos nacionais. Surfando a onda do julgamento e da condenação dos petistas, os tucanos saíram da apatia tão criticada por sua base, agregaram aliados e isolaram o PT na CPI do Cachoeira, impedindo a aprovação do relatório final, que responsabilizava um governador do PSDB, um jornalista e o procurador-geral da República. Preparam a candidatura do senador Aécio Neves e mudanças na face visível do partido. Os petistas falam de uma aliança da oposição, mas, ainda que seja apenas convergência natural, os tucanos têm a seu lado o Ministério Público e o STF, poder que se levanta com o fim do julgamento e a posse de um presidente com o perfil de Joaquim Barbosa.
Mais água para o moinho adversário foi levada na CPI do Cachoeira por um PT retraído e atônito pela pancada de um julgamento que ainda será analisado por sua heterodoxia, pelas inovações com objetivo claro, que terão de ser revistas ou trarão consequências graves para o nosso ordenamento jurídico. O relator da CPI, Odair Cunha, apresentou relatório que nem pôde ser votado. Ao incluir o governador tucano Marconi Perillo e o jornalista Policarpo Junior, da revista Veja, pelas relações com Carlinhos Cachoeira, e o procurador-geral, Roberto Gurgel, por ter sobrestado durante dois anos o primeiro inquérito sobre a quadrilha, o relator juntou adversários para derrotá-lo. Mais ainda: excluindo, por falta de provas, o governador aliado do Rio de Janeiro e o governador petista do Distrito Federal, deu ao PSDB mais um discurso anti-PT: o de que o partido protegeu aliados e buscou acertar contas com os que ajudaram a construir a narrativa do mensalão. Na sexta-feira, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, postou seguidos ataques nesse sentido no Twitter. Em nota, aspergiu louvores a Barbosa e solidariedade a Gurgel. Abrindo caminho para a candidatura de Aécio, o PSDB deve elegê-lo presidente do partido. Ele montará uma executiva com caras novas que emergiram na eleição, embora toda campanha precise, como dizia seu avô Tancredo, de alguém com cabelos brancos. Mas, no Senado ou na rua, Aécio já virou, como ele diz, “pau de enchente”. Todos o param, ainda que só para um aperto de mão.
No polo petista, a presidente Dilma governa ao largo das adversidades petistas. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava na Índia, na sexta-feira, depois de passar por África do Sul, Moçambique e Etiópia. Para alguns petistas, tal viagem numa hora dessas indicaria que, embora indignado e solidário aos companheiros, ele está subestimando os efeitos danosos do julgamento. Para outros, estaria apenas ruminando para reagir, como sempre fez quando atacado.
A aceitação de qualquer julgamento é obrigação democrática, mas a discussão é legítima e não configura desacato ao STF, como alardeia a oposição. Esse discurso, no entanto, também ganhou pernas e penas na medidas em que a reação foi desorganizada. Essa tarefa não pode ser dos condenados, mas só eles falaram até que o partido soltasse uma nota. O que João Paulo Cunha fez na sexta-feira em Osasco (SP) foi uma plenária de prestação de contas do mandato aos militares, uma atividade que todos os deputados de esquerda, não só do PT, realizam periodicamente. No entanto, foi noticiada como ato público contra o julgamento. Há notícias, no PT, de uma reação mais elaborada, comprometida com o acatamento das penas, mas buscando oferecer a verdadeira história do mensalão e desconstuir os argumentos que levaram a cada condenação. Isso inclui a teoria do domínio do fato, que substituiu as provas contra Dirceu, a dispensa do ato de ofício para condenar por corrupção passiva e, sobretudo, a tese da compra de votos com recursos que, sustenta a legenda, foram transferidos a dirigentes partidários como ajuda de campanha. O deficit de votos do PT, no período, era de 106, e não de sete votos para formar a maioria. Se já tivesse feito isso, talvez o PT tivesse convencido alguns de seus algozes. Se não o fizer no pós-julgamento, pode perder mais: o apoio de segmentos que lhe têm garantido o poder. Agora, o sangue da oposição esquentou.
A conjuntura pós-julgamento é o que preocupava Dirceu em sua passagem por Brasília, segundo interlocutores. Mais que a provável prisão, para a qual se prepara com a conhecida racionalidade. Na sexta-feira, a Operação Porto Seguro, da PF/Ministério Público, sugeria nova semana de mau tempo para o PT.
Brasil mudando. Da redução das desigualdades de renda e classe nos últimos anos, já sabemos muito. Agora, o IBGE revela números importantes sobre a redução das desigualdades regionais. Entre 2002 e 2010, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste aumentaram as participações no PIB nacional, em 0,6% a primeira e 0,5% as duas últimas. O Sul e o Sudeste perderam, no período, 1,3% e 0,4%, respectivamente. Mesmo assim, oito estados ainda respondem por 77,8% do PIB. O Distrito Federal continua tendo o maior PIB per capita (R$ 58.489,46). Tocantins foi o estado que mais cresceu no período: 74%. É consenso entre os cientistas sociais que as transferências de renda — não apenas pelo Bolsa Família, mas também por meio de aposentadorias e salário mínimo maiores, outros benefícios de prestação continuada, bolsa estiagem e similares ajudaram a dinamizar as economias das regiões mais pobres. Vamos deixando de ser Belíndia.
Afora o destino pessoal de quadros históricos, como José Dirceu e José Genoino, os petistas sentem o efeito do estrondo do julgamento perante a opinião pública em geral e à base política em particular. Essa base inclui ampla maioria dos mais pobres e uma fração da classe média, em especial da emergente, mas o martelar das sessões do STF chegou a todos os ouvidos nacionais. Surfando a onda do julgamento e da condenação dos petistas, os tucanos saíram da apatia tão criticada por sua base, agregaram aliados e isolaram o PT na CPI do Cachoeira, impedindo a aprovação do relatório final, que responsabilizava um governador do PSDB, um jornalista e o procurador-geral da República. Preparam a candidatura do senador Aécio Neves e mudanças na face visível do partido. Os petistas falam de uma aliança da oposição, mas, ainda que seja apenas convergência natural, os tucanos têm a seu lado o Ministério Público e o STF, poder que se levanta com o fim do julgamento e a posse de um presidente com o perfil de Joaquim Barbosa.
Mais água para o moinho adversário foi levada na CPI do Cachoeira por um PT retraído e atônito pela pancada de um julgamento que ainda será analisado por sua heterodoxia, pelas inovações com objetivo claro, que terão de ser revistas ou trarão consequências graves para o nosso ordenamento jurídico. O relator da CPI, Odair Cunha, apresentou relatório que nem pôde ser votado. Ao incluir o governador tucano Marconi Perillo e o jornalista Policarpo Junior, da revista Veja, pelas relações com Carlinhos Cachoeira, e o procurador-geral, Roberto Gurgel, por ter sobrestado durante dois anos o primeiro inquérito sobre a quadrilha, o relator juntou adversários para derrotá-lo. Mais ainda: excluindo, por falta de provas, o governador aliado do Rio de Janeiro e o governador petista do Distrito Federal, deu ao PSDB mais um discurso anti-PT: o de que o partido protegeu aliados e buscou acertar contas com os que ajudaram a construir a narrativa do mensalão. Na sexta-feira, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, postou seguidos ataques nesse sentido no Twitter. Em nota, aspergiu louvores a Barbosa e solidariedade a Gurgel. Abrindo caminho para a candidatura de Aécio, o PSDB deve elegê-lo presidente do partido. Ele montará uma executiva com caras novas que emergiram na eleição, embora toda campanha precise, como dizia seu avô Tancredo, de alguém com cabelos brancos. Mas, no Senado ou na rua, Aécio já virou, como ele diz, “pau de enchente”. Todos o param, ainda que só para um aperto de mão.
No polo petista, a presidente Dilma governa ao largo das adversidades petistas. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava na Índia, na sexta-feira, depois de passar por África do Sul, Moçambique e Etiópia. Para alguns petistas, tal viagem numa hora dessas indicaria que, embora indignado e solidário aos companheiros, ele está subestimando os efeitos danosos do julgamento. Para outros, estaria apenas ruminando para reagir, como sempre fez quando atacado.
A aceitação de qualquer julgamento é obrigação democrática, mas a discussão é legítima e não configura desacato ao STF, como alardeia a oposição. Esse discurso, no entanto, também ganhou pernas e penas na medidas em que a reação foi desorganizada. Essa tarefa não pode ser dos condenados, mas só eles falaram até que o partido soltasse uma nota. O que João Paulo Cunha fez na sexta-feira em Osasco (SP) foi uma plenária de prestação de contas do mandato aos militares, uma atividade que todos os deputados de esquerda, não só do PT, realizam periodicamente. No entanto, foi noticiada como ato público contra o julgamento. Há notícias, no PT, de uma reação mais elaborada, comprometida com o acatamento das penas, mas buscando oferecer a verdadeira história do mensalão e desconstuir os argumentos que levaram a cada condenação. Isso inclui a teoria do domínio do fato, que substituiu as provas contra Dirceu, a dispensa do ato de ofício para condenar por corrupção passiva e, sobretudo, a tese da compra de votos com recursos que, sustenta a legenda, foram transferidos a dirigentes partidários como ajuda de campanha. O deficit de votos do PT, no período, era de 106, e não de sete votos para formar a maioria. Se já tivesse feito isso, talvez o PT tivesse convencido alguns de seus algozes. Se não o fizer no pós-julgamento, pode perder mais: o apoio de segmentos que lhe têm garantido o poder. Agora, o sangue da oposição esquentou.
A conjuntura pós-julgamento é o que preocupava Dirceu em sua passagem por Brasília, segundo interlocutores. Mais que a provável prisão, para a qual se prepara com a conhecida racionalidade. Na sexta-feira, a Operação Porto Seguro, da PF/Ministério Público, sugeria nova semana de mau tempo para o PT.
Brasil mudando. Da redução das desigualdades de renda e classe nos últimos anos, já sabemos muito. Agora, o IBGE revela números importantes sobre a redução das desigualdades regionais. Entre 2002 e 2010, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste aumentaram as participações no PIB nacional, em 0,6% a primeira e 0,5% as duas últimas. O Sul e o Sudeste perderam, no período, 1,3% e 0,4%, respectivamente. Mesmo assim, oito estados ainda respondem por 77,8% do PIB. O Distrito Federal continua tendo o maior PIB per capita (R$ 58.489,46). Tocantins foi o estado que mais cresceu no período: 74%. É consenso entre os cientistas sociais que as transferências de renda — não apenas pelo Bolsa Família, mas também por meio de aposentadorias e salário mínimo maiores, outros benefícios de prestação continuada, bolsa estiagem e similares ajudaram a dinamizar as economias das regiões mais pobres. Vamos deixando de ser Belíndia.
Fonte: Correio Braziliense
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