MENSALÃO - O JULGAMENTO
Petista quer reeditar 'caravanas da cidadania' feitas antes de chegar ao Planalto
Sem mencionar Valério, ele criticou jornais por destacar mais acusações contra políticos do que contra banqueiros
Rodrigo Vizeu, Bernardo Mello Franco e Fernanda Odilla
Um dia após vir à tona depoimento em que o empresário Marcos Valério o acusa de envolvimento direto no mensalão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mencionou a hipótese de "voltar a ser candidato" durante discurso feito em Paris.
A declaração foi feita quando ele citava a resistência eleitoral sofrida do empresariado antes de chegar ao Palácio do Planalto, em 2003.
"Certamente não votaram em mim por medo", disse o petista, acrescentando ter hoje "orgulho de dizer que eles nunca ganharam tanto dinheiro na vida" ou geraram tanto emprego quanto na sua gestão.
Em seguida, arrematou: "Espero que, se um dia eu voltar a ser candidato, eu tenha o voto deles, que eu acho que não tive nas outras eleições".
A afirmação provocou risos e aplausos na plateia, que assistia ao encerramento de seminário realizado pelo Instituto Lula e pela Fundação Jean-Jaurès, ligada ao Partido Socialista francês.
Em depoimento à Procuradoria-Geral da República, Valério disse entre outras coisas que dinheiro do mensalão foi usado para pagar despesas pessoais de Lula, que também teria dado aval para a tomada de empréstimos bancários pelo esquema.
As afirmações do operador do mensalão levaram a oposição e ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) a defenderem investigação sobre o ex-presidente.
Em reação, a presidente Dilma Rousseff ordenou que o governo e os aliados saíssem em defesa de Lula.
O ex-presidente já havia manifestado a possibilidade de voltar a concorrer a um mandato. Durante a disputa em São Paulo, ele disse que se Dilma não se candidatar à reeleição, ele assumirá disputa para "não permitir que um tucano volte à Presidência do Brasil".
Depois, em outra entrevista, se limitou a dizer que a candidata é Dilma.
Recentemente o publicitário João Santana, que comandou o marketing eleitoral de Lula em 2006 e 2010, afirmou que o ex-presidente é o melhor nome do PT para o governo paulista em 2014.
Em Brasília, integrantes do governo disseram que Lula não cogita voltar ao Planalto, mas não descarta a sugestão de João Santana.
Eles também afirmaram que o ex-presidente quer sair em caravana pelo Brasil em 2013. A estratégia é vista no Planalto como uma tentativa de se defender dos desgastes políticos recentes.
Além do caso do mensalão, a imagem de Lula foi atingida pela operação policial que flagrou uma ex-assessora sob suspeita de envolvimento com corrupção.
Lula teria dito a amigos que "está doido de vontade de fazer caravanas".
Apesar disso, não há, por ora, um plano de viagens, segundo o Instituto Lula.
As "caravanas da cidadania" comandadas pelo ex-presidente nos anos 90 e em 2001 passaram por mais de 400 cidades do país.
Imprensa
Lula concentrou a maior parte de seu discurso de ontem, de mais de uma hora, exaltando realizações de seu período à frente do governo (2003-2010) e dando conselhos para a Europa sair da crise econômica.
Sem citar diretamente o depoimento de Valério, ele criticou a imprensa.
"Quando um político é denunciado, a cara dele sai de manhã, de tarde e de noite no jornal. Vocês já viram a cara de algum banqueiro no jornal? Sabe por que não sai? Porque é ele que paga as propagandas nos jornais", disse.
Anteontem, em rápida declaração, Lula disse que o depoimento é "mentira". Ontem ele não deu entrevistas.
Seguranças o isolaram da imprensa.
O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, criticou o vazamento do depoimento, que é sigiloso. "Não vou comentar. Isso é público? Conseguiram isso como? Foi roubado? Eu não vou comentar algo resultado de um crime", disse, afirmando que falará sobre o caso no Brasil.
No depoimento, Valério diz que sofreu ameaças de morte de Okamotto, o que ele nega.
Fonte: Folha de S. Paulo
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