Pré-candidato ao Planalto anuncia hoje saída de aliados da gestão federal
Governador informa a Lula que seu partido deixará a Esplanada, mas permanecerá na base governista
Natuza Nery, Ranier Bragon, Valdo Cruz e Vera Magalhães
BRASÍLIA - Diante das ameaças do Palácio do Planalto, a cúpula do PSB resolveu se antecipar e entregará hoje os cargos que detém no governo federal. A operação é comandada pelo presidente do partido, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PE), virtual adversário de Dilma Rousseff nas eleições de 2014.
Comunicada ontem à noite ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a decisão será formalizada hoje em Brasília pela cúpula da sigla, convocada em caráter de urgência.
Será o passo mais concreto do pernambucano até agora na direção de assumir definitivamente sua candidatura à Presidência da República, o que deve ocorrer no mês de março, conforme cronograma interno do partido.
Segundo a Folha apurou, apesar da entrega dos cargos de confiança, a tendência majoritária no PSB é manter o apoio formal à presidente da República no Congresso.
Trata-se de um antídoto contra acusações veladas, atribuídas a Dilma, de que o partido flerta com a oposição mas não abre mão de seus dois ministérios (Integração Nacional e Secretaria de Portos) e postos de comando em estatais como a Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste).
Presidente do PSB, Campos está operando para que não haja rompimento agora, apenas a devolução de cargos.
Ontem, dirigentes contabilizavam apoio de 90% da Executiva, mas ainda faltava acertar o desembarque com alas resistentes a perder espaço na administração federal.
Em privado, Eduardo Campos informou haver um clima de rompimento no partido, mas considera não ser o momento político de bancar uma separação. Ele contou a aliados que trabalha para segurar a aliança em solidariedade a Lula, de quem é amigo.
Na sexta-feira passada, o ex-presidente convenceu Dilma e demais integrantes do conselho político informal da presidente a não expulsar o PSB de Campos da Esplanada, como se cogitava no Palácio do Planalto.
Há meses Dilma não esconde a irritação com o governador. Ela comentou com assessores não ter gostado nada da foto em que Eduardo Campos aparece, sorrindo, ao lado do oposicionista Aécio Neves (PSDB-MG), outro virtual candidato. Segundo a presidente, a foto era uma provocação do líder do PSB.
Outra contrariedade: a petista reprovou o apoio do pernambucano ao diplomata Eduardo Saboia, responsável pela fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina da embaixada brasileira na Bolívia para o Brasil. Saboia agiu sem autorização do Planalto, o que irritou a presidente.
Ontem, representantes do PSB na Esplanada evitaram comentar a iminente saída do governo e mantiveram suas agendas programadas para a semana.
Ainda não se sabe se o desembarque atingirá os dois ministérios, já que a Secretaria de Portos é ocupada por Leônidas Cristino, afilhado do governador Cid Gomes (PSB-CE), aliado de Dilma dentro da legenda. Na Integração Nacional, o ministro Fernando Bezerra foi indicado por Eduardo Campos.
Uma hipótese levantada por interessados em manter espaço no governo é negociar com Dilma a permanência na "cota pessoal", a exemplo do que ocorre com o ministro Afif Domingos (Micro e Pequena Empresa).
Membro do PSD, o vice-governador paulista foi admitido no primeiro escalão. Mas, formalmente, a legenda não integra o Executivo.
Um dos partidos que mais cresceram nas últimas eleições, o PSB é um tradicional aliado do PT, mas começou a ensaiar o afastamento após a sigla registrar um dos maiores crescimentos nas duas últimas eleições.
Fonte: Folha de S. Paulo
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