A espionagem e o não de Dilma aos EUA
O Brasil é o detentor da mais alta tecnologia de exploração de petróleo no fundo do mar. Está anos-luz à frente de eventuais concorrentes
Não poderia ser outro o desfecho do caso. A presidente Dilma Rousseff não vai mais aos Estados Unidos em outubro. Seria uma visita de Estado, a única marcada por Barack Obama para este ano. E olhe que o presidente norte-americano fez questão de ligar para ela na segunda-feira. Conversaram por 20 minutos. Dilma gostou do que ouviu, mas detestou ter sido espionada. E ficou ainda mais furiosa quando veio a público que também a Petrobras e o pré-sal foram alvo dos serviços de inteligência dos Estados Unidos. Fez o que deveria fazer.
É claro que a diplomacia fala mais alto quando se trata da nação mais rica do mundo e com a qual o Brasil tem muitos interesses comerciais. O anúncio oficial não traz a palavra "cancelamento". Seria forte demais, uma deselegância. Fala em "adiamento". Para quando? Ninguém sabe, ninguém ouviu. Um dia na vida, como diriam os cabeludos Beatles, de Liverpool.
Se gostou da conversa com o presidente Obama, Dilma ainda não se convenceu das explicações dadas por ele para a espionagem. Afinal, é muito difícil conseguir explicar o inexplicável. O Brasil é o detentor da mais alta tecnologia de exploração de petróleo no fundo do mar. Está anos-luz à frente de eventuais concorrentes. E uma riqueza desse porte realmente aguça a cobiça de qualquer um. De um gigante como os Estados Unidos, mais ainda.
Além disso – e o governo não vai admitir nem ajoelhado sobre milho –, há o aspecto político-eleitoral. A tendência é de que a população enxergue na atitude de Dilma uma manifestação de preservação da independência brasileira. E é provável que vá aprovar.
Para ter certeza, é preciso esperar as próximas pesquisas de avaliação do governo e pessoal de Dilma. Se vai render frutos também nas pesquisas de intenção de voto, bem, aí só os eleitores que forem entrevistados poderão dizer.
Desembarque na Normandia
Os socialistas estão chamando de desembarque na Normandia. O PSB marcou reunião extraordinária de sua Executiva Nacional hoje pela manhã em Brasília, com a presença do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente da legenda, para anunciar oficialmente a saída do governo Dilma, com a entrega de todos os cargos. Depois dos ataques sofridos por líderes do PT e do próprio governo, os socialistas avisam que "as tropas estão prontas para embarcar nos botes em direção a 2014". Mais que isso: avisam que, com a pressão sofrida, dificilmente a presidente Dilma terá apoio em um segundo turno nas eleições. Pelo jeito, Campos é mesmo candidatíssimo.
Código da Mineração
A presidente Dilma Rousseff topou, mas impôs algumas condições. A retirada da urgência constitucional do projeto do novo marco da mineração foi negociada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e envolveu compromissos a serem assumidos pelos estados interessados. O primeiro deles é de que a proposta será votada até 15 de outubro, sem desdobramentos. O segundo é de que os coordenadores de bancadas dos estados mineradores assinem um documento a ser enviado ao Palácio do Planalto com esse compromisso. A coleta de assinaturas já começou e a urgência, que tranca a pauta da Câmara, deve ser retirada rapidamente.
Beco sem saída
A discussão da votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 300, que seria ontem, foi adiada mais uma vez. A PEC estabelece piso salarial para policiais civis e militares e bombeiros. Há quem coloque a culpa na pressão dos governadores, mas, na realidade, quem não quer a criação de nenhum piso salarial é a presidente Dilma Rousseff. Até porque há também projeto de piso para os agentes comunitários de saúde e para 130 mil guardas municipais pelo país afora. E é por isso que ela mantém a pauta trancada e tem tratado mal o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), por causa do compromisso que ele fez com os policiais.
Nhém-nhém-nhém
No Senado, o projeto do fim do voto secreto ficou restrito às cassações de mandato de parlamentares. Na Câmara dos Deputados, é amplo, geral e irrestrito, o que inclui votações de vetos presidenciais e indicações de ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF), prerrogativa exclusiva do Senado. Resultado: um anda para cá e é modificado, outro anda para lá e é mudado de novo. E o deputado Antônio Roberto (PV-MG) fica como um Dom Quixote no Conselho de Ética e acusa o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), de "nhém-nhém-nhém", como diria Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Não autorizada
O deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) não perdeu a caminhada na viagem oficial que fez aos Estados Unidos e questionou o deputado Devin Nunes, que é republicano e presidente do grupo que estuda o Brasil e defende o país como parceiro comercial prioritário para os EUA, sobre a espionagem na Petrobras. Devin admitiu que, desde o 11 de Setembro, a espionagem foi intensificada, mas não interessa as questões comerciais. A senadora Ana Amélia (PP-RS) questionou: "Por que, então, fez?". O político americano não se apertou: "Algum funcionário pode ter feito de forma não autorizada. E, se descoberto, será punido por isso". Ah, bom!
PINGA FOGO
Não é só o projeto do Código de Mineração que tranca a pauta por causa da urgência constitucional. Na fila estão também as propostas de mudanças no Funrural e a de ajuda financeira a Santas Casas.
Se o PSB tem reunião hoje para discutir o desembarque do governo, o PDT também tem estará reunido para avaliar qual atitude tomar. Mas é quase certo que eles vão decidir que o partido perdeu o momento de desembarcar. Fazer isso agora seria assinar atestado de culpa.
O governador Antonio Anastasia enviou à Assembleia Legislativa proposta de emenda constitucional (PEC) que limita a nomeação do advogado-geral do Estado aos procuradores da advocacia pública.
Hoje, a legislação permite a livre nomeação para o cargo, mas exige que o advogado-geral tenha no mínimo 35 anos de idade, notável saber jurídico e reputação ilibada.
Para quem ainda tem dúvidas sobre a saída do PSB do governo Dilma Rousseff, basta a frase do líder do partido na Câmara dos Deputados, Beto Albuquerque (RS): "Nós não somos o partido da boquinha". Tudo indica que já está decidido.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, condena a resistência dos Conselhos Regionais de Medicina (CRM) a dar registro aos médicos cubanos. "É lamentável, tremenda insensibilidade", reclamou Padilha antes de reclamar de tentativa de boicote.
Fonte: Estado de Minas
Nenhum comentário:
Postar um comentário