David Capistrano da Costa
Filho de José Capistrano da Costa e Cristina Cirila de Araújo, nascido em 16 de novembro de 1913, em Boa Viagem, Ceará. Casado com Maria Augusta de Oliveira, tinha três filhos. Dirigente do Partido Comunista Brasileiro - PCB. Participou do Levante de 1935, como sargento da Aeronáutica, sendo expulso das Forças Armadas e condenado, à revelia, pelo Estado Novo, a 19 anos de prisão. Participou da Guerra Civil Espanhola como combatente das Brigadas Internacionais e da Resistência Francesa, durante a ocupação nazista. Preso em um campo de concentração alemão, foi libertado e regressou ao Brasil em 1941. Em 1945, foi anistiado e, em 1947, eleito deputado estadual em Pernambuco. Entre 1958 e 1964 atuou na política pernambucana e dirigiu os jornais A Hora e Folha do Povo.
Com o golpe militar, entrou na clandestinidade e asilou-se na Tchecoeslováquia, em 1971. Retornou ao Brasil, em 1974, atravessando a fronteira em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, em um taxi de propriedade de Samuel Dib, que o hospedou em sua casa. Foi sequestrado, aos 61 anos de idade, juntamente com José Roman, no dia 16 de março de 1974, no percurso entre Uruguaiana e São Paulo. Sua bagagem foi vista por presos políticos no DOPS de São Paulo, o que indica a passagem dele por aquele departamento policial. Em março de 1978, o Superior Tribunal Militar reconheceu sua prisão, afirmando, entretanto, sua libertação após uma semana, sem esclarecer as condições. Julgado à revelia, foi absolvido pela Justiça Militar, em setembro de 1978, juntamente com 67 pessoas acusadas de reorganizar o PCB.
O documento n° 203/187 DOPS/RJ afirma: “Segundo anotações neste Departamento, em 16 de setembro de 1974, David Capistrano da Costa encontra-se preso há quatro meses, sendo motivo da Campanha da Comissão Nacional Pró-Anistia dos Presos Políticos”.
No Relatório da Marinha consta a seguinte informação sobre David: “... tendo sido preso na Unidade de Atendimento do Rocha, em SP”. Seria o Hospital Psiquiátrico de Franco da Rocha?
Trechos de depoimento de sua companheira Maria Augusta:
“David, em 1972, foi para a Europa, uma vez que a situação política do país não permitia sua permanência no Brasil. Desde 1965, sofria perseguições políticas, mas a partir de 1972 não foi mais possível ficar no País. Durante o tempo em que esteve fora do Brasil era difícil manter contato, mas a família sabia que pretendia voltar. Em março de 1974, fomos avisados de que voltaria ao Brasil. Certa manhã, no mês de março, minha filha, Maria Carolina, chegou em casa muito preocupada informando que a família de José Roman havia avisado que David e José Roman haviam saído do Rio Grande do Sul em direção a São Paulo e não se tinha mais notícias deles.
Imediatamente fui à imprensa para denunciar o fato. Somente agora soube pela esposa de José Roman que certo indivíduo que trabalhava em um posto de gasolina contou há pouco tempo que David e José Roman estiveram no posto de gasolina deixando escritos seus nomes em um papel porque desconfiavam que estavam sendo seguidos.
Na mesma ocasião, desapareceram Hiran Pereira, Luis Maranhão Filho, João Massena e Jaime Miranda. Os familiares desses desaparecidos começaram a se reunir no escritório do advogado Modesto da Silveira, no Rio de Janeiro, e em seguida outros familiares de desaparecidos nos procuraram e começamos a agir coletivamente. Começamos a procurar movimentos organizados da sociedade, pedindo apoio, tendo conseguido na época que Tristão de Athaíde, furando o bloqueio da censura, publicasse um artigo sobre os desaparecidos. O título era: “Os esperantes”.
Estive em todos os órgãos de repressão em busca de David sendo sempre negada a prisão do mesmo. Em certa ocasião, fui ao DOI-CODI da Barão de Mesquita acompanhada da irmã de David, pessoa com grande semelhança física com ele. O oficial que nos atendeu, embora negasse sua prisão e desconhecesse a identidade de sua irmã, traiu-se ao perguntar à mesma se era irmã de David. Tenho certeza pela reação do oficial que ele estava preso na Barão de Mesquita, nessa ocasião.
Naquela época, comentava-se também que vários presos políticos, e entre eles David, estariam no Juqueri (Hospital Psiquiátrico Franco da Rocha). Foi tentada a comprovação desse fato, inclusive por dom Paulo Evaristo Arns, mas nada foi conseguido. Pressionado pelo movimento dos familiares e entidades da sociedade civil, o governo da época divulgou notícia afirmando que David continuava na Europa, não tendo retornado ao Brasil. Meses depois, juntamente com outros familiares e dom Paulo Evaristo, estivemos com Golbery do Couto e Silva, quando foi entregue relatório de cada um dos desaparecidos, sendo que o general Golbery disse aos presentes que analisaria os documentos e daria uma resposta. Tal resposta nunca veio
David foi indiciado em processo o qual, finalmente julgado, o absolveu.
O médico Amílcar Lobo, há pouco tempo, disse a minha filha Maria Carolina, que David foi o último preso que ele assistiu enquanto torturado na Barão de Mesquita. Eu sei que David portava documento em nome de Eneas Rodrigues da Silva.
Algum tempo após o desaparecimento de David, Samuel Dib, em depoimento prestado à policia, descreveu pormenorizadamente a entrada de David no Brasil através da fronteira com a Argentina e sua viagem até São Paulo”.
Fonte: Tortura nunca mais / Desaparecidos
Nenhum comentário:
Postar um comentário