Deputados reclamam de contradição entre estratégia eleitoral e atuação do Palácio do Planalto
Encontro está previsto para depois da votação do Marco Civil da Internet
Fernanda Krakovics – O Globo
BRASÍLIA - Diante da crise com o PMDB, do crescente descontentamento da bancada do PT na Câmara com a articulação política do governo e da preocupação com o impacto desses percalços na campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula fará uma reunião com deputados federais do partido para tentar acertar os ponteiros. Há críticas também quanto à negociação dos palanques regionais feita pelo presidente do partido, Rui Falcão.
Deputados do campo majoritário do PT reclamam que as ações do Palácio do Planalto e da direção do partido em relação ao PMDB não correspondem à estratégia traçada para as eleições de outubro, que tem como prioridade reeleger a presidente Dilma.
— Em 2002, 2006 e 2010 tínhamos uma estratégia muito clara das campanhas presidenciais. Em 2002 fizemos uma aliança com o centro, com o vice José Alencar; em 2010 era muito clara a prioridade da aliança com o PMDB. Agora, a tese aprovada no congresso do partido e pelo Diretório Nacional, com 80% dos votos, coloca o PMDB como aliança estratégica, mas o pessoal está meio perdido, porque as ações do governo e da direção do partido vão no sentido contrário. Há uma certa contradição — afirmou um deputado da Construindo um Novo Brasil (CNB), maior corrente do PT.
A princípio, a reunião com Lula estava prevista para a próxima segunda-feira, na sede do PT, em Brasília, mas o encontro foi adiado para depois de viagem do ex-presidente à Espanha, para onde vai na próxima quarta-feira. Além de problemas de agenda de Lula e dos deputados, que já tinham compromissos agendados nos estados e não costuma ficar em Brasília às segundas-feiras, o partido achou conveniente fazer a conversa após a votação do Marco Civil da Internet, prevista para a próxima semana.
O presidente do PT se reuniu na tarde de anteontem com o líder do partido na Câmara, deputado Vicentinho (SP), para discutir a panela de pressão que se tornou a bancada. Ele também tinha uma reunião marcada na noite de anteontem com deputados insatisfeitos, mas o encontro foi adiado e deve ser feito em conjunto com Lula.
Integrantes da corrente majoritária do PT consideram um erro, por exemplo, o lançamento da candidatura do senador Lindbergh Farias (RJ) ao governo do Rio de Janeiro contra o PMDB. A avaliação, no entanto, é que agora a situação está cristalizada e não há como voltar atrás.
— O Lindbergh vendeu para o Lula que, como o Pezão (vice-governador Luiz Fernando Pezão) estava lá embaixo nas pesquisas, ele ia reunir os partidos em uma ampla coligação. E agora cadê? Ele está sozinho. Sem contar que ele (Lindbergh) ameaçou ir para o PSB e dar palanque para o Eduardo Campos, mas não interessa, o Rui (Falcão) tinha que ter segurado. O partido não podia ter estimulado a candidatura — afirmou um membro da CNB.
Vice-presidente do PT, Alberto Cantalice, defendeu ontem o lançamento de Lindbergh e reclamou do vazamento das críticas, afirmando que isso enfraquece a pré-candidatura petista no Rio.
Na reunião do diretório nacional do PT, ontem, Falcão defendeu, de acordo com presentes, a atuação do governo na crise com o PMDB; disse que os peemedebistas não vão romper a aliança nacional, atribuindo a rebelião a um grupo que nunca teria sido fiel ao governo; e afirmou que os peemedebistas reclamam, mas, por ora, só apoiarão o PT no Distrito Federal, nas eleições de outubro.
Um dos críticos da estratégia do Palácio do Planalto de tentar isolar o líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), o deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente do PT, defendeu na reunião do diretório, de acordo com participantes, que a aliança com o PMDB tem que ser mais programática, e não só eleitoral.
O Palácio do Planalto e dirigentes do PT, no entanto, têm minimizado a crise com o PMDB e a ameaça dos peemedebistas de não fazer campanha para Dilma nos estados, dizendo que o que importa é o tempo de TV no horário eleitoral gratuito. Eles confiam que o vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer, vai domar o partido e garantir a aprovação da aliança na convenção nacional.
Apesar de a relação com o PMDB ter tomado boa parte da reunião do diretório, o partido resolveu não fazer nenhuma referência ao aliado no texto de resolução política aprovado no encontro "para não dar mais pano para manga".
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