Cara ou coroa, à sua escolha: aquilo que em alguns casos pode ser chamado de propaganda enganosa, também pode ser interpretado como talento criativo, uma engenhosa criação de marketing.
Os especialistas em manipulação de emoções sabem bem como fazer isso: basta estimular com imagens ou palavras o lóbulo frontal esquerdo do cérebro e plantar nele a ideia que se quer vender, tenha ela relação ou não com a verdade dos fatos.
Publicitários e/ou marqueteiros, consciente ou inconscientemente, com maior ou menor talento, fazem isso. Políticos também. A maioria deles intuitivamente, por vocação inata.
Quando Lula precisou de um nome para lançar à presidência da República jogou as suas fichas em Dilma Rousseff, que não tinha em seu histórico nem uma larga experiência política, nem sequer uma longa vivência partidária, nem era uma das mães fundadoras da legenda, e resolveu forjar-lhe uma identidade que substituísse o escasso carisma ou a falta das qualificações da experiência.
Foi assim que nasceu “a gerente”. Reza a lenda que ela ia às reuniões ministeriais ostentando um laptop onde tomava as suas notas, e isso lhe valeu como um certificado de eficiência. Essa passou a ser a identidade de sua “persona” política.
Todos os pés pelas mãos que ela possa ter metido ajudaram a desgastar bastante a imagem de “gerentona”, a que tudo sabe, a que dá pito em todo mundo, a que cobra, faz e acontece, auréola que geralmente acompanha os manda-chuvas de grandes empresas.
Sabe-se que na política esse tipo de eficiência tem pouca valia e mais vale o jogo de cintura, a habilidade e a flexibilidade no trato com seus correligionários, seus adversários, a opinião pública e o inconsciente coletivo.
O mito da eficiência esboroou-se lentamente na lida do dia a dia, principalmente no trato com os assuntos sobre os quais vendeu-se a lenda de que eram áreas de seu absoluto domínio, como a questão energética.
Um passivo de 100 bilhões de dólares em perda de valor de mercado das duas maiores empresas do setor, demonstrado pelo colunista Elio Gaspari em sua última coluna na Folha, foi o resultado direto de uma gestão errática que ela imprimiu ao setor que supostamente dominava como a palma de sua mão.
Mas a pá de cal na reputação da gerente foi a questão da compra da refinaria sucateada de Pasadena que provocou um prejuízo de 1 bilhão de dólares ao caixa da Petrobrás. Ela era presidente do Conselho da estatal e declarou, do próprio punho, que deu parecer favorável à compra baseada num parecer “falho” e “incompleto”.
Viu-se depois que era um resumo do parecer, que omitia os itens duvidosos, e que o Conselho não leu o parecer completo.
Se há ou não alguma coisa estranha por trás do negócio, não vem ao caso. Isso cabe a uma CPI ou a PF investigar.
Numa empresa privada, um gerente assim seria convidado a passar no caixa e ir exercer a sua eficiência em outro lugar.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez e "Armênio Guedes, Sereno Guerreito da Liberdade"(editora Barcarolla).
Fonte: Blog do Noblat
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