• Se deixar de ser candidata "de protesto" e passar a ter chances reais de vitória, terá de esclarecer o que pensa sobre os graves problemas econômicos do país
A percepção, ainda na quarta-feira, dia da queda do avião de Eduardo Campos, de que as eleições presidenciais tomariam outro rumo se confirmou com a primeira pesquisa eleitoral pós-tragédia, da Datafolha, divulgada ontem pela "Folha de S.Paulo", com Marina Silva como candidata ao Planalto pelo PSB. Apurada nos dois dias seguintes ao desastre, a sondagem comprovou o cacife eleitoral de Marina, superior ao do ex-governador de Pernambuco: enquanto Campos, na última pesquisa, aparecia em terceiro lugar, com 8% de preferência, abaixo de Aécio (PSDB) e Dilma (PT), Marina obteve o índice de 21% de apoio, praticamente empatada com Aécio (20%). O candidato do PSDB se manteve no mesmo nível apurado pela pesquisa anterior, assim como Dilma, esta nos 36%.
Deve-se considerar que a pesquisa foi feita em meio a grande comoção. Mesmo assim, é considerando o fortalecimento da candidatura do PSB, com Marina Silva, que analistas e estrategistas têm de lidar. Pesquisa realizada em abril já indicara apoio a ela de 27% dos eleitores.
Há constatações indiscutíveis. Por exemplo, que está garantido o segundo turno — salvo hecatombes. E nele, Marina Silva ganharia de Dilma por 47% a 43% . A vitória petista só ocorreria se o adversário fosse Aécio Neves: 47% a 39%.
Outra constatação — já indicada pelo fato de os candidatos petista e tucano terem permanecido nos mesmos níveis da sondagem anterior — é que Marina atrai de maneira bastante forte aqueles que, sem ela na cabeça da chapa do PSB, votariam em branco ou nulo ou não sabiam quem escolher. Também candidatos nanicos perdem eleitores. Marina Silva funciona como um aspirador no quadro eleitoral, preservados Dilma e Aécio. Atrai o voto dos desiludidos com a política, bandeira de Eduardo Campos.
Marina Silva precisa, no entanto, transitar com cautela no espaço do PSB, em que há lideranças, como o atual presidente nacional da legenda, Roberto Amaral, defensores da adesão ao PT e Dilma. Some-se a isso que Marina propôs sua adesão a Eduardo Campos por não ter conseguido registrar seu partido, a Rede. É difícil afastar a ideia de que o PSB serve de "barriga de aluguel" para a nova legenda.
Outro tema delicado é a obediência a alianças seladas por Campos em alguns estados, sem o entusiasmo de Marina. O caso mais evidente é São Paulo, em que o PSB cede Márcio França, presidente local do partido, para vice na chapa do tucano Geraldo Alckmin, candidato à reeleição. E há, ainda, acertos com representantes do agronegócio, demonizado por Marina Silva — pelo menos no passado.
Se deixar de ser uma candidata "de protesto" para ter chances reais de vitória, Marina precisará deixar claro o que pensa sobre os graves problemas econômicos. O PSB prepararia uma espécie de "Carta aos Brasileiros", como fez Lula/PT em 2002, para Marina assinar. Seria bom começo.
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