• Paulo Roberto Costa revela que havia corrupção em outra diretoria da Petrobras e aponta o PT como beneficiário direto
Rodrigo Rangel – Veja
Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras que decidiu contar para as autoridades sua experiência na operação de um esquema bilionário de corrupção montado na maior estatal brasileira, ascendeu na hierarquia da companhia por força do Partido Progressista, o PP.
A sigla integrava a base aliada do governo Lula e, para manter seu apoio, exigiu que fosse aquinhoada com cargos relevantes e orçamentos polpudos. A diretoria de Abastecimento da Petrobras era um desses postos cobiçados em Brasília. Nomeado, Paulo Roberto foi tão eficiente que, como se sabe, logo passou a ter outros padrinhos poderosos. Virou homem de confiança de um consórcio de partidos que, além do próprio PP, incluía PT e PMDB — que se locupletaram de propinas arrecadadas entre as empreiteiras a serviço da Petrobras. É o exemplo mais espetacular do que está por trás da cobiça de algumas excelências.
Como VEJA revelou há duas semanas, a lista de beneficiários do esquema inclui algumas das autoridades mais importantes da República. A Petrobras, motivo de orgulho para os brasileiros, virou um poço sem fundo para a corrupção — e a diretoria de Paulo Roberto, segundo ele próprio, não era a única que servia ao propinoduto. Aos policiais federais e procuradores encarregados de ouvi-lo, o ex-diretor afirmou que outras áreas da empresa também eram usadas para arrecadar dinheiro para políticos e partidos. Ele citou, especificamente, a diretoria de Serviços, comandada por Renato Duque, ligado ao PT e indicado pelo ex-ministro José Dirceu, condenado como chefe do mensalão. Duque chegou à diretoria da Petrobras em 2003, no início do primeiro governo Lula, e, assim como Paulo Roberto, seguiu no posto após a posse da presidente Dilma Rousseff.
Se na diretoria de Abastecimento o esquema controlado por Paulo Roberto tinha de atender a uma trinca de partidos, na de Serviços o beneficiário era um só, o PT, com uma diferença importante que o ex-diretor fez questão de realçar: a diretoria comandada por Renato Duque tinha mais dinheiro para gastar do que a dele. Paulo Roberto deu aos investigadores indicações de que, na "diretoria do PT",
a administração das comissões pagas pelas empresas era feita diretamente pelo tesoureiro nacional do partido, João Vaccari Neto, que nega. Como se não estivesse cristalino que o dinheiro saía das empreiteiras contratadas, cinicamente Vaccari justifica que empresas públicas como a Petrobras não podem fazer contribuições de campanha. Renato Duque não foi localizado.
A primeira etapa dos depoimentos prestados por Paulo Roberto como parte do acordo de delação premiada foi encerrada. Na semana passada, o Jornal Nacional, da Rede Globo, revelou que o ex-diretor admitiu ter recebido 1,5 milhão de reais de propina pela compra da refinaria americana de Pasadena, negócio que deu um prejuízo bilionário à Petrobras — VEJA havia antecipado que o ex-diretor confessara às autoridades que a transação serviu para desviar dinheiro. As revelações de Paulo Roberto atemorizam e também confundem a cabeça de alguns políticos. O ex-presidente Lula, por exemplo, liderou um ato público em frente à sede da companhia, no Rio, para "defender a empresa". Vestindo uma jaqueta laranja dos funcionários da petroleira, Lula atacou a investigação, principalmente a parte que cabe ao Congresso: "Tenho a impressão de que essas pessoas pedem CPI para, depois, os empresários correrem atrás delas e achacarem esses empresários para ganhar dinheiro". No mesmo dia em que Lula bradava contra os "inimigos da Petrobras", o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli, nomeado por ele e responsável pela companhia durante boa parte do período em que a corrupção corria solta, prestava depoimento à Justiça. O ex-presidente não deu nome aos achacadores. A lista deve ser extensa demais.
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