• De volta ao patamar que ocupava quando estava em segundo lugar na corrida eleitoral, o tucano Aécio Neves comemora o crescimento da "onda da razão". Dá tempo de virar?
Bela Megale – Veja
Num encontro só com mulheres, Aécio Neves começou seu discurso na quarta-feira passada, em São Paulo, comemorando o que batizou de "onda da razão". No dia anterior, o Ibope havia apontado um aumento de 4 pontos nas intenções de voto a seu favor. Voltou à casa dos 19 pontos, número similar ao que ostentava como segundo colocado nas pesquisas antes de Marina Silva entrar na disputa. Na sexta-feira, o Datafolha mostrou que o tucano tem a menor rejeição de todos os candidatos, com 21% (Dilma permanece no topo, com 33%, seguida de Marina, com 22%). Por fim, Aécio recebeu a notícia de que o instituto GPP, que em duas rodadas de pesquisas qualitativas com 3800 eleitores havia concluído, vinte dias atrás, que a maioria do eleitorado reconhecia em Marina Silva a "candidata da mudança", agora apontou que o quadro se alterou — Aécio é o mais citado como o melhor para mudar, com cerca de 60% das menções. Com isso, o ex-governador de Minas deu por encerrada a pior fase de sua campanha, iniciada no dia 13 de agosto, com a morte de Eduardo Campos.
O dado que mais animou a tropa tucana foi que dobrou o número de eleitores que rejeitam Marina. De 11%, taxa que ela tinha na primeira pesquisa após a morte de Campos, o número foi para 22%. No mesmo período, o índice do mineiro subiu apenas 3 pontos. Na avaliação dos tucanos, o crescimento da rejeição da ex-senadora indica que a estratégia de mostrá-la como "uma continuidade do PT" está funcionando. Pesquisas qualitativas da legenda revelam que o que tira mais votos da ex-ministra de Lula não é a suposta incoerência de propostas ou a falta de equipe credenciada, mas sua ligação de vinte anos com o partido de Dilma Rousseff.
Ao atingir as metas de estancar a sangria e voltar ao patamar próximo dos 20% nas pesquisas, o partido conseguiu afastar, ao menos por enquanto, seu pior fantasma: o medo de se perder entre os nanicos no fim da corrida eleitoral e passar a imagem de que o PSDB "morreu". Agora, para continuar crescendo, a campanha vai redobrar esforços para conquistar o voto antipetista. Aécio dirá que há dois PTs na disputa, um representado por Dilma e outro por Marina. "A campanha vai mostrar que quem tem força para enfrentar o partido que está há doze anos no poder é Aécio", diz um integrante da equipe de marketing. Além de peças publicitárias, o candidato continuará a explorar dados econômicos negativos do governo, como o baixo crescimento do PIB. O senador porá a culpa em Dilma e a incapacidade de resolver o problema em Marina, como vem fazendo.
A campanha vai fugir de assuntos controversos. A ideia de lançar o programa de governo no início deste mês num grande evento foi suspensa após as críticas que rondaram o documento do PSB. Além de evitar assuntos espinhosos, o programa, de caráter "generalista", segundo um de seus formuladores, só será apresentado ao público às vésperas da eleição, para dar pouco espaço para julgamentos. O tucano continuará avisando ao eleitor que, se perder, estará na oposição, de forma a esvaziar o discurso de Marina de que governará "com os melhores". A decisão, no entanto, divide o partido. Nomes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador paulista Geraldo Alckmin e o governador de Goiás, Marconi Perillo, já deram sinais de que embarcariam numa aliança. O candidato a vice Aloysio Nunes e o coordenador do programa de governo Arnaldo Madeira estão no polo oposto. A semana termina menos mal para Aécio. Sua ida para o segundo turno continua sendo improvável. Mas deixou de ser inimaginável.
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