• A presidente Dilma sabe de tudo isso e, provavelmente, de muito mais, embora até agora tivesse preferido negar os problemas ou desclassificá-los como invenção e exagero dos pessimistas
- O Estado de Se. Paulo
A presidente Dilma sabia.
Embora o tivesse negado ao longo da campanha eleitoral, sabia, por exemplo, que as contas públicas estão sofrendo de anemia porque as despesas crescem 13,2% enquanto as receitas, apenas 7,2%.
Sabia que a inflação ameaça estourar o teto da meta e disparar para ainda mais alto; que o crescimento do PIB deste ano e também o de 2015 serão miseráveis; que, apesar da Mãe do PAC e dos leilões de serviços públicos, o investimento está em queda livre; que as contas externas estão em deterioração e ameaçam a cobertura ao rombo crescente em transações correntes; e que o nível de confiança de quem produz é o mais baixo em muitos anos.
A presidente Dilma sabia, ainda, que a indústria envelheceu e vai perdendo competitividade todos os dias; que o setor do etanol está sendo asfixiado pelos preços represados dos combustíveis; que, apesar da transferência recorde de contas a pagar ao consumidor, enormes incertezas pairam sobre o setor de energia elétrica; que, além de ter sido sangrada em bilhões de reais, a Petrobrás não está dando conta das tarefas de que foi encarregada; que mais da metade das exportações brasileiras está perdendo preço (queda das cotações das commodities); que há anos o Brasil não fecha nenhum novo acordo comercial; e que está seriamente ameaçado de perder o grau de investimento e, em consequência disso, provocar uma avalanche de problemas adicionais para a economia.
A presidente Dilma sabe de tudo isso e, provavelmente, de muito mais, embora até agora tivesse preferido negar os problemas ou desclassificá-los como invenção e exagero dos pessimistas. Muito possivelmente, as soluções ficaram para depois, uma vez que a prioridade foi a de ganhar as eleições.
Agora, de volta ao Palácio do Planalto, não mais terá de identificar e dizer como pretende equacionar cada encrenca. Simplesmente, terá de enfrentá-las. Quando tudo é empurrado para quando der, como aconteceu pelo menos nos últimos seis meses, não há muito como organizar uma ordem racional de prioridade. As emergências tendem a atropelar a agenda.
A presidente Dilma se elegeu garantindo que repelia soluções ortodoxas e que nada de substancial mudaria. Ela terá de mudar agora, mesmo correndo o risco de ser acusada pela militância do seu partido de estelionato eleitoral e de traição dos juramentos feitos ao longo da campanha.
Tudo ficaria mais fácil se investisse pesadamente na recuperação da confiança. Isso passa, por exemplo, pela nomeação de uma equipe econômica capaz de fortalecer os fundamentos da economia abalados pelos programas que cuidaram de reelegê-la.
O problema é que, em grande parte, isso passaria por colocar de lado seu jeito de ser, intervencionista e centralizador. Desde meados de agosto, ela veio passando o recado de que banqueiros, empresários e o resto do Brasil que votou na oposição estão sempre prontos para avançar sobre o prato de comida dos pobres. E isso pode ser cobrado quando fizer suas escolhas.
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