• Resta saber se o jovem líder esquerdista Alexis Tsipras fará o que prometeu nos palanques ou se, confrontado pela realidade, buscará uma gestão responsável
A vitória de Alexis Tsipras, líder do partido radical de esquerda Syriza, nas eleições gregas do último domingo coloca o país diante de um difícil dilema. A expressiva votação no principal partido da oposição significa um claro repúdio às consequências sociais da política de austeridade econômica adotada pelo agora ex-premier Antonis Samaras, do Nova Democracia. Embora duras, tais medidas não apenas buscavam reequilibrar as finanças do país, destruídas por anos seguidos de irresponsabilidade fiscal, como garantiram o acordo de resgate financeiro grego no valor total de € 245 bilhões.
O resgate manteve a Grécia solvente, o que, entre outras coisas, viabilizou sua permanência no bloco europeu e também sinalizou um caminho claro de combate à crise da zona do euro. O dinheiro vem sendo liberado em parcelas à proporção que a Grécia cumpre as metas de austeridade estabelecidas no acordo — cuja supervisão é feita periodicamente pela chamada troika: Comissão Europeia, FMI e Banco Central Europeu. Tais recursos, é bom lembrar, provêm dos bolsos dos contribuintes europeus, notadamente dos países mais prósperos, como a Alemanha.
A lógica é que os efeitos negativos do aperto fiscal, como desemprego e perda de benefícios sociais, serão compensados à medida que o país volte a crescer de forma sustentável e duradoura. Tais sinais já se vislumbravam no horizonte, com a recente saída da Grécia de uma persistente recessão. Mesmo assim, o gosto amargo do remédio acabou azedando o clima das eleições, cuja retórica em busca de votos tende a simplificar as complexas implicações da situação grega. Nos palanques, Tsipras prometeu acabar com a austeridade, e suas palavras foram tomadas por vários analistas como um sinal de colisão com a União Europeia.
Mas a estratégia funcionou. O Syriza obteve 149 vagas no Parlamento de 300 assentos, dois a menos para obter autonomia de governabilidade. Esta foi confirmada ontem, após o anúncio de uma coalizão, inesperada, com o partido conservador Gregos Independentes, liderado por Panos Kammenos. Os próximos passos do novo governo grego definirão o futuro do país, inclusive se permanecerá ou não no bloco europeu. O desfecho também sinalizará um caminho para grupos políticos nacionalistas, à direita e à esquerda, que defendem a desintegração do bloco.
Resta saber se o jovem líder do Syriza, o primeiro de extrema-esquerda a chegar ao poder na zona do euro, vai traduzir a retórica dos palanques, para recorrer à imagem criada pelo “Financial Times”, em um programa populista de governo à la Hugo Chávez — que cobra hoje um alto preço da população venezuelana — ou, confrontado pela realidade, buscará uma gestão pragmática, como fez Lula no início de seu governo.
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