• Se forçar demais a mão, esquerda tira Grécia da eurozona, com novo desastre econômico
- Folha de S. Paulo
A esquerda grega ora vitoriosa pode seguir três caminhos, do péssimo ao menos pior, passando pelo ruim: suicídio político, autoflagelação econômica e tortura econômica com mais ou menos desconto, a depender da habilidade de Alexis Tsipras, o novo premiê grego, e sua coalizão, o Syriza.
O suicídio político imediato será, óbvio e improvável, deixar as coisas como estão. Caso a Grécia dê o calote e tenha de abandonar a eurozona, haverá outros tantos anos de horror econômico. Resta negociar um desconto da tortura imposta pelas forças de ocupação econômica. De quanto será o desconto é uma das questões políticas mais importantes da Europa de agora.
O grande trunfo de Tsipras é também sua maior fraqueza. O trunfo é o alerta que a vitória do Syriza representa: a paciência do povo anda pelas tampas; talvez seja preciso aliviar a pressão social. A fraqueza vem daí mesmo: caso a elite europeia faça alguma concessão aos gregos, pode animar ainda mais as esquerdas. Logo, talvez seja bom cortar o mal pela raiz ou bem rente, dando apenas uma esmola.
Para início de conversa e negociação, a elite europeia recusa a revisão do "ajuste" grego, mas faz um aceno de extensão do prazo para pagamento da dívida, acompanhado da "permissão" de aumento de gastos com miseráveis, pois agora há fome na Grécia, um país com o dobro da renda média brasileira. Seria esmola, derrota política para o Syriza.
Em um artigo espantoso para o diário britânico "Financial Times", Reza Moghadam sugeriu, por exemplo, que se perdoe metade da dívida grega e que se reduza também pela metade a poupança do governo.
Quem é o famoso Moghadan? Um vice-presidente do bancão Morgan Stanley e ex-chefe do departamento de Europa do FMI. Como executivo do Fundo, negociou o pacote de "ajuste" grego, pelo que faz um mea culpa.
Desde 2008, a renda média grega (PIB per capita) caiu 25%, um desastre da escala da Grande Depressão dos anos 1930 (na média, a perda na eurozona foi de uns 3%). O custo do trabalho ponderado pela produção (custo unitário do trabalho) caiu dez pontos percentuais, um arrocho histórico, de longe o maior da eurozona, onde, aliás, tal indicador subiu, com exceções previsíveis como Espanha e Portugal. A redução do deficit público grego foi uma das maiores.
Aliás, as necessidades de financiamento do governo são menores que as de muito país "sério". O problema é que a dívida é uma das maiores do mundo, um dos motivos pelos quais o país não tem crédito (além de ser uma desordem ineficiente).
Tsipras tem de arrancar pelo menos um corte na dívida (a ser bancado pelos governos europeus ricos) e um alívio no arrocho fiscal, à maneira do sugerido pelo banqueiro do Morgan Stanley (Paul Krugman acha que isso é pouco, não vai dar em grande coisa).
A alternativa é o calote, a saída do euro, a volta da dracma e um arrocho ainda maior, pois o país não teria crédito por anos: o governo teria de viver do que arrecada (ainda menos, dada a nova crise) e apenas no limite daquilo do que conseguiria exportar. Além do mais, teria de amargar uma inflação mais ou menos violenta, se não superinflação.
Tsipras está entre a cruz e a caldeirinha, no fio da navalha.
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