• PSDB anunciou que vai convocar Dirceu e Vaccari para depor na CPI que trata das denúncias que envolvem estatal
Cristiane Jungblut – O Globo
BRASÍLIA — O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB-MG), disse nesta sexta-feira que a presidente Dilma Rousseff demonstra certo "desespero" e zomba do país e dos brasileiros ao falar apenas de denúncias de corrupção na Petrobras relativas à década de 1990, quando os tucanos comandavam o Brasil na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele disse que Dilma — que falou sobre o assunto nesta manhã — deveria fazer mea culpa pelos erros éticos cometidos pelo seu governo. Aécio disse que o governo do PT "institucionalizou a corrupção".
O tucano disse que a presidente Dilma deveria aceitar também como fato a parte do depoimento de Pedro Barusco que trata de repasses provenientes do esquema de corrupção ao PT. Ao seu lado, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), anunciou que o partido vai pedir na CPI da Petrobras da Câmara a convocação do ex-ministro José Dirceu, do tesoureiro do PT João Vaccari Neto, e dos ex-diretos da Petrobras Pedro Barusco e de Renato Duque.
Aécio montou uma reação da máquina do PSDB às declarações da petista, convocando a tropa de choque para uma reunião no Senado, em plena sexta-feira. O tucano primeiro evitou em falar em desespero de Dilma, mas depois disse que há sim.
— Acho que tem sim uma dose de desespero da presidente, porque o governo perdeu, de certa forma, o controle do processo. As coisas vão surgir, não há como segurar isso. A presidente zomba da inteligência dos brasileiros. Esse assunto é de extrema gravidade e não é possível que a presidente o trate de forma tão simplista e tão incorreta. — disse Aécio, depois de encerrar a entrevista coletiva.
Irônico, Aécio disse que as declarações de Dilma deveriam ser consequência de conselhos do marqueteiro João Santana. Na verdade, a presidente Dilma não citou diretamente Barusco, mas a corrupção na década de 90. Em depoimento, ele disse que recebeu dinheiro nessa época.
— Provavelmente essa declaração é fruto das últimas conversas que a presidente teve com seu marqueteiro. A presidente, mais uma vez, tenta levar os brasileiros à ilusão de que vivemos num país que não é real. Tudo isso aconteceu de forma institucionalizada. Quem diz isso são os depoimentos, os delatores, porque isso beneficiava um projeto de poder. Era hora sim, e falo isso de forma muito franca, de a presidente da República fazer sua mea culpa: olhar nos olhos do seu governo e dizer que seu governo errou e errou muito. Errou na condução da economia, durante a campanha eleitoral ao pregar a mentira, o terrorismo como arma de campanha. E errou, principalmente, no seu comportamento ético. Enquanto não houver a mea culpa do governo, os brasileiros continuarão a se sentir iludidos e lesados pela presidente da República e pelo seu governo.
Aécio disse que o PT criou uma estrutura de poder para se beneficiar.
— Mas o que é grave, o que estamos assistindo no Brasil é algo que jamais havia acontecido na nossa história, que é a institucionalização da corrupção em benefício de um projeto de poder. E se seu Pedro Barusco tem credibilidade, segundo a presidente, para dizer o que fez em 1997 e 1998, é preciso que a presidente e o governo deem credibilidade ao que ele disse que fez ao longo dos últimos 12 anos — disse ele.
— Vejam depois de um conveniente silêncio que durou cerca de dois meses certamente para se distanciar das medidas econômicas tomadas por seu governo (...), a presidente reaparece parecendo querer zombar da inteligência dos brasileiros ao atribuir o maior escândalo de corrupção da nossa história patrocinado pelo PT a um governo de 15 anos atrás. Na verdade, parece que a presidente volta a viver no país da fantasia, que conduziu sua campanha e que tanta decepção trouxe inclusive a seus eleitores.
Quanto à convocação do ex-presidente Lula, Aécio foi evasivo. Ele disse que não tomaria essa iniciativa, mas acrescentou que a CPI da Petrobras está aberta a "todas as possibilidades". O PPS e do DEM já defendem a convocação de Lula.
— Não vou tomar iniciativa individual nessa direção, mas a CPI deve estar aberta a todas as possibilidades. Vamos atuar em conjunto com os partidos de oposição, no sentido de termos uma ação coordenada, conjunta e estratégia bem traçada. Não temos postos de comando — disse Aécio.
O senador disse ainda que o PSDB não teme investigação sobre o passado.
— Mas a presidente só dá valor a um parágrafo, a um lado do depoimento de Pedro Barusco. O PSDB não tem qualquer receio que se investigue o que quer que seja. Mas é é preciso que ela dê crédito (ao depoimento de Pedro Barusco) e venha a público dizer o que acha do centro de seu depoimento, onde ele afirma que US$ 200 milhões de dólares foram transferidos para o PT nos últimos 12 anos, boa parte disso entregue ao tesoureiro de seu partido. Acredito que ele, no governo do PSDB, por iniciativa própria, e é ele quem diz, fez sim um entendimento com um dirigente de uma empresa, a qual havia beneficiado, e recebeu uma propina individualmente, transferindo para uma conta em seu nome. Isso é triste, lamentável e ele será punido também por isso — disparou Aécio.
No caso de Lula, Aécio criticou o fato de as empresas investigadas na Operação Lava-Jato estarem procurando o ex-presidente e pedindo ajuda.
— Custo crer que isso possa ser verdade. É algo tão acintoso à própria democracia: num país, onde as instituições são sólidas e funcionam de forma independente, recorrer a um ex-presidente como se o Brasil fosse uma republiqueta, onde a interferência política pudesse mudar o rumo das investigações, é desconhecer a realidade de um país que, se não avançou em seus procedimentos éticos, avançou na solidez das instituições. Cabe a nós políticos estarmos vigilantes para impedir que haja manipulação ou qualquer tentativa de politizar algo que deve continuar caminhando estritamente na esfera judicial e obviamente policial — disse Aécio.
O líder Carlos Sampaio anunciou que serão apresentados os requerimentos para as convocações. E, no caso do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ele será ouvido apenas na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), como anunciou o PSDB do Senado nesta semana.
— Dilma ficou por dois meses calada. Para vir a público dizer a bobagem que disse, melhor que continuasse calada — disse Carlos Sampaio.
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), foi na mesma direção.
— É uma tentativa de transferir responsabilidades. A casa caiu, e o Palácio está para ruir — resumiu Cássio Cunha Lima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário