• Afundado em problemas econômicos, governo da Venezuela recorre a medidas autoritárias para se proteger; Brasil não pode ficar calado
Incapaz de reconhecer os erros que lançaram a Venezuela em um círculo vicioso de violência e crise econômica, o presidente Nicolás Maduro recorre à escalada autoritária para blindar seu governo.
O alvo da vez é o prefeito da área metropolitana de Caracas, Antonio Ledezma, preso na quinta-feira (19) dentro de seu gabinete por agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin).
O nome de Ledezma amplia uma lista de políticos detidos que inclui, entre outros, Leopoldo López, ex-prefeito de Chacao, e Raúl Baduel, ex-ministro da Defesa (2006-2007, gestão de Hugo Chávez). Com variações sutis, todos são acusados de conspirar contra o país.
Mesmo que Ledezma quisesse arquitetar um golpe, como alega Maduro (sem provas), ele dificilmente teria força para tanto. Perseguido pelo chavismo, o oposicionista eleito em 2008 comanda um governo apenas no papel.
Em represália a sua vitória, o então presidente Hugo Chávez retirou atribuições da prefeitura metropolitana de Caracas. Saíram de seu guarda-chuva escolas, hospitais, cartórios públicos e até o Palácio do Governo. As prerrogativas foram transferidas a um governo biônico, e Ledezma passou a despachar de um escritório privado.
A prisão de um líder oposicionista com poucos poderes revela o grau de desespero e extremismo a que chegou Maduro. Oprimindo críticos de sua administração, procura não só silenciar protestos mas também atribuir a terceiros a culpa pela penúria da Venezuela.
A situação do país é grave. Sofrendo com elevadíssimas taxas de violência e inflação, registrou queda de 2,8% do PIB no ano passado. Sua população pobre foi de 25,4% para 32,1% de 2012 a 2013, e hoje escasseiam produtos básicos.
São as consequências das escolhas do chavismo, que desmantelou o setor privado, no campo econômico, e enfraqueceu as instituições, no político.
Ridículo enquanto retórica, o diversionismo de Maduro constitui preocupante ameaça quando se traduz em ações práticas --ameaça diante da qual o Brasil não pode permanecer calado.
Por ironia da história, Antonio Ledezma veio ao Brasil em outubro de 2009. Defendeu, no Senado, a entrada da Venezuela no Mercosul. Recebeu acolhida o argumento de que, dessa forma, seu país poderia ser instado a cumprir a cláusula democrática do bloco.
Contudo, misturando afinidades ideológicas e interesses comerciais, o Mercosul --e o Brasil-- finge que não vê a Venezuela violar preceitos básicos em qualquer democracia.
Uma nota do Itamaraty nem basta nesse caso. É preciso empreender esforços para fazer valer a cláusula democrática do Mercosul. A comunidade internacional com razão entenderá como cumplicidade a eventual omissão do Brasil.
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