- O Estado de S. Paulo
Este é o momento em que a crise econômica mais se mistura com a crise política. A economia patina porque a política está encrencada; a política está encrencada porque a economia patina.
As pessoas se perguntam até que ponto, num ambiente desses, dá para confiar numa política econômica que se baseia no ajuste das contas públicas, se o próprio governo vacila, sente que o chão lhe some debaixo dos pés, não diz coisa com coisa e quase não governa mais.
Até agora, por exemplo, não foi capaz de explicar nem à população nem ao próprio PT aonde desembocará esse programa de aperto de cintos e de farta distribuição de contas à população. Garante que a crise é passageira, mas não mostra em que se baseia esse diagnóstico. É por coisas assim que nem chegou ao terceiro mês de seu segundo mandato e vê esfarinhar-se seu capital de votos.
Nessas condições, apenas uma política de fortalecimento dos seus fundamentos da economia seria capaz de dar suporte às novas relações de poder. O governo Dilma não tem estratégia. Não se encontra nem na defensiva, porque até mesmo a defensiva exigiria um plano consistente de ação.
Arrasta-se a reboque dos fatos e reage a esmo. Não pode mais distribuir favores e subsídios, porque o Tesouro é uma teta murcha. Às manifestações e aos panelaços, responde com propostas mal costuradas, como as de reforma política ou de leis requentadas contra a corrupção. Como sente o solapamento de sua base de apoio no Congresso e nas ruas, ora acena para o MST, ora para sindicatos que, no entanto, só podem oferecer velharias descoladas do interesse da sociedade.
Paradoxalmente, o vácuo de poder que está empurrando o PMDB para o miolo do governo pode dar mais consistência política ao programa de ajuste fiscal. Como precisa dar firmeza e sustentabilidade ao crescimento econômico, o PMDB, na contramão de pelo menos metade do PT, entendeu que não há futuro sem fortalecimento das contas públicas.
Também ao contrário do que alguns comentaristas vêm dizendo, a nova proposta do PMDB de reduzir o número de ministérios dos atuais 39 para pelo menos 20 não é um projeto de redução de despesas. É apenas um jeito de recusar o jogo político desempenhado pelo PT.
Aparentemente, o PMDB começa a enjeitar a política tradicional de cooptação, baseada no toma lá dá cá, prática da qual a distribuição de ministérios é parte integrante. E passou a exigir participação efetiva nas decisões de governo.
O forte recuo das cotações do dólar no câmbio interno nos dois últimos dias úteis pode ter várias causas, mas também deve refletir esse sentimento de que a crise política tende a empurrar em direção ao fortalecimento do ajuste das contas públicas. Como foi nas primeiras semanas de janeiro? Por que se sentiu alijado das decisões nacionais, o PMDB colocou obstáculos às propostas de ajuste. À medida que se sentir integrado ao governo, tenderá a apressar sua aprovação.
Em todo o caso, não dá para ignorar que este é um tempo de crise. Como todas as crises, a gente sabe como começa, mas não sabe como termina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário