- O Globo
O juiz Sérgio Moro, responsável pelas ações judiciais da Operação Lava-Jato, tomou ontem medidas que podem ser decisivas para que novas provas surjam no processo do petrolão: aceitou a denúncia da Procuradoria da República contra o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e o enviou para a cadeia do Complexo Médico-Penal em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.
Não que tenham sido decisões isoladas contra Duque, já que ele está no grupo de 26 pessoas que passaram a ser réus da ação penal, e das 13 que foram transferidas da Polícia Federal para a cadeia pública. Mas Duque é a figura central neste momento em que a Operação Lava-Jato chega a um ponto crucial das investigações, para provar que as doações "legais" ao PT pelas empreiteiras não passaram de um instrumento de lavagem do dinheiro desviado da Petrobras.
O ex-gerente Pedro Barusco, subordinado de Duque na Petrobras, está fornecendo detalhes que tornam verificáveis suas acusações, como as planilhas de distribuição de propinas com as datas, o que está permitindo ao Ministério Público comparar os dias de desembolso de verbas para as obras da Petrobras e com a chegada de dinheiro na conta do PT, por exemplo.
Em novo depoimento tornado público ontem, Barusco deu detalhes sobre reuniões em hotéis no Rio e em São Paulo onde ele, Duque e o tesoureiro do PT João Vaccari faziam a divisão das verbas, e nas quais Vaccari trazia as demandas dos empreiteiros para a Petrobras. Como deu dia e hora das reuniões, a investigação poderá pedir aos hotéis as gravações de vigilância para constatar as reuniões.
E como disse que antes de chegar aos locais geralmente enviava mensagens de texto para Vaccari, será razoavelmente fácil verificar, com a quebra do sigilo, se as mensagens foram realmente trocadas, no dia e na hora das reuniões citadas. Como se vê, aos poucos o Ministério Público vai fechando o cerco para conseguir provas do que, a princípio, parecia difícil demonstrar: a lavagem de dinheiro desviado da Petrobras com a chancela do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O fato de apenas o presidente da UTC, Ricardo Pessoa, ter ficado na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, a pedido do Ministério Público, pode indicar que a delação premiada daquele que é apontado como o presidente do clube das empreiteiras está a caminho.
Da mesma maneira, ter se tornado réu do processo faz com que Renato Duque esteja mais próximo do que nunca do momento de decisão sobre sua própria delação premiada. Indicado pelo PT, ele é a ligação direta das falcatruas com o partido governista, e pode revelar detalhes sobre a cadeia de comando do esquema ainda não desvendados totalmente nas investigações até agora.
Quando esteve na CPI da Petrobras e decidiu ficar em silêncio, Duque só saiu da postura combinada com seus advogados duas vezes: para falar sobre sua família, desmentindo que sua mulher tenha procurado a ajuda do ex-presidente Lula, e para pedir, quase com raiva, que não o confundissem com Pedro Barusco, seu ex-gerente que declarou tomar conta até das próprias finanças de Duque que, segundo ele, era muito desorganizado.
A raiva que Duque demonstrou ter de seu agora companheiro de processo penal só revela a indignação do ex-diretor com as revelações que Barusco tem feito. Enquanto este está em liberdade devido à delação premiada, Renato Duque está na cadeia, próximo de uma condenação que será mais rigorosa do que a do próprio delator.
A preocupação revelada por alguns ministros do STF com relação ao descasamento dos julgamentos dos políticos e dos empreiteiros só vai aumentar, pois a previsão é que até o meio do ano as primeiras sentenças do juiz Sérgio Moro estejam dadas, enquanto o STF ainda demorará a receber as denúncias do procurador geral da República contra os políticos.
Isso significa que os empreiteiros e ex-dirigentes da Petrobras têm pouco tempo para decidir revelar seus segredos antes de serem condenados em primeira instância.
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