• Restrição ocorre em meio a forte saída de recursos da poupança, principal fonte de crédito
• Mudança vai exigir entrada mais alta e beneficiar construtoras, que estão com estoque elevado de novos
Toni Sciarretta, Joana Cunha - Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - A Caixa Econômica Federal, responsável por 70% do crédito imobiliário no país, decidiu reduzir de 80% para 50% o valor máximo do financiamento dos imóveis usados de até R$ 750 mil com os recursos da poupança.
A mudança, que vale a partir da próxima segunda (4), ocorre em meio a forte saída de dinheiro da poupança (os saques superaram os depósitos em R$ 23 bilhões de janeiro a março), principal fonte de financiamento do setor.
A alteração exigirá um valor maior de entrada nos financiamentos de imóveis usados (veja simulação), beneficiando diretamente as construtoras e incorporadoras, que estão com estoque elevado de imóveis encalhados. O setor responde por 5% do PIB, segundo o Sinduscon-SP (sindicato da construção).
Para os imóveis acima de R$ 750 mil, que não têm o dinheiro carimbado da poupança, a Caixa reduziu o valor máximo de financiamento de 70% para 40%.
Além de estimular a construção civil, a mudança tem o potencial de diminuir o ritmo de venda e até os preços dos imóveis usados no país, principalmente se a Caixa for seguida pelos demais bancos.
Segundo especialistas, o financiamento de usados poderá virar um nicho de maior atuação dos bancos privados, que, sem a concorrência da Caixa, poderão trabalhar com taxas e margens ligeiramente maiores de ganho.
Questionados pela Folha, só o Bradesco informou que as condições seguirão as mesmas (80% de financiamento máximo). O Santander informou que, até o momento, o limite será de 80%. Itaú e BB não se manifestaram.
Novos x usados
O segmento de usados sempre predominou no crédito imobiliário no país. No ano passado, do total de R$ 112,9 bilhões de financiamentos concedidos com dinheiro da poupança, 72,2% foram destinados a imóveis usados e 27,8% para a construção.
De janeiro a março deste ano, os imóveis novos só levaram 23,2% dos R$ 24,1 bilhões concedidos para a casa própria. O desempenho de março, que será divulgado nesta semana, mostrará uma retração de 4,6% no volume de empréstimos concedidos.
Para Eduardo Zaidan, vice-presidente do Sinduscon, a restrição da concessão de crédito terá impacto generalizado no mercado de imóveis novos e usados.
Mercado travado
"Primeiro, a medida vai tirar a liquidez do mercado de usados. Se eu tenho mais dificuldade para vender o meu velho, vou ter menos dinheiro para comprar um novo."
"O mercado de usados vai travar. O comprador do novo não conseguirá fechar o negócio com a construtora sem vender o imóvel antigo", disse Celso Amaral Neto, da Amaral d'Avila Avaliações.
Flávio Prando, vice-presidente do Secovi-SP (sindicato da habitação), negou que o setor tenha feito lobby pela medida. "Vai afetar a todos. Para quem tem recursos, será um bom momento para a compra de usados", disse.
Colaborou Deise de Oliveira, editora-adjunta de 'Imóveis'
Nenhum comentário:
Postar um comentário