• Provavelmente apenas dentro de algumas semanas será possível dispor de avaliação mais segura sobre os critérios adotados no balanço da Petrobrás, mas dá para dizer que foi dado um passo importante para sanear a empresa
- O Estado de S. Paulo
O tão aguardado balanço auditado da Petrobrás não chegou a surpreender porque, diante de tanta incerteza, todas as possibilidades estavam em aberto.
Já é fato fortemente positivo ter saído um balanço auditado, algo que parecia impossível desde novembro. Provavelmente apenas dentro de algumas semanas será possível dispor de avaliação mais segura sobre os critérios adotados. Dá para dizer que foi dado um passo importante para sanear a empresa. A Petrobrás pode sair daí mais enxuta, porém mais sadia.
Também tem de ser visto se a predação praticada sistematicamente pelos políticos está definitivamente afastada e se as políticas do governo para o setor deixarão de ser tão prejudiciais como foram para a Petrobrás.
Na edição de terça-feira, esta Coluna apontou providências urgentes que se tornaram necessárias depois das baixas do balanço. Mas há outras pedindo ação e, talvez mais do que isso, clareza.
A derrubada dos preços do petróleo em quase 50% obrigou todas as empresas do setor a reexaminarem a viabilidade de seus negócios. A diretoria anterior garantia que o custo operacional oscila em torno dos US$ 55 por barril, incluídos aí os custos do transporte. É provável que estes estejam hoje mais baixos, porque boa parte dos custos dos equipamentos também caiu ou ainda vai cair. Hoje, o tipo Brent, que serve de referência para a Petrobrás, está um pouco acima desses US$ 55 por barril. Nem os investidores nem os analistas têm clareza sobre o novo ponto de equilíbrio.
Ao longo de sua história de sucessos, a Petrobrás projetou uma falsa imagem de eficiência. As omissões e a falta de controles de sua diretoria que hoje se conhecem ajudam a compor novo diagnóstico. As demissões feitas ao longo da primeira administração Dilma, com o objetivo de coibir atrasos e decisões desastradas, escancararam graves problemas administrativos. Logo após sua posse, a então presidente da empresa Graça Foster advertiu que investimentos tão mal feitos como os da Refinaria Abreu e Lima, no Recife, e os do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) não poderiam se repetir. Neste último, equipamentos caros ficaram inutilizados porque, no meio do caminho, a Petrobrás substituiu seu principal insumo: em vez de nafta, optou pelo gás natural. São confissões de falhas graves de decisão e governança. O presidente Aldemir Bendine garantiu nesta quarta-feira que esta é uma página virada. É esperar para crer.
A Petrobrás também parece mais sujeita a autuações por desrespeito a padrões ambientais, que podem custar multas pesadas. A queima de etapas destinadas a corrigir quebras de cronograma pode ter provocado graves omissões nessa área. São questões recorrentes sobre as quais faltam esclarecimentos.
Também não foram explicadas as condições dos últimos financiamentos obtidos com os chineses (US$ 3,5 bilhões) e com os bancos estatais do Brasil (R$ 6,5 bilhões), semanas ou dias antes de conhecidos os resultados do balanço. Como puderam instituições financeiras sérias emprestar recursos tão vultosos sem conhecer as reais condições financeiras da empresa? Que garantias foram oferecidas para essas operações?
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