• Presidente da sigla, Rui Falcão não descarta volta do tesoureiro afastado
Tatiana Farah e Sérgio Roxo – O Globo
SÃO PAULO - O ex-deputado federal Márcio Macêdo (SE) é o novo tesoureiro do PT em substituição a João Vaccari Neto, preso na quarta-feira pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Em sua campanha eleitoral do ano passado, Macêdo recebeu doação de R$ 95 mil da Andrade Gutierrez, uma das empresas investigadas na Operação Lava-Jato.
O dinheiro que acabou na campanha à reeleição de Macêdo a deputado federal passou por Vaccari, já que a doação original da empreiteira foi para o Diretório Nacional do PT. O novo tesoureiro não conseguiu se reeleger e acabou como suplente. A Andrade Gutierrez, suspeita de participar do cartel que fraudava licitações na Petrobras, foi a principal doadora da campanha de Macêdo no ano passado. No total, ele arrecadou R$ 493,7 mil.
A Andrade Gutierrez informou que todas as doações eleitorais realizadas pela empresa seguem rigorosamente a legislação brasileira e são sempre direcionadas para os diretórios nacionais dos partidos políticos. A empresa acrescenta que cabe aos partidos definir quais candidaturas recebem esse dinheiro. Macêdo não foi localizado.
Desconhecido nacionalmente, o biólogo Macêdo, de 44 anos, começou a carreira política no movimento estudantil nos anos 1990. Também já presidiu os diretórios do PT de Aracaju e de Sergipe. Em 2006, coordenou as campanhas de Marcelo Déda (PT) ao governo do estado e de Lula a presidente, em Sergipe. Foi deputado federal entre 2011 e 2014.
A escolha ocorreu em reunião do Diretório Nacional da legenda, em São Paulo. Macêdo faz parte da corrente CNB, a mesma de Vaccari.
O líder do governo na Câmara, José Nobre Guimarães (CE), disse que o novo tesoureiro não é um tampão e cumprirá todo o mandato, até 2017.
— É um nome novo do Nordeste, um quadro experimentado. A escolha foi muito ponderada. Escolhemos o nome certo para a hora certa — afirmou o deputado.
Mâcedo não participou da reunião, mas, segundo os petistas, foi consultado e aceitou assumir a função.
Outros nomes que haviam sido apresentados, como o do deputado estadual José Américo e do vice-presidente da legenda Alberto Cantalice, foram rejeitados dentro da chapa PMB, que engloba as correntes CNB, Novo Rumo e PTLM.
O partido teve dificuldade para escolher o sucessor de Vaccari. O novo tesoureiro só foi definido após mais de seis horas de reunião. Dois dos últimos quatro ocupantes do posto foram presos (além de Vaccari, Delúbio Soares foi condenado no escândalo do mensalão).
No artigo que divulgou à imprensa, o presidente do PT, Rui Falcão, afirma que o país assiste "ao nascimento de estado de exceção dentro do estado de direito" por causa de, segundo ele, tentativas de criminalização do partido. "Com método, obstinação e grandes recursos midiáticos, as classes dominantes transformam o boato em notícia, a suspeita em denúncia, a calúnia em verdade", escreveu Falcão, concluindo que "tentam cobrir o PT com a lama de sua hipocrisia".
O petista se refere ao processo vivido pelo partido desde o mensalão, afirmando que "nenhum outro partido sofreu uma campanha de desmoralização tão furiosa" como sua legenda. "Em 2005, acharam que bastara fazer-nos 'sangrar até morrer'", escreveu o presidente do PT. Para ele, o julgamento do mensalão "ocorreu com inédita pressão da mídia sobre os membros do STF (Supremo Tribunal Federal) e a prevalência de aberrações jurídicas como a aplicação da tese do 'domínio do fato'".
Já na resolução assinada em nome do diretório nacional, o PT reafirma a posição de Falcão e critica setores da imprensa, afirmando que "ocupam a linha de frente da empreitada restauradora (do conservadorismo)" e "comandam a onda reacionaria, estimulam o terrorismo econômico, convocam a ocupação das ruas contra o governo e procuram criar clima de condenação moral contra o PT".
A nota de resolução avança ainda sobre o Judiciário e a prisão de João Vaccari. "Nas condições em que ocorreu (a prisão), demonstra que o clima de ódio e revanche envolve também fatias da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário". A investigação da operação Lava-Jato é considerada pela legenda um "espetáculo de atropelos legais, politicamente manipulado a serviço das forças antipetistas
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