Raphael Di Cunto e Fernando Taquari - Valor Econômico
BRASÍLIA eSÃO PAULO - A oposição adota uma distância estratégica do rompimento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o governo enquanto aguarda a volta do recesso para avaliar efetivamente como será a postura do pemedebista neste novo cenário e os desdobramentos das denúncias contra ele na Operação Lava-Jato.
Se por um lado esperam que o novo posicionamento de Cunha aumente a quantidade de temas em que estarão unidos na Câmara para provocar desgastes no governo e no PT, tucanos ouvidos pelo Valor procuram manter uma distância protocolar do pemedebista e rejeitam tacitamente a classificação de que agora pertencem ao mesmo grupo.
"Não há o que falar em aliança. São convergências em torno de conteúdos", afirma o deputado Marcus Pestana (MG), que classifica o movimento de Cunha como "pendular", ora aliado ao governo, ora aliado à oposição. "Na PEC da Bengala, convergimos. Na redução da maioridade penal, ele tinha uma postura mais radical e aderiu à nossa proposta. Mas nos vários projetos do ajuste fiscal ficamos em lados completamente opostos", pondera.
A negativa, repetida por vários tucanos com os quais o Valor conversou, embute um afastamento à espera dos desdobramentos da denúncia feita pelo lobista Julio Camargo, da Toyo Setal, de que o presidente da Câmara o pressionou a pagar US$ 5 milhões em propina por contratos da Petrobras. Cunha nega e a maioria dos deputados por enquanto lhe dá o benefício da dúvida, mas o PSDB quer se manter distante o suficiente para abandonar o pemedebista sem prejuízos à sua imagem pública.
Pestana lembra: PMDB e PSDB têm anunciado a intenção de lançar candidaturas à Presidência em 2018 e o PMDB ainda está na base do governo, embora um de seus líderes tenha rompido. "São projetos de poder diferentes."
Com exceção de partidos de oposição que apoiaram Cunha na disputa pela presidência da Câmara, como Solidariedade, PSC e DEM, as outras legendas contrárias ao governo - PSDB, PPS e PSB - votavam com o pemedebista em pautas pontuais, principalmente quando nos embates com o PT, como na terceirização e na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras.
"Não precisamos nos unir ao Cunha. Até porque votamos no Júlio Delgado [PSB-MG] na eleição da Mesa Diretora. Agora, se ele tomar medidas que vão de encontro aos nossos interesses, ótimo. Não vamos negar esse apoio", diz um deputado da bancada paulista do PSDB.
Os oposicionistas imaginam que estas alianças se tornarão mais constantes, como nas CPIs dos Fundos de Pensão e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que o pemedebista mandou instalar na sexta-feira e em que o PMDB cogita ceder um dos postos mais relevantes - a presidência ou a relatoria - para a oposição.
Enquanto os principais líderes do PSDB evitam comentar o caso, tucanos estudam se reunir nos próximos dias para debater a postura em relação aos desdobramentos da crise política e das denúncias. Não é aguardado nenhum desagravo como ocorreu na CPI da Petrobras logo após o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar a abertura de investigação contra Cunha, mas também são improváveis críticas públicas até que novas informações sobre o inquérito sejam conhecidas.
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