Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo
• Lava Jato. Decisão do juiz federal Sérgio Moro é a primeira que atinge investigados na operação ligados a construtoras; presidente da maior empreiteira do País é indiciado por corrupção, lavagem de dinheiro, fraude a licitações e crime contra a ordem econômica
A Justiça Federal condenou ontem ex-executivos da construtora Camargo Corrêa por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Também ontem, a Polícia Federal indiciou o empresário Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira do País, por corrrução, lavagem de dinheiro, fraude em licitações e crime contra a ordem econômica. As duas decisões são desdobramentos da Operação Lava Jato, que investiga a Petrobrás. Foi a primeira condenação de empreiteiros, ainda em primeira instância, no âmbito da Juízo Final, etapa da operação que alcançou as empreiteiras que atuam na estatal.
A decisão é do juiz Sérgio Moro, que conduz as ações penais decorrentes da investigação sobre corrupção e propinas empresa petrolífera. Os crimes referem-se às obras das refinarias Abreu e Lima e Repar. Dalton dos Santos Avancini, que foi presidente da empreiteira, e Eduardo Leite, ex-diretor vice-presidente, foram condenados a 15 anos e dez meses de reclusão. Os dois fizeram delação premiada nos autos da Operação Lava Jato e, por isso, o juiz Sérgio Moro concedeu a eles regime de prisão domiciliar.
João Ricardo Auler, ex-presidente do Conselho de Administração da empreiteira, pegou nove anos e seis meses de reclusão por corrupção e pertinência à organização criminosa. Ele foi, absolvido do crime de lavagem de dinheiro. O juiz também condenou o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. O agente da Polícia Federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Jayme Careca, foi condenado a 11 anos e dez meses de prisão por lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Na mesma sentença, o magistrado absolveu o empresário Márcio Andrade Bonilho, do Grupo Sanko Sider, do crime de corrupção ativa, por falta de prova. Também foi absolvido Adarico Negromonte Filho - irmão do ex-ministro das Cidades do governo Dilma Rousseff Mário Negromonte - da imputação do crime de pertinência à organização criminosa e de lavagem. Os empresários já não exercem mais funções na Camargo Corrêa.
Eles foram condenados por fatos que, segundo a força-tarefa da Lava Jato, ocorreram no período em que ocupavam a cúpula da empreiteira - Dalton dos Santos Avancini era presidente, João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração e Eduardo Hermelino Leite, o "Leitoso", exercia o cargo de vice-presidente da Camargo Corrêa. Avancini, que já esteve preso em Curitiba (PR), sede da operação, vai cumprir ainda cerca de um ano de prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica.
Polícia. Marcelo Odebrecht foi indiciado por corrupção, lavagem de ativos, fraude a licitações e crime contra a ordem econômica, supostamente praticados em contratos da Petrobrás. Em relatório de 64 páginas, o delegado Eduardo Mauat da Silva atribui os mesmos crimes a outros dirigentes da Odebrecht -Rogério Santos de Araújo, Alexandrino de Salles de Alencar, Márcio Faria da Silva, Cesar Ramos Rocha, afastados após serem presos.
O agente público da Petrobrás Celso Araripe de Oliveira e os executivos Eduardo de Oliveira Freitas Filho e João Antonio Bernardi Filho também foram indiciados. Odebrecht e outros investigados foram presos no dia 19 de junho, quando deflagrada a Operação Erga Omnes, 14ª. etapa da Operação Lava Jato. O inquérito contra a cúpula da empreiteira foi aberto dia 27 de outubro de 2014, após a deflagração da Juízo Final, fase da Lava Jato que pegou o cartel instalado na Petrobrás. O relatório será agora submetido ao Ministério Público Federal para eventual oferecimento de denúncia.
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