• Se alguém acreditou em que a crise atual tem fôlego curto, ou já reviu ou terá de rever essa postura
- O Estado de S. Paulo
Só não houve decepção porque a evolução calamitosa do PIB do segundo semestre, divulgada nesta sexta-feira, já era esperada e já vinha sendo cantada por outros indicadores econômicos.
O Brasil vive um momento de estagflação, de queda da atividade econômica com inflação, com a séria agravante de que a atividade econômica não é apenas ruim, mas é muito ruim; e a inflação não é apenas alta, mas é alta demais.
Até há alguns meses ainda predominava a percepção de que essa fase ruim seria provisória, que o ajuste em curso passaria a economia a limpo e que, dentro de mais alguns meses, a recuperação viria, como o nascer do sol a cada manhã. Mas não é o que agora vai sendo entendido.
O desempenho do PIB nos próximos seis a oito trimestres continua apontando para baixo. Como estes últimos números estão demonstrando, o investimento (Formação Bruta de Capital Fixo), que é o crescimento futuro, despencou 8,1% sobre o trimestre anterior . O consumo das famílias não se limitou a se desacelerar, mas caiu mais que o PIB (-2,1%), também sobre o primeiro trimestre, e tende a continuar caindo, porque o desemprego está explodindo e a renda média está em franca retração. Enfim, se alguém acreditou em que a crise atual tem fôlego curto, ou já reviu ou terá de rever essa postura, apesar das reiteradas afirmações da presidente Dilma em contrário.
Por trás do mau desempenho da economia brasileira, não está só um novo quadro da economia internacional, que derrubou a demanda pelos principais produtos de exportação do Brasil, mas graves mazelas internas. O rombo das contas públicas está em forte aceleração e a dívida bruta caminha para os 70% do PIB. A deterioração das condições fiscais é fator que, por si só, prejudica tudo, porque aumenta a insegurança, adia o investimento e provoca a fuga de capitais.
Por todos os sinais que chegam deste governo fraco e das demais forças políticas em ação no País, ainda não há disposição suficiente para reverter esse desequilíbrio fiscal e para botar a casa em ordem. Se essa arrumação não acontecer; se as despesas continuarem viajando de automóvel e as receitas, de carroça, o governo não terá outra saída senão emitir moeda. Quando isso acontecer, a política de juros do Banco Central ficará impraticável e o ajuste virá por aumento da inflação e do desemprego.
Não há como saber agora quanto tempo levará um processo desse tipo, de forte deterioração das condições econômicas. O que se pode dizer é que, se não houver rápida virada nas condições da economia e nas relações de poder, a deterioração também tende a ser mais rápida.
Nem tudo é só estrago porque não há uma crise cambial, o País detém US$ 370 bilhões em reservas. Mais que tudo, coisas importantes estão acontecendo num nível mais profundo. As instituições do País mostram solidez e já não dependem tanto do comportamento de quem esteja episodicamente à sua frente. O impressionante protagonismo do Judiciário é exemplo disso. Apesar do sufoco, o brasileiro parece mais amadurecido. Já não aceita, como no passado, saídas autoritárias. O Brasil não é a Venezuela nem a Argentina e isso conta.
Sem perspectiva
O investimento ficou nos 17,8% do PIB. É o menor nível desde o segundo trimestre de 2006. A avaliação corrente entre economistas brasileiros é a de que, para que o País possa crescer em torno de 2% ao ano, teria de garantir um investimento de 22% do PIB. Por aí se vê que não há perspectiva disso. Só a título de comparação, o investimento da China é de 51% do PIB e o da Coreia do Sul, de 30% do PIB.
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