• Dados do PIB indicam recessão maior do que se imaginava dias atrás; governo precisa apontar saídas para a crise
A recessão brasileira é maior do que se calculava até sexta-feira (28), quando foram divulgados os números do PIB relativos ao segundo trimestre. A atividade econômica recuou 1,9%, desempenho próximo das piores estimativas; os dados do final de 2014 e do início de 2015 foram revisados para baixo.
As previsões para o ano tendem a se tornar mais sombrias. Projetava-se regressão de 2% a 2,5% do PIB. Os novos prognósticos já ultrapassam o teto dessa banda de pessimismo, confirmando que a economia brasileira deve sofrer a maior contração desde a queda de 4,3% em 1990, no governo Fernando Collor (então no PRN).
Não há, por ora, como contradizer as avaliações mais negativas.
O consumo das famílias declinou pelo segundo trimestre consecutivo, o que não ocorria desde 2003, na crise que marcou o final dos anos Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O investimento em novas instalações produtivas e em construção encolhe agora por oito trimestres consecutivos. O nível de confiança do consumidor e dos empresários está nas mínimas históricas, há estoques em demasia nas empresas e a deterioração do mercado de trabalho deve continuar pelo menos até meados de 2016.
As taxas de juros devem permanecer em níveis escorchantes por algum tempo. A degradação da situação financeira do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e sua desorientação política devem solapar ainda mais o ânimo de investimento das empresas.
A solitária nota positiva do balanço da economia deve-se à melhoria nas contas externas. A produção nacional torna-se mais barata devido à desvalorização do real, e a indústria passa a substituir itens antes importados.
É provável que a baixa do PIB trimestral no restante do ano não seja tão grande quanto a verificada de abril a junho. Não será melhoria, mas retrocesso menor.
Para 2016, o avanço adicional no setor externo e a baixa na inflação devem tornar o quadro menos dramático, embora se projete estagnação, na melhor das hipóteses.
Seja como for, muito depende da solução da crise de governo, de um plano que impeça a degradação contínua das contas públicas e de um projeto politicamente viável de reformas.
Uma crise crônica, porém, pode lançar ainda mais descrédito sobre a capacidade de pagamentos do governo e incentivar fugas de capitais, que derivariam em desvalorizações então daninhas do real e em altas de juros.
Não se trata de destino, mas seria o resultado do descaso ou da incapacidade de lidar com a emergência crítica: um cenário cada vez mais realista de grave desordem.
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