• Cai tradicional slogan do PT de que "eles quebraram o país"
- Valor Econômico
Há sempre uma cautelosa ponderação de que o cenário é demasiadamente volátil para se respirar totalmente aliviado. Garantir que a situação está sob controle, então, nem pensar. Mesmo assim, a presidente Dilma Rousseff e seus articuladores políticos observaram nas últimas duas semanas um arrefecimento no que até então parecia um iminente risco de enfrentarem um impeachment. Mas ainda buscam estimar quanto tempo esse cenário perdurará, enquanto partidos de situação e oposição analisam o custo-benefício de se assumir o governo a poucos meses das eleições municipais.
A mensagem do Palácio do Planalto é de distensão. Dilma e seus auxiliares sabem que parte dos aliados quer romper com o governo e isso levará até mesmo líderes de legendas governistas a adotarem posicionamentos conflitantes com as posições do Executivo porque precisam acenar para a suas bases eleitorais.
Na semana passada, o PMDB apresentou à sociedade um plano próprio para retirar o país da crise, numa demonstração de que de fato usará o congresso agendado para o dia 17 de novembro para dar início a uma marcha que tem as eleições de 2018 como destino e na qual gradualmente se descolará do governo e do PT.
Esse tipo de movimento não se limita ao PMDB. O PDT não dá a Dilma garantia alguma de que votará a favor de medidas do ajuste fiscal que possam atingir direitos dos trabalhadores, mesmo ganhando peso na reforma ministerial feita pela presidente. E já lançou o ex-ministro Ciro Gomes como possível pré-candidato a presidente para 2018.
A tramitação do Orçamento do ano que vem é outro exemplo. O relator da proposta orçamentária, deputado Ricardo Barros (PP-PR), é vice-líder do governo na Câmara. Isso não lhe impôs nenhum constrangimento ao defender um corte do Bolsa Família. Pelo contrário. O parlamentar vem recebendo apoio nas redes sociais de seus eleitores, que assim como o PP têm um perfil mais liberal e não são os maiores entusiastas do aumento de gastos com os programas sociais do governo do qual participam.
O que há em comum entre essas iniciativas são críticas a diversas políticas adotadas pelas administrações de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as quais resultaram na desaceleração da economia, com um crescimento da taxa de desemprego que pode atingir dois dígitos em breve, um quadro fiscal desafiador e a alta da inflação.
Não mais apenas quem foi chamado de "pessimista" por Dilma durante a disputa eleitoral que aponta o difícil momento da economia doméstica. Em uma recente análise sobre o mercado de trabalho, por exemplo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entidade vinculada ao Ministério do Planejamento, afirmou que "a taxa de desemprego apresenta uma tendência de elevação expressiva".
Apesar da negação petista em relação à relevância da opinião das agências de classificação de risco, o cenário fiscal divulgado pelo próprio Ministério do Planejamento e pelo Tesouro Nacional no fim de outubro faz um alerta que não é novidade para o mercado: a eventual perda do grau de investimento dado por uma segunda das três grandes agências pode ter efeitos "consideráveis" sobre os indicadores financeiros e econômicos do Brasil, com resultados negativos para os investimentos e a oferta de crédito - justamente a aposta do PT e de Lula para a retomada da atividade econômica. Investidores acreditam que a decisão de uma dessas agências deve ocorrer já no início do ano que vem e refletirá o que o governo conseguir realizar nos próximos meses.
Não à toa o ex-presidente, que até então vinha criticando a estratégia do governo de sua sucessora, tenta agora redirecionar seu partido a fim de acelerar a aprovação do ajuste fiscal no Congresso e abrir espaço para uma agenda positiva o mais rápido possível. Sem um apoio integral da bancada petista no Parlamento, Dilma e seus articuladores sabem que não contarão com a unidade da base aliada.
Estar ao lado de um governo pouco popular já é ruim. Assumir um ônus político que nem mesmo o partido da presidente quer pode representar uma demanda grande demais aos parlamentares que terão de dar as caras em suas bases eleitorais para disputar alguma prefeitura no ano que vem, eleger aliados ou preparar o terreno para o pleito de 2018. Pemedebistas fazem questão de pontuar que a capilaridade conquistada nas eleições locais é o ativo responsável por deixar a sigla bem posicionada na cena política nacional.
Alas majoritárias dos partidos aliados não têm a convicção de que o impeachment seria um movimento em que todos sairiam ganhando a médio e longo prazos. "E depois do impeachment?", perguntam-se alguns desses líderes, lembrando que seria necessária a formação de uma maioria no Congresso para a aprovação de medidas impopulares.
Assim, a presidente Dilma chega ao fim do primeiro ano do seu novo mandato: sem grandes realizações a ostentar, pressionada por uma possível abertura de processo de impeachment e um ajuste fiscal a concluir. Terá ainda de verificar dia a dia se essa ponderação feita por integrantes da base aliada se trata mesmo de uma reflexão sobre o custo-benefício do impeachment ou um discurso para justificar o enfraquecimento do movimento favorável ao seu afastamento.
"Eles quebraram o país duas vezes", insistiu à exaustão o slogan petista nas últimas disputas eleitorais, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à frente. Dilma foi além: "Eles quebraram o país três vezes", reforçava a presidente na campanha à reeleição, acrescentando que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso entregara ao seu sucessor um país "desequilibrado, com desemprego bastante elevado, numa situação muito precária". O cenário atual não é muito diferente do descrito por Dilma, e ninguém quer ser o "eles que quebraram o país" nos próximos pleitos.
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