• Principal investigação da Lava-Jato autorizada pelo STF reúne 39 pessoas, incluindo políticos como Renan
Vinicius Sassine e Eduardo Bresciani - O Globo
BRASÍLIA - A prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), a apreensão de novos documentos na operação e a delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró vão dar novo impulso ao maior inquérito da Lava-Jato aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar autoridades com foro privilegiado. Instaurado há quase nove meses, o inquérito investiga 39 pessoas e é considerado o principal dentre os autorizados pelo STF por conectar os políticos citados num mesmo crime: o de formação de quadrilha.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) acredita que os documentos recolhidos por ocasião da detenção do senador vão fornecer informações novas ao inquérito, assim como a delação premiada de Cerveró, fechada no último dia 18.
O cerne desse inquérito-mãe é detalhar a participação dos partidos nas diretorias da Petrobras e apurar se parlamentares agiram em quadrilha para se beneficiar dos desvios da estatal. A investigação será a oportunidade para o STF decidir, quando houver denúncia, se as autoridades integraram organização criminosa.
O PT controlou a Diretoria de Serviços; o PMDB, a Diretoria Internacional; e o PP, a Diretoria de Abastecimento. O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, denunciado e preso em Curitiba, foi incluído no inquérito no STF para avançar na apuração sobre a participação de parlamentares petistas. A cúpula do PMDB no Senado — o presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), Edison Lobão (MA), Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO) — também é investigada, suspeita de agir no Congresso para garantir apoio ao ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e de controlar a área internacional. O PP tem 31 dos 39 investigados no inquérito, entre eles o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI). O lobista Fernando Baiano, operador do PMDB, integra o grupo dos 39.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidiu conectar os procedimentos relacionados a Delcídio a esse inquérito-mãe. “Os fatos tratados são conexos com os fatos que constituem o objeto do inquérito número 3989 e que envolvem diversos parlamentares em esquema criminoso montado dentro da Petrobras, com pagamentos periódicos de propina. Esse esquema se instaurou especialmente na Diretoria de Abastecimento, na Diretoria de Serviços e na Diretoria Internacional da Petrobras e contava com a participação de grupos de políticos ligados a pelo menos três partidos: PT, PMDB e PP”, escreveu o procurador-geral nos pedidos de busca autorizados pelo STF na semana passada.
Janot ressaltou como a delação de Cerveró vai contribuir para as investigações: “Os fatos relatados por Nestor Cerveró em sua colaboração, na qualidade de ex-diretor da Diretoria Internacional, são de enorme relevância para as investigações do inquérito 3989.” As buscas feitas na casa e no gabinete de Delcídio no Senado, e as apreensões relacionadas aos outros investigados, “também permitirão colher outros elementos que reforcem a participação deles e de terceiros no esquema de corrupção instalado na Petrobras”, em especial o que é investigado no inquérito 3989.
Delcídio foi preso na quartafeira por decisão do STF. Em conversa gravada pelo filho de Cerveró, Bernardo, o senador prometeu interceder junto ao STF pela liberdade do ex-diretor e discutiu um plano de fuga para Cerveró. Delcídio prometeu ainda o pagamento de R$ 4 milhões em honorários para o advogado Edson Ribeiro e uma mesada de R$ 50 mil para a família do ex-diretor, que seria paga pelo banqueiro André Esteves, do BTG Pactual. Ribeiro e Esteves foram presos. O objetivo do senador e do banqueiro, conforme as provas recolhidas pela PGR, era livrarem-se da delação de Cerveró.
Do áudio gravado por Bernardo, Delcídio afirmou que, no rascunho da delação, há citação a Renan e ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA) como beneficiários de recursos desviados.
PGR estudava arquivamento
O impulso novo ao inquérito ocorre num momento em que a PGR já decidiu promover arquivamentos em relação a alguns dos parlamentares citados, segundo fontes com acesso às investigações. Faltam provas sobre o envolvimento de todos os investigados.
Boa parte dos políticos do PP, por exemplo, foi incluída no inquérito devido a citações do doleiro Alberto Youssef de que eles recebiam mesada do esquema. Em depoimento em julho, porém, o doleiro deixou de dar detalhes sobre como seria o suposto recebimento de propina. Youssef citou como único motivo para tê-los incluído o fato de constarem em uma lista que lhe era repassada pela cúpula do partido.
Questionado no depoimento se os nomes de outros deputados poderiam ter sido incluídos só para que a cúpula recebesse mais repasses, o doleiro disse que não se pode duvidar disso. “Dessa gente pode-se esperar tudo”, registra o termo de depoimento do doleiro.
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