• Petistas se reunirão para definir posição e dizem que país é mais importante que deputado
Júnia Gama, Isabel Braga e Leticia Fernandes - O Globo
-BRASÍLIA- Na véspera da data prevista para a votação do relatório pela admissibilidade do processo de cassação do mandato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o Conselho de Ética está dividido e os votos do PT, com três deputados no colegiado, serão determinantes para a decisão. Se até a semana passada os três petistas diziam que votariam pela continuidade do processo, ontem, um deles, Zé Geraldo (PT-PA), afirmou que o grupo fará uma nova reunião hoje para avaliar qual a melhor posição. A pressão sobre os deputados aumentou ontem, quando Cunha, alvo de nova acusação do Ministério Público, disse que adiaria a decisão sobre os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que prometera entregar até o fim de novembro.
Em coletiva para rechaçar que teria feito emenda a uma MP para beneficiar o BTG Pactual, Cunha chegou a insinuar que o vazamento de uma anotação, no domingo à noite, que o ligava a um suposto benefício ao banco, poderia estar relacionado às declarações que deu na semana passada sobre a decisão dos pedidos de impeachment. Indagado se iria decidir ainda ontem sobre os pedidos, o presidente da Câmara disse que não queria confundir essa decisão com o assunto da emenda.
— Vou me debruçar sobre isso, mas primeiro esse outro assunto tem que ficar muito claro para não confundir minha decisão. Eu acho até que o fato de eu ter anunciado que ia decidir hoje (ontem) pode ter motivado isso. É importante a gente aguardar. Então, provavelmente, eu não decidirei hoje (ontem) em função disso. Mas é minha intenção decidir — justificou o presidente.
Os aliados do presidente da Câmara apostam que, fragilizados, os petistas ajudem a garantir a derrota do relatório de Fausto Pinato (PRB-SP). O impeachment continua sendo usado como arma por aliados e pelo presidente.
Apenas um dos três petistas, Léo de Brito (PT-AC), confirmou ontem que votará pela admissibilidade do processo. Procurado, o terceiro deputado do PT no conselho, Valmir Prascidelli (SP), não foi localizado. Preocupado com a situação do governo depois da prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), Zé Geraldo disse ontem ao GLOBO que os três petistas ficarão “confinados” durante toda a manhã de hoje decidindo um voto unificado. O deputado acredita que, agora que o Senado também está fragilizado, a prioridade é aprovar os projetos de interesse do governo em detrimento de confrontar Cunha.
— A essa altura do campeonato, Eduardo Cunha é coisa pequena. Temos que pensar no Brasil. Mesmo que a gente vote pela abertura, isso só vai ser resolvido em maio. Se o Supremo quiser, pode afastá-lo imediatamente. O que é melhor para o Brasil, impeachment ou o Eduardo Cunha? — questionou, resumindo o humor dos petistas: — O que se pode dizer é que os fatos da semana passada nos colocam a refletir um pouco mais.
Três votos indefinidos
Nas contas de aliados de Cunha, ele teria nove votos certos dos onze necessários para engavetar o processo. Por este motivo, precisaria apenas de dois votos do PT para obter maioria. Os votos tidos como certos seriam dos dois deputados do PP, dois do PR, dois do PMDB, um do PSC, um do Solidariedade e outro do PSD.
Há, porém, três votos sobre os quais há dúvidas. O deputado Bebeto (PSB-BA), que substituirá Júlio Delgado (PSB-MG) — que está em missão oficial em Israel —, é uma incógnita. Apesar de o PSB ter uma posição pelo afastamento de Cunha e de, segundo Delgado, ter combinado com o colega o voto pela continuação do processo, Bebeto é ligado à Força Sindical na Bahia, entidade que defende o impeachment da presidente.
Segundo o presidente da Força Sindical, deputado Paulinho da Força (SD-SP), a tendência é que Bebeto vote para salvar Cunha caso haja uma sinalização do presidente da Casa de que dará prosseguimento a um dos pedidos de impeachment de Dilma. Paulo Azi (DEM-BA), apesar de dizer a aliados que tende a votar pela continuidade do processo, poderia voltar atrás pelo mesmo motivo de Bebeto.
Manobra por adiamento
Há ainda a possibilidade de o conselho não votar hoje. Aliados de Cunha podem prolongar os discursos após a apresentação da defesa pelo advogado Marcelo Nobre, até que a ordem do dia na Câmara seja aberta. Nesta hipótese, o presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), disse que já reservou plenário para assegurar a votação no dia seguinte.
Segundo relatos, Cunha estava otimista sobre à possibilidade de escapar da admissibilidade do processo. Ontem, ele almoçou com o vice-presidente Michel Temer, a quem relatou acreditar ter votos suficientes para arquivar o processo nesta fase preliminar. Cunha aproveitou para reclamar do governo, a quem atribui a denúncia, de que teria recebido R$ 45 milhões para favorecer o BTG Pactual na aprovação de uma MP.
Temer é o interlocutor entre Cunha e o governo, por meio do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. Ontem, Wagner pediu notícias a Temer sobre o impeachment, mas ouviu que o assunto não havia sido tratado. Um episódio revelado ontem pelo jornal “A Tarde” contribuiu para aumentar o mal-estar entre Cunha e o governo. Segundo a publicação, em evento na Bahia, a mulher de Wagner disse ao presidente do Conselho de Ética para cassar “aquele corrupto do Eduardo Cunha”.
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