A pesquisa Datafolha publicada no final de semana mostrou, de maneira inequívoca, o quanto os brasileiros consideram abominável o atual quadro político do país.
Já não se trata apenas de constatar a péssima avaliação da presidente Dilma Rousseff (PT). Tendo seu governo reprovado por 67% dos entrevistados –uma oscilação positiva em relação aos 71% de agosto–, a petista registra índice comparável somente aos 68% de Fernando Collor (então no PRN) às vésperas do impeachment.
A rejeição ao governo federal é tamanha que não se contém na figura de Dilma; transborda para um ex-presidente Lula (PT) incapaz de refrear a contínua dilapidação de seu patrimônio eleitoral.
Não há sinais da taxa recorde de aprovação (83%) com que Lula encerrou seu segundo mandato. Nas simulações de disputa presidencial, o petista luta pelo segundo lugar na preferência dos eleitores; em três hipóteses de segundo turno, se a votação fosse hoje, sofreria derrotas incontestáveis de Aécio Neves (PSDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede).
Vão além das fileiras petistas, entretanto, as evidências de degradação política. O próprio Congresso vê-se tragado pela crise que ajudou a engendrar. Chega a 53% a fatia dos que julgam ruim ou péssimo o trabalho dos parlamentares, pior desempenho desde 1993.
Há, ademais, o caso de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), adversário declarado do governo Dilma. Acusado de corrupção, o presidente da Câmara deveria perder o mandato na opinião de 81% dos entrevistados.
Uma deterioração dessa magnitude dificilmente seria produzida por um único fator. A depressão na economia decerto constitui parte da explicação. Não explica tudo, porém; o desemprego não voltou ao posto de principal problema do país, como acontecia antes de 2007 –quando foi superado pela violência e depois pela saúde.
Pela primeira vez, essa lista é encabeçada de forma isolada pela corrupção, maior objeto de preocupação para 34% dos entrevistados pelo Datafolha. A saúde aparece em segundo lugar, com 16%.
Nunca é possível dizer com certeza se a corrupção aumentou ou diminuiu; quando bem-sucedidas, as quadrilhas que assaltam os cofres públicos passam despercebidas.
Pode-se afirmar, no entanto, que nunca se conheceram tantos e tamanhos esquemas de pilhagem como agora, quando as operações Lava Jato e Zelotes revelam a desfaçatez com que agiam os corruptos.
A população nitidamente se cansou dessa indecência. Talvez, num sinal de amadurecimento democrático, ganhe corpo a percepção de que o dinheiro desviado saiu, afinal, do bolso do contribuinte.
Seja como for, em meio ao desalento pode-se vislumbrar uma esperança. Como diz Sergio Moro, magistrado encarregado da Lava Jato, "o que o juiz pode fazer é muito limitado sem o apoio da opinião pública". O Datafolha atesta que a Justiça jamais teve tanto apoio.
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