• Base será a Lei Maria da Penha, por agressão de secretário de Paes à ex-mulher
Jailton de Carvalho e Marco Grillo - O Globo
-BRASÍLIA E RIO- O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai pedir abertura de inquérito contra o secretário municipal de Coordenação de Governo do Rio, Pedro Paulo Carvalho, pela agressão à ex-mulher Alexandra Marcondes. O pedido será apresentado ainda nesta semana ao Supremo Tribunal Federal (STF), e terá como base a Lei Maria da Penha.
Os autos das investigações, que começaram no Rio, foram encaminhados à PGR há duas semanas. Pedro Paulo é o indicado do prefeito do Rio, Eduardo Paes, para sucedê-lo. O episódio levou o secretário a dar uma entrevista, ao lado da exmulher, para dizer que a agressão ocorrida em 2010 e registrada na polícia não passou de briga de casal.
Em depoimento à Polícia Civil, no mesmo ano, Alexandra afirmou que o secretário ameaçou “sumir” com a filha do casal. Um boletim de ocorrência registrado por Alexandra, em 2008, relata outro caso de agressão, dentro de um carro.
Ameaça a morador
Pedro Paulo também é acusado de ter ameaçado e dado um tapa em um morador do Morro Camarista Méier, em agosto do ano passado, durante um evento de sua campanha a deputado federal. O boletim de ocorrência, o quarto a surgir envolvendo episódios de violência do secretário, foi registrado na 26ª DP (Todos os Santos). O teor do registro na Polícia Civil foi revelado ontem pela revista “Veja” e confirmado pelo GLOBO. Pedro Paulo diz que desconhece o episódio.
O fotógrafo André Luís Bezerra diz que Pedro Paulo estava em campanha na comunidade quando alguns moradores afirmaram que ele fazia “propaganda enganosa”, ao dizer que era o responsável por obras de pavimentação em três ruas. De acordo com os moradores, as intervenções tinham sido feitas a pedido de outro deputado.
Ao perceber que Bezerra filmava tudo, Pedro Paulo se irritou e, segundo o depoimento, determinou que as imagens fossem apagadas. “Pedro Paulo me ordenou, com o dedo na minha cara e dizendo: ‘apaga essa porra, você está maluco? Você quer me ferrar’”, diz um trecho do relato. O fotógrafo conta que levou um tapa no peito e que o secretário arrancou o celular da sua mão. Bezerra, que colabora com textos e fotos para algumas publicações e se define como “repórter comunitário”, mostrou uma carteira da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
— Ele me disse que ia jogar o telefone no chão, mas eu pedi para ele me devolver e disse que ele estava agredindo um profissional de imprensa. Quando peguei o celular de volta, falei que era comprado com meu trabalho e não com dinheiro sujo da política — disse Bezerra ao GLOBO.
Em seguida, o morador diz que foi cercado por assessores e obrigado a apagar a gravação. Antes de ir embora, Pedro Paulo ainda fez ameaças, segundo Bezerra.
— Ele me disse: “Toma cuidado, porque você mora aqui (no Camarista Méier) e tem família aqui”. E se fosse o contrário, se eu tivesse dado um tapa nele? Minha vida estaria virada do avesso, eu poderia até estar preso — afirmou.
O caso foi registrado como tentativa de agressão e ameaça. Bezerra disse que o delegado pediu a ele que levantasse a camisa e, como não constatou uma marca evidente, afirmou que não poderia registrar o episódio como lesão corporal. Pedro Paulo estava acompanhado do administrador regional do Grande Méier, André Ferraz, então candidato a deputado estadual. Segundo Bezerra, Ferraz também teria feito ameaças.
Secretário nega episódio
O inquérito envolvendo Pedro Paulo foi remetido à PF e, posteriormente, à Procuradoria-Geral da República, já que ele é deputado federal. Atualmente, o caso está sendo analisado pela assessoria jurídica criminal do gabinete de Janot.
Em nota, Pedro Paulo afirmou que “desconhece e nunca foi notificado sobre o episódio”. Ferraz não foi encontrado até o fechamento desta edição.
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