• Ministro da Fazenda anunciará medidas de curto prazo para tentar ‘ dividir responsabilidades’
Simone Iglesias, Júnia Gama e Martha Beck - O Globo
- BRASÍLIA- Antes de embarcar ontem para Quito, onde participaria da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, a presidente Dilma Rousseff reuniu em seu gabinete oito ministros para discutir como será a reunião de retomada do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado Conselhão, amanhã à tarde. Dilma está preparando um discurso pró-diálogo, com convocação à unidade nacional como forma de superar a crise. Ela deverá fazer uma referência à necessidade de os interesses do país estarem acima das questões pessoais e vai reforçar a importância do ajuste fiscal e de medidas para recuperar a economia.
— Queremos discutir a realidade sem ufanismo. Vivemos uma realidade difícil e desafiadora. A presidente tem que fazer uma fala harmoniosa e de chamamento caloroso a pontos de convergência. Será uma reunião de debate, sem censura — disse ao GLOBO um ministro que está participando da elaboração da reunião.
Segundo um dos elaboradores do encontro, a ideia é proporcionar um ambiente de maior interação do governo com os vários setores da economia e “dividir a responsabilidade” pela recuperação do país. Há uma constatação de que o governo, sozinho, não tem fôlego para sair da crise e, por isso, é preciso estimular as parcerias entre o setor público e o privado, tanto na formulação de soluções, quanto na execução de medidas.
Entre os auxiliares presidenciais, a expectativa é que Dilma esteja, de fato, aberta a ouvir opiniões e críticas dos 90 integrantes do Conselho. A presidente tem acenado sistematicamente com o diálogo, mas isso acaba não se concretizando. Há otimismo em relação ao formato do encontro porque os discursos dos integrantes do governo serão abreviados para garantir a palavra a representantes dos empresários, trabalhadores e da sociedade civil.
Entre os ministros que falarão estão Nelson Barbosa (Fazenda), Kátia Abreu (Agricultura), Armando Monteiro ( Indústria e Comércio), Valdir Simão ( Planejamento) e Alexandre Tombini ( Banco Central). Os discursos irão variar de cinco a 20 minutos para a reunião não se transformar num monólogo governamental.
— Não queremos passar a mensagem de que o governo só quer falar. Temos que passar a mensagem de que o governo quer ouvir a sociedade para poder recuperar o instinto animal dos empresários — disse um integrante da equipe econômica.
Reforma da previdência em pauta
A ideia do governo é que o Conselhão se reúna quatro vezes neste ano, e que ocorram ainda outros encontros de grupos de trabalhos divididos por setores da economia. A intenção do Planalto é fazer com que todas as principais medidas econômicas a serem adotadas daqui para a frente passem pelo colegiado, rompendo com o receituário de Dilma de anunciar medidas sem discussão prévia, o que só ampliou seu desgaste e a crise que seu governo enfrenta.
A reunião deverá ser dividida em dois momentos: no primeiro, Barbosa anunciará medidas de curto prazo para tentar aquecer a economia, entre elas, novas linhas de crédito a microempresários e exportadores pelos bancos públicos, e a agilização da liberação do uso do FIFGTS por empresas para obras. Entre as linhas de crédito, haverá uma específica para o embarque de produtos que serão exportados.
Na segunda etapa, alguns dos 90 conselheiros convidados, entre eles os empresários Luiz Trabuco, Abílio Diniz, Josué Gomes e Jorge Paulo Lemann, deverão ser ouvidos sobre os rumos do país. Apesar dos anúncios de Barbosa, o governo quer evitar a percepção de que chegará ao encontro com um “prato pronto” de medidas.
Ideias mais complexas, como a Reforma da Previdência e a recriação da CPMF, por exemplo, serão colocadas para debate. Segundo interlocutores da presidente, há uma percepção de que os empresários estão preocupados com os rumos do país e que melhor do que assistir passivamente à ampliação da crise, os que aceitaram integrar o Conselhão buscarão ajudar na adoção de medidas que melhorem as perspectivas.
A fala de Barbosa está sendo costurada para que o ministro faça uma análise do quadro econômico atual, ressaltando seus desafios, mas passando a mensagem de que o crescimento pode ser retomado no último trimestre de 2016. O ministro também voltará a falar na reforma fiscal de longo prazo e na importância de avanços na reforma da Previdência.
Na mesma linha de ampliação do diálogo, ministros próximos a Dilma estão defendendo que a presidente vá ao Congresso para a abertura dos trabalhos na próxima semana. Dilma, porém, ainda não decidiu se irá comparecer. Mais que levar um pacote fechado de medidas que o governo gostaria de ver aprovadas, a presidente deveria, na avaliação de seus auxiliares, aumentar sua exposição para reforçar a imagem de que está empenhada no enfrentamento da crise.
— Neste momento, a presidente Dilma tem que ser expor ao máximo. Não adianta levar propostas fechadas, como uma reforma da Previdência, sem negociar antes. E ela deve mostrar que está aberta ao diálogo — afirma um assessor presidencial.
O núcleo do Palácio também defende que Dilma faça acenos mais significativos à oposição. Há uma série de nomes citados por pessoas próximas à presidente com quem ela poderia iniciar esse diálogo. Entre eles, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os governadores tucanos Beto Richa (PR) e Geraldo Alckmin ( SP).
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