Isadora Peron, Daniel Carvalho, Carla Araujo e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo
O PMDB saiu ontem em defesa do ministro da Saúde, Marcelo Castro, cujo desgaste tem se ampliado por causa das declarações polêmicas e do avanço das epidemias de dengue e de zika no País. O presidente da República em exercício, Michel Temer, que assumiu ontem o cargo após viagem da presidente Dilma Rousseff ao Equador, disse em breve entrevista que Castro “merece” continuar no comando da pasta.
Questionado se Castro continuava firme e forte no cargo, ele respondeu: “Eu acho que ele merece (continuar)”. O vice, entretanto, evitou comentar as recentes declarações do ministro. Anteontem, Castro disse que o governo estava “perdendo feio” a guerra contra o Aedes aegypti. “Isso é uma questão da Saúde”, afirmou Temer.
Durante todo o dia de ontem, a avaliação dentro do partido foi de que Castro está sendo alvo de setores do PT, que, para eles, não aceitaram a perda do comando da pasta e tentam “fritar” o ministro e jogar a responsabilidade da epidemia de dengue e de zika no colo do PMDB.
Até o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafeto do governo, do próprio Castro e defensor da saída do PMDB da gestão Dilma Rousseff, saiu em apoio ao atual ministro. “Eles sempre querem jogar no colo dos outros seus problemas. Esse mosquito está aí há muito tempo e não fizeram nada contra ele”, afirmou.
Deputados antigoverno reforçaram as acusações. “Querem que em 30, 60 dias ele já tenha condições de mostrar resultado. Acredito no trabalho dele mais para frente. Não é simplesmente ligar ou desligar uma tomada. O PT não aceitou até agora perder o ministério e avança neste sentido de exigir a resolução em tão pouco tempo”, disse Carlos Marun (PMDB-MS).
“Já tem mais de uma década que o PT comanda a Saúde. O mosquito é petista. E, se Marcelo tiver que sair porque não é um grande frasista, é mais um motivo para a presidente Dilma sofrer impeachment”, afirmou Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), comparando as polêmicas frases de Marcelo Castro a declarações da presidente Dilma.
Congresso. O desgaste de Castro avançou até mesmo sobre a acirrada disputa pela liderança da sigla na Câmara. Hugo Motta (PB), candidato de Cunha, manifestou-se logo cedo pelo Twitter. “Bom dia amigos, quero registrar o nosso apoio e confiança no trabalho do ministro Marcelo Castro a frente do Ministério da Saúde”, afirmou.
Já o atual líder e responsável pela indicação de Castro, Leonardo Picciani (RJ), foi pessoalmente ao Ministério da Saúde conversar com seu correligionário. “São setores que trabalham contra a aliança do PMDB e do governo que tentam instalar uma crise que não existe”, afirmou Picciani, aliado do governo.
Aliados do ministro afirmam que ele pretende evitar dar declarações polêmicas para se manter na pasta. A avaliação é de que o ministro, chamado por correligionários de “frasista” e “folclórico”, precisa se preservar para evitar que Dilma decida trocá-lo em meio à crise provocada pelo aumento do número de casos de dengue e zika no País. Ao deixar o ministério no fim da manhã, Castro disse em tom de brincadeira que havia sido proibido de dar declarações por sua assessoria de imprensa.
‘Hibernação’. A situação do ministro se agravou depois que, anteontem, ele repetiu que o governo estava “perdendo feio” a guerra contra o mosquito da dengue. O ministro, segundo aliados, deve entrar numa fase de “hibernação” para impedir que saia da pasta, para a qual foi designado em outubro. Desde a posse ele coleciona declarações polêmicas – na ocasião, defendeu a cobrança da CPMF “no crédito e no débito”.
Apesar de reconhecer que as recentes declarações do ministro da Saúde foram “infelizes”, a presidente Dilma Rousseff decidiu dar mais prazo para Castro mostrar serviço. O Planalto teme uma nova e mais intensa crise com Temer e o PMDB.
A avaliação inicial é de que a costura política para que ele chegasse ao cargo foi difícil e ainda não houve tempo hábil para que o peemedebista faça seu trabalho no ministério.
Nenhum comentário:
Postar um comentário