• Delator diz que ex-ministro fez 113 voos em seus jatos como parte de propina
• Petista será interrogado pela primeira vez pelo juiz da Lava- Jato, Sérgio Moro, na sexta-feira, e, segundo seu advogado, poderá revelar nomes para se defender de acusações que pesam contra ele
Preso há seis meses pela Lava- Jato, o ex-ministro José Dirceu será ouvido pela primeira vez pelo juiz Sérgio Moro na sexta- feira, quando pretende “se defender e contestar” as acusações que pesam contra ele, segundo seu advogado Odel Antun. “O que pode acontecer é surgirem nomes”, diz o advogado, afirmando que Dirceu vai confirmar declaração do delator Fernando Moura de que foi o diretório do PT de São Paulo, e não ele, quem indicou o ex-diretor da Petrobras Renato Duque para o cargo. O presidente do PT- SP na época, Paulo Frateschi, reagiu e disse desconhecer Duque. Outro delator, Júlio Camargo, contou que Dirceu usou seus jatinhos 113 vezes, em 2010 e 2011, como pagamento de propina por desvios na Petrobras.
PT na mira de Dirceu
• Estratégia do ex-ministro é atribuir ao partido, e não a ele, indicação para direção da Petrobras
Cleide Carvalho – O Globo
- CURITIBA, SÃO PAULO e BRASÍLIA- O ex- ministro José Dirceu decidiu se defender abertamente das acusações contra ele na Operação Lava- Jato, estratégia que poderá atingir o PT. Segundo sua defesa, ele deverá confirmar ao juiz Sérgio Moro, em audiência marcada para sexta- feira, que a indicação de Renato Duque para a Diretoria de Serviços da Petrobras partiu do diretório estadual do PT de São Paulo, e não dele. Essa versão, que compromete a cúpula petista, foi dada pelo lobista Fernando Moura em depoimento a Moro semana passada.
Quem teria articulado a nomeação de Duque teria sido o então secretário-geral do partido, Sílvio Pereira. Em depoimento à Justiça na última sexta-feira, Moura disse que Dirceu só foi chamado à reunião onde foram decididos os nomes que comandariam a Petrobras para desempatar a disputa entre Duque e Irani Varella, que já era diretor de Serviços da Petrobras no governo Fernando Henrique.
— Ele não vai denunciar ninguém. Vai se defender e contestar. O que pode acontecer é surgirem nomes. Milton Pascowitch mentiu. Ele usava o nome do Zé (José Dirceu). Quem estava com milhões e teve de devolver foi ele. Com o Zé não foi encontrado dinheiro nenhum. Se o Dirceu não tinha dinheiro, onde está o dinheiro que dizem que foi para ele? Ele prestou serviços de consultoria e recebeu. O resto foi ajuda dada pelo Milton, que nunca falou que era dinheiro de propina — disse Odel Antun, advogado do ex-ministro.
Defesa diz que Milton Pascowitch mentiu
Segundo o advogado, ao contrário de outros acusados na Lava- Jato, Dirceu se defenderá de todas as acusações que lhe são feitas, principalmente pelo delator Milton Pascowitch. O advogado afirmou que há contradições nos depoimentos dos delatores que envolvem o ex-ministro nas irregularidades da Petrobras e que a defesa usará o depoimento de Moura, que, segundo ele, “mostra claramente que Dirceu não participou da indicação”.
— Toda a denúncia é fundada na informação de que Dirceu indicou Duque para o cargo, e que isso permitiu que fosse feito o gerenciamento de propina. Mas o depoimento do Fernando Moura, um dos delatores, mostra que não foi ele quem indicou. Ele não conhecia nenhum dos indicados, todos lhe eram desconhecidos. Foi o diretório do PT de São Paulo que indicou — afirmou Antun.
Na última sexta-feira, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Moura afirmou que Sílvio Pereira e Delúbio Soares, então tesoureiro do PT, sonhavam com cargos altos. Sílvio, com a presidência dos Correios; Delúbio, com a do BNDES.
Ao juiz, Moura disse que no final de 2002, após a vitória do PT nas eleições presidenciais, havia dois indicados à Diretoria de Serviços da Petrobras. Duque, levado por Silvio, por sugestão do empresário Licínio de Oliveira Machado Filho, da Etesco; e Varella, indicado por Delúbio, por recomendação de Dimas Toledo, que foi diretor de Furnas no governo FH e seria ligado ao senador Aécio Neves (PSDB- MG).
Nas escolhas dos nomes, segundo teria relatado Sílvio a Moura, estavam presentes o próprio Sílvio; Delúbio; José Eduardo Dutra (falecido em 2014), que assumiu a presidência da Petrobras em 2003; Luiz Gushiken, ex-secretário de Comunicação (também já falecido); e a presidente Dilma Rousseff, na época integrante da equipe de transição.
O lobista disse que o impasse só foi resolvido após Dirceu saber quem indicara Duque e Varella. Moura contou que Delúbio não queria dizer que a indicação de Varella era dele e a atribuiu a Aécio Neves. Chamado a opinar entre os dois e a desempatar a decisão, Dirceu teria decidido por Duque, argumentado que Aécio já havia sido favorecido: “O Aécio já foi contemplado com a indicação do Dimas. Então, fica o Duque”, teria dito Dirceu segundo depoimento do lobista.
Dimas Toledo havia sido mantido no cargo pelo PT e só deixou Furnas no governo Lula, envolvido no escândalo conhecido como “a lista de Furnas”, pagamento de propina para beneficiar políticos.
Perguntado se Dirceu está disposto a denunciar outros nomes do PT e quem no diretório de São Paulo estaria aliado a Sílvio Pereira, o advogado afirmou que não conversou com seu cliente após o depoimento de Moura. Por isso, afirmou, não sabe dizer se Dirceu citará outros nomes
Paulo Frateschi, que presidia o Diretório do PT em São Paulo em 2002, negou ter participado da escolha de Duque:
— Nem conheço o Duque, nunca vi. Não fui eu, não participei de nada disso — disse.
Segundo o petista, a direção paulista indicou, na época, nomes apenas para cargos de representação do governo federal no estado.
— Tinha alguns cargos que eram do governo federal em São Paulo. Fazíamos sugestões para esses cargos. Algumas foram acatadas, outras não. (Colaboraram Letícia Fernandes e Sérgio Roxo)
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