- Folha de S. Paulo
O PT faz mais e mais questão de mostrar que não tolera Dilma 2. A divergência tornou-se mais explícita no reinício do ano político e ora descamba para insultos. Nesta semana, o partido enfureceu-se com a mudança na lei do pré-sal e hoje lança um programa econômico de oposição (sic).
Ainda que não dê em divórcio, a querela foi longe o bastante para resultar ou em desmoralização do PT, caso o partido engula as críticas cada vez mais fortes que faz, ou em derrotas cruciais do governo no Congresso, pois sem o PT dificilmente passarão mesmo as parcas reformas que talvez Dilma Rousseff venha a propor.
Alguém pode sugerir que o PT não tem alternativa a não ser permanecer no (seu!) governo e fazer um jogo de esquerda "para a galera". Poderia ser, caso o partido não precisasse tomar uma atitude prática diante das reformas "neoliberais" que o governo Dilma cozinha.
Se aceitá-las, o PT se desmoraliza diante do espelho, das "bases" e dos movimentos sociais. Se disser não, derrota o governo.
Um motivo recente de discórdia feia foi a reforma menor da lei do pré-sal, no Senado, mudança que dá fim à exigência de que a Petrobras invista nos campos do pré-sal.
Lideranças petistas dizem nas internas que o governo "traiu" o partido. Alguns falam em "jogo duplo": em público, o governo se opunha à mudança "entreguista"; nas internas, negociava com a oposição.
O PT do Rio, onde ocorre hoje e amanhã uma reunião do partido, praticamente declarou Dilma Rousseff "persona non grata"; a presidente tampouco quer ver a turma.
O presidente do PT, Rui Falcão, soltou nota em que qualifica a mudança no pré-sal de "retrocesso", e mais: "O PT marchará ao lado das demais forças progressistas, dos movimentos populares e sindicais contra este ataque à soberania nacional e ao nosso desenvolvimento independente."
Não diz palavra sobre o governo mas, dado o contexto de fúria no PT e nos movimentos sociais, a nota coloca o partido na terceira margem do rio: se não está na oposição, não está também no governo.
O motivo maior da pendenga é a ainda vaporosa promessa de reforma da política econômica, que inclui uma vaga reforma da Previdência e um teto para o gasto público, medida que pode redundar em contenção do reajuste do salário mínimo e das aposentadorias.
Ainda que se trate de vaga intenção, essa reforma será detonada hoje por um plano alternativo do PT, de fato um programa econômico de oposição ao governo da presidente petista: "O futuro está na retomada das mudanças".
Nesse rascunho, que será discutido no encontro do partido, criticam-se reformas e propõem-se coisas como: 1) Redução da taxa básica de juros quase pela metade; 2) Uso das reservas internacionais para investimentos em moradia, saneamento e transporte; 3) Mais impostos sobre os mais ricos, sobre lucros e dividendos e sobre grandes fortunas, redução de impostos para a classe média; 4) Aumento de 20% do Bolsa Família.
Em suma, trata-se de retomar e aprofundar o caminho dos anos Lula, que, segundo o documento, era o do desenvolvimento acelerado pela redistribuição de renda e a "construção de grande mercado de massas".
Trata-se, sim, de tirar o resto de apoio que tem Dilma Rousseff.
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