Por Raymundo Costa, Leandra Peres, Bruno Peres, Vandson Lima e Lucas Marchesini – Valor Econômico
BRASÍLIA - Às vésperas da reunião do diretório nacional, os principais líderes do PMDB decidiram que o rompimento do partido com o governo será feito hoje por aclamação. A decisão é um sinal de força do vice-presidente Michel Temer (SP), eventual substituto da presidente Dilma Rousseff na hipótese de aprovação o impeachment, e não foi modificada mesmo depois do encontro do vice com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anteontem, no aeroporto de Congonhas.
Ontem, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, entregou a carta de demissão. A saída dos outros seis ministros pemedebistas e a entrega dos demais cargos do partido deve ocorrer até 12 de abril. Essa foi a contrapartida encontrada para satisfazer também a ala governista do PMDB, que pretendia discutir o rompimento apenas em meados do próximo mês.
A ruptura do PMDB é o primeiro passo de um processo que deve levar o partido a aprovar o voto pelo impeachment da presidente da República. Mas também é uma condição para que o partido tenha legitimidade nas negociações de um novo governo. O entendimento é que o PMDB precisará demonstrar união para conversar com os partidos da oposição, que serão fundamentais para a sustentação de um governo de transição pemedebista.
Ontem, o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), afirmou que o eventual afastamento de Dilma não garantirá a estabilidade política almejada por alguns setores da sociedade. Segundo ele, movimentos sociais alinhados ao governo não aceitarão passivamente o impeachment. "Certamente, a julgar pela fome de poder daqueles que estão conduzindo o impeachment, certamente a próxima vítima seria o Temer", acrescentou.
Mesmo assim, o governo ainda não desistiu de buscar no partido votos para impedir o afastamento da presidente. O Palácio do Planalto ainda achava que poderia contar com uma parcela pequena de dissidentes pemedebistas. Mas o pedido de demissão do ministro do Turismo, na noite de ontem, foi visto como um sinal de que a decisão do PMDB tem mais apoio interno que parecia à primeira vista. Alves é um dos ministros mais próximos a Temer e, dos sete pemedebistas que integram o ministério, é o de maior influência na bancada do partido na Câmara dos Deputados, onde já foi líder e presidente da Casa.
"Estou certo de que, sendo a senhora alguém que preza acima de tudo a coerência ideológica e a lealdade ao seu próprio partido, entenderá a minha decisão", disse Alves em carta entregue à Casa Civil no começo da noite.
A executiva do PMDB de Minas Gerais também decidiu pela saída do partido do governo em decisão tomada na tarde de ontem em Belo Horizonte. Em Minas, o PMDB é o principal aliado do PT, no governo de Fernando Pimentel.
O rompimento do PMDB já havia sido comunicado ao governo no domingo, quando Temer se encontrou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo. Na conversa, o vice presidente avaliara a situação como "irreversível".
Temer também disse a Lula que o clima de animosidade no partido foi agravado após a nomeação de Mauro Lopes, deputado federal por Minas Gerais, para a Secretaria de Aviação Civil, que contrariou proibição interna do PMDB de novas adesões de filiados ao governo até que o partido se decidisse sobre a permanência no governo. O vice também fez uma avaliação da situação do PMDB em cada Estado, indicando a Lula que havia maioria no partido para deixar o governo.
Para Temer, o encontro com Lula foi importante para demonstrar ao PT que o vice conversa com todos e não apenas com os partidos da oposição. Dias antes, Temer havia se encontrado com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG). Segundo aliados do vice, a conversa com Lula serviu também para que o vice pudesse deixar claro que considera Dilma, e não o ex-presidente, como principal responsável pelos erros do governo.
A saída do PMDB do governo também obedece ao calendário eleitoral. Com a baixa popularidade da presidente, os candidatos nas eleições municipais não querem aparecer como aliados do PT. Isso é especialmente verdade no caso do PMDB do Rio de Janeiro, o mais governista no partido. A relação da presidente Dilma com as lideranças cariocas também fica muito distante do que era com o ex-presidente Lula. Prova disso são as ironias feitas por Paes nas gravações divulgadas pela Polícia Federal. O prefeito do Rio diz que a organização da Olimpíada não tem a mesma graça que tinha com Lula devido ao mau humor da presidente.
Lula desembarcou ontem em Brasília para novas reuniões com Dilma. Acompanhado do presidente nacional do PT, Rui Falcão, Lula insistiria em novas conversas com lideranças do PMDB. Na manhã de ontem, a presidente também voltou a se reunir com os ministros pemedebistas para cobrar apoio e angariar votos nas bancadas contra o impeachment. A viagem da presidente aos Estados Unidos na quinta-feira já é considerada incerta em função da crise. (Colaborou Marcos de Moura e Souza, de Belo Horizonte)
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