• Craque em se manter no poder sem pagar o ônus dele, o partido, se de fato formalizar a saída da base de Dilma, emitirá mais um sinal da fragilidade do Planalto
Confirmada a reunião de hoje do Diretório Nacional do PMDB, quando o partido deverá formalizar a saída da base do governo Dilma, esta terça-feira terá destaque na cronologia do pedido de impeachment da presidente, seja qual for o seu desfecho.
Por ser o PMDB o segundo maior partido da aliança, portanto pilar vital de sustentação do governo, a debandada de peemedebistas, mesmo em parte, funcionará como toque de retirada para legendas menores, como teme o próprio Planalto.
Previsões estatísticas de votação do impeachment mudam como as nuvens. No domingo, O GLOBO trouxe um cenário em que o governo teria, até o último final de semana, 97 votos seguros contra o impedimento, necessitando de mais 75 para atingir os 172 com os quais derrotará a oposição. Esta, com estimados 111 garantidos, ainda precisaria de 231, a fim de atingir os 342 requeridos, dois terços da Casa, para aprovar o impeachment na Câmara e transferir a decisão para o Senado. Uma tarefa que poderá ser muito difícil, pois o Planalto não precisa conseguir exatos 172 votos, basta convencer um punhado de deputados a não comparecer à sessão em que será votado o impeachment. E o Planalto tem vasto arsenal de argumentos inspirados no fisiologismo para retirá-los do plenário nesse dia.
Mesmo assim, há semblantes preocupados no Planalto. O próprio rompimento do PMDB, conduzido pelo vice Michel Temer, é sintomático. Um partido craque em estar no poder, beneficiandose dos bônus sem arcar com os ônus, se decide sair do governo é porque são grandes as chances de uma debacle próxima.
O conhecido princípio de que político se move pelo faro da expectativa do poder se aplica à situação. E o olfato do PMDB é dos melhores da praça: esteve com os tucanos nos oito anos de FH e completa 14 anos com petistas e lulopetistas — ou dez, se retirarmos os quatro de Lula 1, quando o casamento entre o partido e o governo ainda não havia se consumado por inteiro. Se deseja saltar deste comboio é porque algo de muito perigoso apareceu no radar de raposas peemedebistas.
A tensão entre governo Dilma e PMDB vem de longe. Mas a inabilidade da presidente e os erros de seu governo, em especial na economia, ajudaram a afastar o partido, bem como outras legendas.
A esta altura da crise, é visível, nas pesquisas e nas manifestações de rua, o majoritário apoio ao impeachment. Os políticos, claro, sabem disso. E têm sensibilidade para perceber que Dilma perdeu de vez o rumo na tentativa de debelar a crise fiscal, o nó principal que joga a economia na recessão e não dá maiores tréguas na inflação. Ela está em queda, mas se mantém acima do teto da meta.
Ao se curvar à proposta de Lula de aplicar mais do mesmo — mais do “novo marco”, a causa da própria crise —, Dilma, para políticos, encurtou seu prazo de validade.
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